Matemático recebe nova medalha e diz que voltará ao Rio
O matemático iraniano de origem curda, Caucher Birkar, recebeu hoje (4), pela segunda vez, a medalha Fields, considerada o Prêmio Nobel da Matemática, concedida, a cada quatro anos, em edições do Congresso Internacional de Matemáticos (ICM), a quatro cientistas de até 40 anos que se destacam nessa área do conhecimento. Essa foi a primeira vez que o encontro foi realizado no Brasil.
A primeira medalha foi roubada logo após a cerimônia de premiação, no Riocentro, na zona oeste do Rio de Janeiro, na quarta-feira (1º). Na cerimônia deste sábado, o presidente do comitê seleção do prêmio da União Internacional da Matemática, Shigefumi Mori, disse que estava honrado em entregar a distinção a Birkar pela segunda vez.
Com o pavilhão do Riocentro lotado por participantes do encontro, o matemático disse, em meio a aplausos, que o episódio não apagará a imagem que ele tem do Brasil e que pretende voltar ao Rio em outras oportunidades. “Isso não mudou em nada a minha impressão e eu vou voltar aqui, de novo, no Rio”, disse.
Bem humorado, Birkar destacou que é o único medalhista que recebeu duas vezes a Fields e que isso ocorreu em apenas uma semana. Votou a dizer que a medalha foi levada de maneira muito rápida.
Segundo ele, logo após a premiação a deixou junto à sua pasta com outros objetos pessoais, entre eles, uma carteira e um celular, em uma cadeira, para receber cumprimentos. Quando se voltou para pegar tudo notou que a medalha tinha desaparecido.
O incidente foi informado à segurança do encontro, que começou a agir para identificar quem tinha roubado a sua honraria. Para o matemático, o episódio, no entanto, não representou frustração diante do que já enfrentou na vida. “Eu já passei por coisas muito piores em minha vida, então, isso é como uma piada, em comparação as outras coisas”, disse.
Birkar agradeceu ainda a organização da premiação por ter providenciado imediatamente uma nova medalha. Em entrevista, após a entrega falou que não esperava um fato como este, embora fatos semelhantes sejam possíveis em eventos tão grandes, que dessa vez, infelizmente, ocorreu com ele.
O matemático, que é pesquisador da Universidade de Cambridge, revelou que não se surpreendeu com a repercussão do caso, porque, em geral, episódios como o ele que atravessou costumam ser divulgados pela imprensa e completou que os outros objetos que estavam junto com a medalha, no momento do roubo, não eram de grande valor financeiro
O diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e presidente do Congresso Internacional de Matemáticos 2018, Marcelo Viana, que estava ao lado de Birkar na entrega de hoje, disse que todos lamentam o incidente, mas o importante é que a organização do encontro reagiu rapidamente.
Viana destacou que em um evento dessa escala, um fato como este poderia acontecer e já tem acontecido em outros locais. “O mais importante é que a gente reagiu imediatamente. Foi relatado à polícia, foi feito o boletim de ocorrência e o nosso pessoal se concentrou em buscar evidências para ajudar a polícia. O vídeo está com uma imagem claríssima dos suspeitos”, observou
Segundo Dias, houve preocupação dos organizadores em trabalhar no sentido de minimizar o inconveniente para o matemático para que ele pudesse voltar ao seu país com uma medalha e com uma boa imagem do Brasil. “Há pouco ele disse não ter dúvida de que vai voltar ao Rio de Janeiro e ao Brasil. Não poderia ter um final mais feliz do que esse aqui, para o qual a gente, evidentemente, lamenta, mas fizemos todo o possível para ele ficar uma boa imagem e ele confirmou este fato há pouco”, completou.
O diretor-geral do Inpa contou que foi possível providenciar uma segunda medalha em pouco tempo, porque havia uma cópia extra da premiação. “Ela estava na minha guarda e conversei com os responsáveis da União Internacional de Matemática, propondo que essa cópia fosse usada para entregar a ele ainda aqui no Congresso para que pudesse voltar para casa com a medalha e mostrar ao filho Zanko de 4 anos, que estava ansioso de ver a medalha do papai. A União Internacional de Matemática concordou com esta opção e nós levamos, ontem, a medalha para ser gravada com o nome dele. Tudo foi feito com muita eficiência e hoje pudemos entregar a medalha”, disse à Agência Brasil.
Medalha
Feita em ouro de 14 quilates, a medalha Fields vale 5,5 mil CAD (dólares canadenses) o equivalente R$ 15,8 mil. Em uma das suas faces, tem impressa a imagem de Arquimedes, renomado matemático grego da Antiguidade Clássica. No outro lado, uma frase em latim, em tradução livre, aponta ao homenageado que “os matemáticos do mundo inteiro reunidos premiam-no por sua obra destacada”. Com a distinção os medalhistas recebem, em dinheiro, 15 mil dólares canadenses, cerca de R$ 43 mil. O primeiro matemático a receber a Fields foi o finlandês Lars Ahlfors, em 1936.
Somente 78 anos depois, uma mulher recebeu a medalha, a iraniana Maryam Mirzakhani, professora de Stanford. Falecida em 2017, vítima de câncer de mama, que foi homenageada nessa edição do Congresso Internacional de Matemáticos, no Riocentro, onde foi montada uma exposição com imagens inéditas da cientista e informações sobre sua obra. Em 2014, o matemático Arthur Ávila, do Impa, se tornou o primeiro brasileiro e latino-americano a receber a Fields.