Acervo resgatado do Museu Nacional será exposto no CCBB do Rio

Publicado em 25/02/2019 - 18:34 Por Vinícius Lisboa - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

Mais de 100 obras resgatadas dos escombros do Museu Nacional serão exibidas ao público no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro a partir de quarta-feira (27), na exposição Museu Nacional Vive - Arqueologia do Resgate. A exposição poderá ser conferida pelo público até o dia 29 de abril.

O Paço de São Cristóvão, antigo palácio imperial, que funcionava como prédio principal do Museu Nacional, pegou fogo no dia 2 de setembro do ano passado. O incêndio fez com que o teto e os andares internos do palácio desabassem e causou grande destruição no acervo de 20 milhões de peças. O museu já completou 200 anos.

O que será exposto no CCBB é uma pequena parte do que já foi possível recuperar após o incêndio, informou o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner.

"[A exposição] Não é o fruto total do que a gente conseguiu resgatar, é apenas uma pequena parcela do tesouro do Museu Nacional. E essa pequena parcela não representa nada perante o enorme potencial que ainda temos para resgatar", disse Kellner.

Com um total de 180 peças, a exposição tem 103 que foram retiradas do palácio após o incêndio pela equipe coordenada pela arqueóloga e professora Claudia Carvalho, que também participou do trabalho de curadoria. As 73 peças restantes são fruto de uma seleção que tentou identificar objetos simbólicos para o museu e outros que dialoguem com os afetados pelo incêndio. Já os objetos resgatados foram avaliados segundo sua estabilidade e possibilidade de comunicação com o público. Objetos desestabilizados estão além da fragilidade, explica Claudia, pois podem desmanchar ao menor toque.

Resgate

Cerâmicas peruanas na exposição Museu Nacional Vive - Arqueologia do Resgate, a primeira com peças retiradas do incêndio, no Centro Cultural Banco do Brasil.
Cerâmicas peruanas na exposição Museu Nacional Vive - Arqueologia do Resgate, a primeira com peças retiradas do incêndio, no Centro Cultural Banco do Brasil - Fernando Frazão/Agência Brasil

A coordenadora de resgate disse que voltar a expor para o público traz alegria à equipe, que vem trabalhando sob uma sensação térmica de até 46 graus para salvar os objetos. Entre 50 e 60 servidores participam desse trabalho, ao mesmo tempo em que realizam pesquisas e aulas no museu, que tem importantes programas de pós-graduação.

"É uma curadoria que a gente fez questão de compartilhar", disse Claudia. "A gente queria que as pessoas que estavam no resgate, e eram responsáveis pelas áreas, pudessem participar. Fizemos de forma coletiva".

As buscas em cerca de 25% do museu já podem ser consideradas esgotadas. Segundo Cláudia, com a instalação da cobertura, será possível escavar os escombros e encontrar as obras que estavam nos andares inferiores e foram soterradas. Até agora, o resgate avançou mais rapidamente nas áreas próximas ao trabalho de escoramento, como a entrada principal.

Desde o início do resgate, cerca de 2,3 mil registros de possíveis partes do acervo foram retirados do Museu Nacional. Esses registros, explicou a arqueóloga, correspondem muitas vezes a massas que aglutinam mais de uma peça, o que eleva a expectativa em relação ao número que ainda pode ser retirado.

"Se não acontecerem grandes problemas, no fim deste ano, ou até março do ano que vem, a gente termina a escavação", disse, adiantando que a partir daí terá início o detalhamento das peças retiradas e dos danos causados pelo desabamento.

Exposição

A exposição foi organizada a partir de um convite do CCBB do Rio de Janeiro, que custeou os R$ 230 mil necessários para que ela fosse realizada. O gerente-geral do CCBB-RJ, Marcelo Fernandes, disse que o incêndio impactou todos os profissionais da área cultural do país, e sua equipe buscou uma forma de ajudar.

"A gente entendeu que, entre todas as perdas que o museu teve, uma delas foi a do teto. E que a gente poderia contribuir nessa questão oferecendo nosso espaço para receber o resultado desse trabalho tão cuidadoso e tão carinhoso. O Museu Nacional vive, e, com muita honra, nesse momento ele vive aqui no CCBB”.

Marcelo disse que pretende levar à direção do Banco do Brasil, em Brasília, a ideia de realizar a exposição em outros estados onde o banco público tem centros culturais. "É questão de conversar e ver a disponibilidade tanto do material quanto de grade do CCBB", disse, acrescentando que a fragilidade das obras contribuiria para elevar os custos de logística e seguro, mas não seria um impedimento definitivo.

Fósseis na exposição Museu Nacional Vive - Arqueologia do Resgate, a primeira com peças retiradas do incêndio, no Centro Cultural Banco do Brasil.
Fósseis na exposição Museu Nacional Vive - Arqueologia do Resgate, a primeira com peças retiradas do incêndio, no Centro Cultural Banco do Brasil - Fernando Frazão/Agência Brasil

Meteorito

O público já começa a ter contato com o Museu Nacional no térreo do CCBB, onde está o meteorito Santa Luzia, que caiu do espaço em 1922 e pesa aproximadamente duas toneladas.

A exposição está no segundo andar do CCBB e oferece como primeiro impacto uma harpia embalsamada. Apesar de não ter sido afetada pelo incêndio, a ave, que é uma das maiores do continente americano, é considerada símbolo do Museu Nacional.

Outro destaque da exposição é o crânio do jacaré-açu, que foi resgatado inteiro dos escombros e é exposto ao lado de outro crânio da mesma espécie de réptil. No que foi retirado do palácio, é possível ver as marcas das chamas, que escureceram o fóssil.

A diversidade do acervo do museu vai além da história natural, e isso se reflete na exposição. Cerâmicas marajoaras, bonecas karajá, objetos trazidos do Benin e parte das coleções de Dom Pedro II e da Imperatriz Teresa Cristina estão expostas.

Danos

A exposição faz questão de descrever ao público os danos causados nas peças expostas e mostrar o trabalho de resgate que vem sendo conduzido nos últimos cinco meses.

"Nós queremos que as pessoas se lembrem da tragédia que acometeu o Museu Nacional. Não é para esquecer ou modificar o passado. Ele existe e faz parte da nossa história. O que a gente precisa é aprender com ele para que tragédias como as que aconteceram com o museu nacional não se repitam jamais”, disse o diretor Alexander Kellner.

* Matéria alterada às 12h14 do dia 26 de fevereiro para corrigir o nome da exposição no primeiro parágrafo. O correto é Museu Nacional Vive - Arqueologia do Resgate e não Museu Nacional Vive - Arqueologia da Resistência conforme escrito.

Edição: Fernando Fraga

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