Convenção reúne quadrinhos e cultura na periferia de São Paulo
Feira de quadrinhos, bate-papo com ilustradores e autores, músicas de animações japonesas tocadas ao vivo e concurso de desenho são algumas atrações da Perifacon. O evento, que acontece amanhã (24) na Fábrica de Cultura do Capão Redondo, zona sul paulistana, pretende tornar acessível a chamada cultura geek, além de dar destaque para a produção de cultura e entretenimento feita fora do centro.
O evento é gratuito, e a programação reúne nomes de peso internacional, como o quadrinista Marcelo D’Salete, vencedor dos prêmios Jabuti e Eisner - um dos mais importantes do mundo no gênero das histórias em quadrinhos. Os trabalhos de Salete abordam diversos temas, desde a vida nas periferias dos grandes centros e desafios cotidianos até a resistência durante o período da escravidão.
O rapper KL Jay, integrante dos Racionais Mcs, também participará de uma mesa sobre arte e resistência na convenção. Para uma das organizadoras, Gabrielly Oliveira, presenças como essa são uma vitória na construção do evento que começou de forma quase despretensiosa. “No caso do KL Jay a gente só queria que ele divulgasse que o evento ia acontecer. Mas quando a gente viu, ele queria participar”, lembra.
A iniciativa busca suprir a lacuna deixada pelas grandes convenções de quadrinhos e cultura pop, que cobram preços elevados pelos ingressos. “Eu sentia falta desse tipo de evento e todas as pessoas da equipe que produzem também sentiam falta. Todas as crianças na favela curtem super-heróis, gostam de consumir esse tipo de entretenimento”, comenta Gabrielly.
Construção colaborativa
A construção da convenção começou com uma arrecadação coletiva e fundos. “Conforme a gente foi divulgando o evento, foram aparecendo sugestões, foram entrando novas pessoas na equipe. Isso transformou totalmente a cara do evento”, conta.
Uma chamada pública foi aberta para expositores e artistas que quisessem levar seus trabalhos. “A gente teve um número que a gente não imaginava de inscrições. Tem muita gente produzindo e consumindo esse tipo de cultura nas periferias. Gente construindo histórias em quadrinhos que se passam em contexto periférico. Até mesmo as grandes agências estão percebendo isso”, diz a jovem.
Debates e diversão
A análise de Gabrielly aparece na prática com a decisão da Chiaroscuro, uma agência de talentos que gerencia a carreira de desenhistas que trabalham para grandes marcas, como Marvel e DC, de fazer parte da convenção. “A gente ficou muito feliz e emocionado com isso. É muito importante que esses lugares acreditem naquele evento que a gente está construindo”, comemora.
As discussões que norteiam a convenção também são locais e globais. “É essencial a gente debater a representatividade negra nos quadrinhos em um país onde mais de 50% da população é negra”, exemplifica Gabrielly sobre um dos temas que serão abordados nas mesas de debate. Um assunto, que ela lembra, chegou à última premiação do Oscar. “A gente viu Pantera Negra recebendo várias premiações e que colocou a Marvel dentro do universo do Oscar”, enfatiza sobre o filme de super-heróis que levou três estatuetas na premiação.
Além de ponto de discussão, o evento quer ser um espaço de diversão. Entre as atrações está o lançamento de um novo vídeo do rapper Rashid. Também serão abertas mesas para quem quiser jogar os RPGs, jogos de interpretação. Haverá ainda concurso de cosplay – fantasias de super-herois e vilões. “Existe uma demanda para que a gente vá além de uma feira, para ter um espaço de entretenimento em que as pessoas consigam trocar e aprender sobre esse universo”.