Dia das Mães: musicistas revelam papel da música na vida das filhas
Duas musicistas da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro (OSTM) terão um dia das mães diferente este ano e não só por causa da pandemia e do isolamento social decretado para impedir a disseminação do novo coronavírus.
A violinista Nataly López Carvalho, por exemplo, espera o nascimento da segunda filha, Maria, para o próximo dia 13. Só que, desde ontem (7) à noite, ela começou a ter sinais de que o trabalho de parto estaria se iniciando. Nataly já é mãe de Isabel, de 4 anos de idade, para quem o convívio com a música começou ainda na gravidez da mãe.
“Ela respira música o dia inteiro. O pai é clarinetista e a mãe violinista. E desde a barriga, na época que ela foi concebida, a gente estava ensaiando a nona (sinfonia) de Beethoven. Desde a concepção ela está ali, dentro da orquestra”, disse Nataly hoje (8) à Agência Brasil. Para a violinista, isso a marcou muito, porque a nona sinfonia do compositor alemão Ludwid van Beethoven tem a ode e alegria no final. “E é uma alegria você saber que está carregando uma criança, ali sempre comigo nos concertos”. O marido de Nataly é Igor Carvalho, músico da Orquestra Petrobras Sinfônica e da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Depois que Isabel nasceu, no período de licença do teatro, Nataly levou a bebê com quatro meses para frequentar as atrações. “Eu percebo que ela gosta muito, se interessa, também porque a gente se interessa. Um filho é o reflexo do interesse dos pais. E como a gente conversa muito sobre música aqui em casa, está sempre estudando, pegando nos instrumentos, é uma rotina, ela se interessa muito”, revelou Nataly.
A pequena Isabel conhece algumas peças, inclusive, e consegue cantarolar. “Eu não fui criada assim. Minha família não tinha músicos. É muito gratificante ver que sua filha também ama o que você ama”. Durante o isolamento, Nataly afirmou que a questão da música ficou mais intensa. A família assiste a concertos pelo You tube e Isabel, às vezes, pede para assistir balés cuja duração se estende por até duas horas. “Se deixar, ela assiste o mesmo balé duas vezes por dia. Não é uma coisa muito comum para uma criança de 4 anos, mas ela gosta muito”.
Para Nataly, comemorar o Dia das Mães com a perspectiva de uma nova filha nos braços é gratificante. “É incrível, o ápice da maternidade. É maravilhoso; estou fora de mim”.
Adiantamento
A previsão era que a primeira filha da flautista Sofia Ceccato, também integrante da OSTM, nascesse no mesmo dia que a nova filha de Nataly. Mas Chloé se antecipou e veio ao mundo no último dia 21 de abril, com 37 semanas de gestação. Sofia disse hoje (8) à Agência Brasil que essas primeiras semanas têm sido um pouco complicadas para ela, que está com suspeita de covid-19, depois de o marido, o francês Simon Béchamin, fagotista da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), ter também se contagiado com a doença. Béchamin já está bem.
Seguindo as recomendações médicas, Sofia continua amamentando Chloé, mas tomando cuidados, como usar máscaras, por exemplo. “Ela está exclusivamente no peito”. A bebê, entretanto, não apresenta sintomas da covid-19. Quando engravidou, Sofia estava em pleno exercício da atividade como flautista da OSTM. “A música faz parte também do nosso dia a dia em casa, ouvindo, estudando”.
Sofia integra também a Orquestra Sinfônica de Mulheres e quando estava com sete para oito meses de gestação, ia participar de um concerto na Sala Cecília Meirelles. Mas, com o surgimento dos primeiros casos da covid-19 no Brasil, a programação acabou sendo cancelada. Para a musicista, seria uma “incrível experiência tocar com ela dentro de mim, no palco. Mas não aconteceu”.
Sofia Ceccato trabalhou até o início do período de isolamento e achava interessante sentir como a filha reagia aos diversos sons dentro de sua barriga. Percussão e metais, por exemplo, faziam a pequena reagir mais do que os violinos, percebeu Sofia. Ao tocar a flauta, o diafragma apertava a nenê para baixo e ela também tinha reações. O final da gestação já se deu na quarentena. Nem Sofia nem o marido fizeram testes para confirmação da covid-19. Ela acredita, contudo, que é esse o diagnóstico em função dos sintomas apresentados.
Revolução
Segundo definiu Sofia, a maternidade é algo revolucionário na vida de uma mulher. “É uma alegria, uma coisa inexplicável”. Ela não planejava ser mãe. “Mas aconteceu e eu abracei totalmente, quis que fosse tudo natural e realmente foi. Deu tudo certo, ela nasceu súper bem e é muito saudável. O que estamos torcendo é para essa coisa passar e a gente poder voltar um pouco à vida que tinha antes”.
Quando foram levar a pequena Chloé para vacinar, Sofia e o marido deram uma parada na frente da casa da mãe da flautista, para que ela visse a netinha de longe, uma vez que pertence ao grupo de risco. Elas não se veem há bastante tempo. No dia das mães, deverão matar as saudades pela internet. De acordo com Sofia, os amigos fazem uma boa rede de apoio nesse momento de isolamento de isolamento social. “Eles mandam comidinha, sopinha e muito boas vibrações”.
Durante o início do isolamento, Sofia e o marido fizeram concerto na varanda do apartamento para os vizinhos. Desde que Chloé nasceu, porém, Sofia não conseguiu tocar para a filha. “Mas o pai toca, a gente canta. Ela não tem nem três semanas, mas dá para perceber que é uma coisa que ela está familiarizada”. Chloé gosta também quando a mãe canta para ela canções de ninar em português, que os pais cantavam para ela quando criança.
Coincidências
A flautista Sofia e a violinista Nataly foram efetivadas juntas na OSTM em 2014, no mesmo concurso do Theatro Municipal e, por coincidência, engravidaram na mesma época de meninas.