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Pesquisadores brasileiros conseguem coletar sêmen de tamanduá raro

Animal, de 30 cm, tem pelagem amarelo-dourada densa e curta.
Bruno Bocchini - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 22/08/2021 - 18:45
São Paulo
 tamanduá: o Cyclopes didactylus
© Instituto Tamanduá /Fundação Grupo Boticário

Pesquisadores brasileiros conseguiram coletar, pela primeira vez, sêmen de uma espécie muito rara de tamanduá: o Cyclopes didactylus, também conhecido por tamanduaí, um animal de pelagem densa e curta, e coloração amarelo-dourada, de apenas 30 centímetros – o menor do mundo.

A coleta do material é o primeiro passo para a reprodução assistida do animal, que vive na região Nordeste do país, mais especificamente no Delta do Rio Parnaíba, entre os estados do Piauí e Maranhão. De acordo com a professora do Departamento de Ciência Animal da Universidade Estadual de Santa Cruz Flávia Miranda, mais que a preservação do próprio animal, sua proteção significa a manutenção de todo o ecossistema.

Espécie guarda-chuva

“O tamanduaí é uma espécie guarda-chuva, a gente tem utilizado esse conceito: preservando essa espécie, vamos estar preservando as outras espécies que vivem no mesmo ecossistema. A gente está utilizando a espécie como símbolo para preservar o mangue. O Delta do Parnaíba é, senão o maior, um dos maiores mangues do Brasil, extremamente importante porque é um berçário da vida marinha”, destacou a professora que participa da pesquisa, que também é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN).

A Área de Proteção Ambiental do Delta do Parnaíba é ponto de encontro de trechos de Cerrado, Mata Atlântica nordestina, Amazônia e Caatinga, e conta com manguezais e restingas. É considerado um dos ecossistemas mais produtivos do planeta, formando uma ecorregião crucial para a conservação da biodiversidade.

 tamanduá: o Cyclopes didactylus
tamanduá: o Cyclopes didactylus - Instituto Tamanduá /Fundação Grupo Boticário

Reprodução monitorada

Pouco ainda se sabe sobre estes pequenos animais e quantos deles vivem no litoral nordestino. Também conhecidos como tamanduás-fantasma, já que raramente descem ao chão, são de hábito noturno, vivem sozinhos e se alimentam predominantemente de formigas.

“Com o sêmen coletado e testes convencionais realizados, vamos conseguir iniciar uma nova fase, fazer pesquisa reprodutiva monitorada. Manter uma população mínima saudável e geneticamente viável de tamanduaí em cativeiro permite ampliar o nível de conhecimento sobre a espécie e dar suporte aos indivíduos de vida livre. Esta é uma das ferramentas para evitar a extinção e realizar a reintrodução no habitat natural, caso seja necessário”, ressalta Miranda.

O animal é classificado pela International Union Conservation of Nature (IUCN) com status de dados deficientes (DD) devido ao pouquíssimo conhecimento existente sobre ele. Um exemplar do tamanduaí, em posse dos pesquisadores, advindo de uma apreensão, deverá ser levado ao Aquário de São Paulo.

A pesquisa do tamanduaí faz parte de um projeto do Instituto Tamandua, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto Chico Mendes, Universidade Estadual de Santa Cruz e apoio da Fundação Grupo Boticário.

Matéria alterada às 14h42 do dia 23 de agosto, para incluir a Universidade Estadual de Santa Cruz como parceira do projeto