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Internacional

Farc completam 50 anos e criticam proposta de paz do presidente Santos

Leandra Felipe - Correspondente da Agência Brasil/EBC
Publicado em 27/05/2014 - 19:53
Bogotá

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) completam hoje (27) 50 anos de conflito armado no país, com a divulgação de um vídeo de seu líder máximo, Rodrigo Londoño, o “Timochenko”. Ele criticou o governo de Juan Manuel Santos, por tentar reeleger-se com um discurso de paz e "ações de guerra". Mais comedido, em outra manifestação, o negociador-chefe das Farc em Havana, Iván Márquez, disse que por enquanto a guerrilha não se pronunciará sobre o resultado das eleições de domingo último (25), para evitar “interpretações equivocadas”.

O tom mais crítico coube a Timochenko, que aparece sentado à frente de uma mesinha, em um cenário com material das Farc, em algum ponto da selva colombiana. Durante 26 minutos, ele fez um balanço da história das Farc, dos objetivos  de reforma social da guerrilha e da relação com o governo Santos.

“O candidato Juan Manuel Santos quer pregar a paz e acusa a oposição [Óscar Zuluaga, do Centro Democrático] de buscar a guerra, mas na verdade, ele mesmo [Santos] é quem tenta eliminar a guerrilha pela via militar”, afirmou no vídeo gravado em vários ângulos de seu pronunciamento, com boa qualidade.

O processo de paz entre o governo e as Farc começou em novembro de 2012, mas a negociação ocorreu sem a interrupção da ofensiva militar por parte do governo.

Timochenko comentou que Santos acusa a oposição de “fanática  de ultra direita” e os opositores de pretenderem “assassinar as esperanças de paz do povo colombiano”. Após o resultado das eleições de domingo, o presidente colocou ainda mais o processo de paz no centro do debate, e disse que os colombianos teriam que escolher entre o "medo" e a "esperança".

“Santos faz isso, quando ele mesmo ordena, todos os dias, que as operações militares sejam intensificadas, em seu afã de matar os líderes da guerrilha com a qual dialoga, em Havana”, observou.

O líder da guerrilha também comentou que o governo Santos deve cumprir os compromissos com o setor agrário e os pequenos camponeses. O presidente já enfrentou três protestos nacionais, de julho do ano passado até o começo deste mês. “Chamo a atenção do atual governo para que assuma seus compromissos”, alertou.

Ele terminou o vídeo dizendo que as Farc estão negociando com o governo, não por se considerarem vencidas, e nem por temor. “Estamos lá porque entendemos que nada está definido na luta de classes e interesses que atinge nossa pátria”, disse.

Para marcar a data, o negociador-chefe em Havana, Iván Márquez, defendeu que a “candidata nas eleições para as Farc é a Assembleia Constituinte”.  A guerrilha defende, desde o ano passado, que o país convoque uma nova Constituinte, após a conclusão de um acordo de paz. O governo, entretanto, até o momento, rejeitou essa possibilidade.

Márquez não comentou o resultado do primeiro turno das eleições presidenciais, que levou o presidente Juan Manuel Santos a enfrentar Óscar Zuluaga, crítico do formato do processo de paz. “Hoje não vamos falar dos resultados eleitorais, porque qualquer coisa que digamos poderá ser interpretada de diversas formas. Não queremos arriscar opiniões”, ponderou.

Ele disse que para os negociadores das Farc o mais importante neste momento é que a paz seja assumida como política de Estado, e acrescentou: “A guerrilha não tem a percepção de que o processo de paz tenha ficado no limbo, após os resultados eleitorais. Vamos deixar que o resto da campanha eleitoral termine, para que fixemos uma posição”.

Márquez afirmou que as Farc e o Exército da Libertação Nacional (ELN) cumpriram rigorosamente o cessar-fogo eleitoral, adotado pela primeira vez, no ambiente do conflito armado.

O processo de paz tornou-se a principal plataforma da campanha de Juan Manuel Santos, após ser derrotado no primeiro turno para o opositor Óscar Zuluaga, aliado do ex-presidente e senador eleito Álvaro Uribe. Zuluaga se refere às Farc como grupo terrorista narcotraficante e diz que quer a paz, mas não aceitará "comportamentos criminosos” por parte das Farc, caso seja eleito no dia 15 de junho.