Escócia: campanha pró-independência ganha força na véspera do referendo
Faltando menos de 24 horas para a abertura do referendo que vai decidir sobre a independência da Escócia em relação ao Reino Unido, ainda não é possível fazer previsões. Três pesquisas divulgadas hoje (17) mostram equilíbrio entre as duas campanhas, mas destacam uma tendência de crescimento do grupo favorável à independência.
Na pesquisa do jornal escocês The Scotsman, feita pelo Instituto ICM entre 12 e 16 de setembro, quando excluídos os eleitores indecisos (14%), 52% dos mil entrevistados são contra a independência e 48% a favor. Os resultados, quando comparados à última pesquisa, feita em agosto, mostram crescimento de 3% da campanha separatista.
O jornal inglês The Telegraph traz hoje levantamento do Instituto Opinium com os mesmos resultados: 52% contra e 48% a favor da independência, quando excluídos os indecisos (8%). No total, 1.150 pessoas foram entrevistadas. Na comparação com pesquisas anteriores do mesmo instituto, a vantagem da campanha antisseparatista caiu de seis para quatro pontos. O jornal destaca a importância do voto feminino, que poderia salvar a Grã-Bretanha: entre as mulheres, 58% dizem não à independência da Escócia e 42% dizem sim. A vantagem de 16 pontos do primeiro grupo em relação ao segundo é dois pontos maior do que a mostrada no último levantamento.
O cenário de equilíbrio se confirma em mais uma pesquisa de opinião, feita entre 12 e 16 de setembro pelo Instituto Survation e divulgada pelo jornal Daily Mail. Nela, 52% dos mil entrevistados apoiam a continuidade da união, contra 48% que defendem a independência. Foram excluídos os 8% indecisos.
Nesta manhã, o primeiro-ministro do governo autônomo da Escócia, Alex Salmond, divulgou carta aberta à população. No documento, ele pede que os eleitores votem com a consciência tranquila, sabendo que ao dizer sim à independência, tomarão em suas próprias mãos a responsabilidade de fazer da Escócia a grande nação que ela pode ser. “Isso vai exigir maturidade, sabedoria, envolvimento e energia. Tudo isso virá não só das fontes comuns, dos partidos e políticos, mas de vocês, as pessoas que têm transformado esse movimento de um simples debate político a uma maravilhosa celebração do poder do povo”, escreveu. O líder do Partido Nacional Escocês encerra suas palavras com a frase: “Não deixem eles nos dizerem o que não podemos fazer. Vamos fazer isso!”.
Alex Salmond é do tipo que polariza opiniões. Seus aliados elogiam o seu carisma, a determinação e a habilidade política. Os opositores o chamam de arrogante e populista. Seja qual for o adjetivo que mais combina com o líder do Partido Nacional Escocês, uma coisa é certa: ele nunca esteve tão perto de realizar o maior sonho de toda a sua carreira política.
A independência da Escócia sempre foi a bandeira de Salmond. Seu nacionalismo está presente no sotaque, no broche azul e branco que exibe no peito e na sua formação: economia e história medieval pela universidade escocesa de Saint Andrews. Ocupou cadeira do Parlamento inglês, onde em 1988 ganhou notoriedade ao protestar contra os planos de aumento de impostos anunciados pela então primeira-ministra britânica Margareth Tacher. Em 2007, se elegeu primeiro-ministro regional da Escócia, posição que ocupa há mais de sete anos. Em 2011, seu partido alcançou maioria no Parlamento escocês e Salmond conseguiu o poder que precisava para convocar um referendo pela independência do país em relação ao Reino Unido.
Em seus discursos de campanha, o líder político fala enfaticamente de seu projeto para uma nação de mais de 5 milhões de pessoas fora do Reino Unido, que seguirá o modelo de qualidade de vida escandinavo - um país rico como a Noruega e a Suécia, graças às reservas de petróleo do Mar do Norte.
Em várias partes da Europa as pessoas esperam com ansiedade o resultado do referendo, que pode pôr fim a uma união que já dura mais de 300 anos. Se o sonho nacionalista de Alex Salmond for interrompido por um não à independência, mesmo assim, o esforço não terá sido em vão. Além de escrever seu nome nos livros de história, o político terá garantido junto ao governo britânico um compromisso de mais autonomia ao povo escocês.