Crise pode se agravar se proposta de credores for aceita, diz deputado grego

Publicado em 30/06/2015 - 17:21 Por Eliana Gonçalves - Repórter da EBC - São Paulo

O representante do partido Syriza no Parlamento Europeu, Stelios Kouloglou, disse hoje (30) que a Grécia pode sofrer um aprofundamento da crise, se o país aprovar a proposta dos credores no referendo marcado para o próximo domingo (5).

Segundo Kouloglou, existe uma “campanha do medo” para que a população aceite, no referendo, a proposta da Troika (formada pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional), que inclui corte de aposentadorias e pensões e aumento de impostos como forma de recuperar a economia do país.

“Um discurso que diz 'que se vocês votarem não e não aceitarem os acordos, será o fim do mundo, os bancos vão entrar em colapso. A [Angela] Merkel [premiê da Alemanha e principal defensora das medidas de austeridade] vai ficar zangada'. Eles cortaram todo o dinheiro que vinha para Grécia e fecharam os bancos. É uma campanha do medo”, disse Koglolou, em entrevista exclusiva à Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

Sobre o referendo, o eurodeputado disse que a Grécia pode enfrentar grave crise política caso as condições dos credores sejam aceitas. "O governo estaria dividido e abriria espaço para que outro grupo político assuma o poder e implemente essa proposta catastrófica", afirmou.

Kouloglou conversou com a reportagem na noite de segunda-feira (29), no mesmo horário em que uma passeata com cerca de 17 mil pessoas, segundo agências internacionais de notícias, tomou as ruas da Grécia em apoio ao Syriza, e as bolsas de valores de todo o mundo despencavam em razão do referendo. Hoje (30), milhares de pessoas estão na Praça Syntagma, no centro de Atenas, para manifestar apoio à permanência da Grécia na zona do euro, em uma marcha organizada por partidos de oposição e entidades de comércio e indústria.

Para Kouloglou, o objetivo da Comunidade Europeia é desestabilizar o governo do Syriza para evitar que novos movimentos de esquerda ganhem espaço em outros países europeus que também enfrentam graves crises econômicas desde 2008.

"Se o Syriza for bem-sucedido na Grécia, outros países, como Espanha e Portugal, vão se fortalecer para combater as medidas de austeridade e isso vai aumentar a catástrofe. Por isso, eles não querem que o governo respire. Eles querem acabar com o governo.  A única possibilidade que o Tsipras [Alexis Tsipras, primeiro-ministro grego] tinha era dizer: 'se vocês insistirem nesse programa inacreditável, preciso perguntar ao povo se eles aprovam ou não aprovam esse programa'. É por isso que estamos fazendo o referendo", explicou.

Entre as exigências apresentadas pela Troika estão o corte de pensões e a elevação da carga tributária, especialmente das empresas de turismo, uma das principais fontes de renda da economia grega. "Não teríamos apenas que aumentar os impostos, mas começar a cobrança a partir de 1º de julho. Isso é suicídio. Outros países – Turquia, França, Espanha – que atraem turistas, cobram de 4%, 8% a 9% de impostos e pedem à Grécia para aumentar de 13% para 23%."

Na segunda-feira, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disse que a vitória do "não" no referendo seria também um não à União Europeia.

Na avaliação de Kouloglou, se os gregos decidirem não aceitar as condições exigidas pelos credores, esse resultado não significa o desejo de deixar a Zona do Euro ou a Comunidade Europeia. "Se as pessoas disserem não, aí vamos usar esse resultado, não para a saída da Zona do Euro, mas para negociar um acordo melhor tendo a vontade do povo conosco."

Edição: Carolina Pimentel

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