"Nada era feito no Rio sem anuência de Picciani", diz delator
O ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro Jonas Lopes Júnior disse hoje (9), em depoimento no Tribunal Regional Federal da 2ª Região, que o ex-presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro Jorge Picciani (MDB) era uma figura de grande influência na política fluminense, e que nada era feito no estado sem o seu consentimento.
"Nada havia no estado que não fosse feito com a aquiescência do deputado", disse Jonas Lopes, que está em prisão domiciliar por integrar um esquema de corrupção no TCE.
Jonas Lopes afirmou que Cabral e Picciani, além de aliados, eram amigos, e que ele próprio também tinha uma relação cordial com Picciani. "Uma relação que posso chamar até de amizade", disse.
O ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro afirmou que comprou gado de Picciani e usou dinheiro ilícito recebido no esquema no TCE para quitar a transação. A negociação foi uma forma de simular uma origem para o dinheiro, reconheceu Jonas Lopes no depoimento.
O delator declarou que pagou R$ 600 mil pelos animais, mas R$ 500 mil foram por fora, sem a emissão de notas fiscais, em dez parcelas de R$ 50 mil. Os comprovantes só foram entregues a ele três anos depois, quando ele já havia assinado o acordo de colaboração com a Justiça.
Além de Jonas Lopes, depôs hoje o operador financeiro de Sérgio Cabral, Carlos Miranda, que também assinou um acordo de colaboração premiada. Carlos Miranda detalhou que trabalhava para Cabral desde quando ele era deputado estadual, gerenciando uma conta única que recebia toda a propina arrecadada de construtoras e fornecedores do estado.
Segundo Carlos Miranda, desde a década de 1990, quando presidiu a Alerj, o governador repartia os valores com Jorge Picciani. Em seu primeiro mandato como governador, Cabral determinou pagamentos eventuais a Picciani, que foram efetuados por Miranda.
Quando Paulo Melo assumiu a presidência da Alerj, Carlos Miranda passou a transferir mesadas de R$ 700 mil a R$ 900 mil para o parlamentar, também a mando de Sérgio Cabral. O dinheiro era pago para garantir a tranquilidade do governo na casa legislativa, segundo Miranda.
Já Picciani, segundo o delator, passou a receber uma ajuda mensal de R$ 400 mil de Cabral, quando tentou se candidatar ao Senado, em 2010, e não foi eleito. Em 2014, Picciani foi reeleito para a Assembleia Legislativa.
Os dois ex-presidentes da Alerj e o deputado Edson Albertassi serão ouvidos na tarde de hoje, a partir das 13h.