Débora Xavier
repórter da Agência Brasil
Brasília - Iara Iavelberg, a última companheira do guerrilheiro Carlos Lamarca – militante comunista que liderou grupos guerrilheiros na década de 60 – nasceu em 07 de maio de 1944, em São Paulo. Era psicóloga e professora universitária. Conheceu Lamarca na organização clandestina Var-Palmares (VPR) e com ele transferiu-se para o Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8).
A militante morreu no dia 20 de agosto de 1971, aos 27 anos, em circunstâncias ainda não esclarecidas. A certidão de óbito informa que ela foi sepultada por sua família no Cemitério Israelense de São Paulo. O corpo foi entregue embalsamado pelos militares aos parentes um mês depois de sua morte, num caixão lacrado e com a proibição de que fosse aberto.
De acordo com relato do jornalista Elio Gaspari, no livro A Ditadura Escancarada, o corpo de Iara foi deixado em uma gaveta no necrotério de Salvador para atrair Lamarca. O guerrilheiro não caiu na armadilha.
Há dois relatos conflitantes sobre a morte de Iara. Em uma delas, e de acordo com o Relatório do Ministério da Aeronáutica, consta que Iara foi cercada por policiais do DOI-CODI-RJ, no interior de uma residência. Nessa versão, Iara teria conseguido romper o cerco da Operação Pajussara e se refugiado no banheiro de uma casa vizinha à sua, na tentativa de escapar à perseguição dos policiais. Localizada, teria se matado com um tiro na cabeça. Apesar dos protestos da família contra essa versão, ela determinou como o corpo de Iara foi sepultado.
Durante 32 anos, os restos mortais da guerrilheira permaneceram enterrados na ala dos suicidas do cemitério. Na lei judaica, o suicídio é considerado crime dos mais greves e os suicidas são enterrados para fora do muro dos cemitérios.
No ano passado, seu corpo foi exumado por determinação do Tribunal de Justiça de São Paulo atendendo ao pedido da família para que um exame pericial determinasse as reais causas de sua morte.
No relatório do Ministério do Exército, Iara teria sido morta a tiros de metralhadora pelo sargento do Corpo de Fuzileiros Navais Rubem Otero. A família também contesta essa versão, baseada em relatos de alguns de seus companheiros e nos testemunhos de populares que assistiram à prisão e/ou a morte de Iara.
A suspeita é a de que Iara teria sido presa e levada para a sede do DOPS local onde foi torturada até a morte. Vários presos que se encontravam naquele estabelecimento no mesmo período ouviram os gritos de uma mulher e os identificaram como sendo de Iara.
A vida da guerrilheira está contada no livro Iara, de Judith Patarra, lançado em 1992, e, em parte, no filme Lamarca, de Sérgio Rezende, que estreou em 1993.