País não está preparado para cobertura total por TV digital, avalia Abratel

Publicado em 02/06/2015 - 17:13 Por Ivan Richard - Repórter da Agência Brasil - Brasília

A cinco meses do início do processo de desligamento das transmissões analógicas em canal aberto, no Brasil, o presidente da Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abratel), Luiz Claudio Costa, disse hoje (2) que o país ainda não está preparado para o fim dessas transmissões para implementação da TV digital.

Durante audiência pública na Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado para tratar da transição do sistema analógico para a TV digital, Costa alertou que grande parcela da população ainda não tem os equipamentos necessários para acesso à TV digital. Para ele, o desligamento do sinal analógico, seguindo o atual cronograma – que terá início este ano e vai até 2018 – pode provocar o “desligamento da TV aberta no país”.

“Hoje, muita gente que está entre o [programa] Bolsa Família e a classe média ainda não tem noção do que é uma televisão de alta definição. Por culpa nossa [radiodifusores], que temos falhado em divulgar. Precisamos divulgar mais que basta que se tenha uma antena, de preferência externa, que a pessoa vai ter uma TV de alta definição. O que nos preocupa é que mais da metade da população ainda têm TV de tubo”, disse o presidente da Abratel.

De acordo com o presidente da Abratel, grande parcela da população que não está entre os beneficiários do Bolsa Família – que receberão gratuitamente os conversores da TV digital –, nem entre os que têm condições financeiras para comprar o equipamento terá dificuldade para ter acesso à TV digital. “Há cerca de dois anos, cada vez que chegava à sala de espera do Ministério das Comunicações ficava ruborizado porque a TV era de tubo. Se lá ainda tem teve assim, imagina na casa de milhares de brasileiros. Precisamos acelerar.”

A partir de novembro deste ano será iniciado, no município de Rio Verde, em Goiás, o desligamento do sinal analógico para os canais abertos. A partir de abril do ano que vem, o procedimento será feito no Distrito Federal e em mais 11 cidades do entorno da capital do país.

Com o desligamento da TV analógica, a programação aberta ficará disponível apenas em formato digital, o que vai melhorar a qualidade de som e imagem da programação. Mas, para ter acesso à TV digital, é necessário ter um aparelho de TV moderno ou comprar um conversor e instalar uma antena.

Para que a população de baixa renda não fique excluída da TV digital, o governo vai distribuir conversores com grande capacidade de interatividade para cerca de 14 milhões de famílias beneficiárias do Bolsa Família.

Além do esclarecimento da população sobre o funcionamento da TV digital, o presidente da Abratel ressaltou a necessidade de linhas de crédito para que as empresas possam promover as atualizações necessárias para implementar a TV digital em todo o país.

"Hoje, se todas as empresas fossem ao mercado para comprar equipamentos, a indústria não teria como atender à demanda. É preciso garantir que 100% população tenham uma TV em casa, aberta, gratuita, livre e democrática. Se as famílias tiverem condições de ter outra TV digital [paga], ótimo. Mas temos que dar condição para que todos tenham televisão gratuita e de boa qualidade, e para isso temos que fazer mais”, disse o presidente da Abratel.

O conselheiro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) Rodrigo Zerbone Loureiro rebateu, porém, o posicionamento do presidente da Abratel, e enfatizou, na mesma audiência, que não haverá "apagão" da TV aberta, por causa da transição.

Ele disse que o cronograma de início da transição do sinal analógico para o digital está mantido para o próximo mês de novembro, nas localidades em que pelo menos 93% das residências tenham acesso ao sinal digital, com consequente desligamento da TV analógica.

Zerbone ressaltou que, onde não for alcançado o percentual mínimo de 93% de cobertura do sinal digital, o sinal analógico será mantido até que o índice de 93% seja atingido. Não existe possibilidade, segundo ele, de haver apagão ou de muitas pessoas ficarem sem acesso à TV digital. "A gente não trabalha com essa hipótese”, reforçou.

Edição: Stênio Ribeiro

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