Ex-presidente do BC, Henrique Meirelles assume o Ministério da Fazenda

Publicado em 12/05/2016 - 17:40 Por Da Agência Brasil - Brasília

 

Brasília - Ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles fala para líderes empresariais, parlamentares e representantes do governo no 10 Encontro Nacional da Indústria (Enai) 2015 (Valter Campanato/Agência Brasil)

Ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles assume o Ministério da Fazenda. Na foto, ele participa de encontro com líderes empresariais e parlamentares durante 10º Encontro Nacional da Indústria (Enai) 2015 Valter Campanato/Arquivo Agência Brasil

O novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, 70 anos, presidiu o Banco Central (BC) de 2003 a 2010, durante os dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República.

Ao assumir o BC em 2003, Meirelles, que já tinha feito carreira em instituições financeiras internacionais, conseguiu atrair credibilidade para o governo junto ao mercado financeiro. Antes de exercer a Presidência do Banco Central, foi presidente do Global Banking, do FleetBoston Financial e presidente mundial do BankBoston.

Meirelles enfrentou um cenário de inflação alta, que havia fechado 2002 em 12,53%. No primeiro ano da sua gestão, a inflação ficou em 9,3%. Em 2010, entregou a inflação em 5,9%, abaixo do teto da meta, mas acima do centro (4,5%).

A taxa básica de juros, a Selic, encerrou 2002 em 25% ao ano. Os juros continuaram a subir nos primeiros meses da sua gestão, chegando a 26,5% ao ano, mas ao final de 2010 estavam em 10,75% ao ano.

Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, em 2008, ano do estouro da crise econômica mundial, Meirelles reafirmou o compromisso com o controle da inflação e defendeu o acúmulo de reservas internacionais. Na entrevista, ele disse que o grau de investimento (classificação do país como pagador), concedido na época ao país, mostrava claramente o acerto da política de acumulação de reservas internacionais.

“O desempenho do Brasil durante a crise dos mercados mundiais que foi gerado pela crise do subprime [operações financeiras no mercado imobiliário] americano é, de novo, outra evidência importante do acerto [da política de acúmulo] das reservas internacionais. Evidentemente que vem junto com toda a melhora dos fundamentos da economia brasileira: a melhora fiscal, a continuada queda da relação dívida pública líquida total sobre o produto, trajetória de inflação consistente com as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional”, disse à época.

Ao chegar ao Banco Central, em 2003, Meirelles encontrou US$ 37,6 bilhões em reservas internacionais. No fim do governo Lula, em 2010, o montante chegava a US$ 288,6 bilhões.

Novo governo

Ao assumir o Ministério da Fazenda agora, Meirelles enfrentará outra realidade: inflação acima da meta, dívida pública em crescimento e perda do grau de investimento do Brasil. Já as reservas internacionais continuam altas, atualmente em cerca de US$ 376,3 bilhões.

O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, considera que o acúmulo de reservas internacionais é um fator importante para dar segurança ao país. Para Freitas, Meirelles terá, entretanto, o desafio de controlar a dívida pública. “O Brasil está bem em dólares [reservas internacionais], mas não está bem reais, porque tem uma dívida pública em reais enorme”, disse.

O professor de Finanças Públicas da Universidade de Brasília Roberto Piscitelli se diz cético em relação ao novo ministro. “Eu vejo com extrema preocupação a criação de um superpoder porque Meirelles impôs tantas condições e o novo governo se sente tão deslegitimado que aceita qualquer imposição, como o controle de todos os bancos oficiais. Tenho um ceticismo total”, disse.

O professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Pedro Rossi, disse que Meirelles é um nome para o mercado. Segundo ele, o ex-presidente do Banco Central não é um nome que assinala para a retomada do emprego e do crescimento.

Já Armando Castelar, ex-chefe do Departamento Econômico do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o presidente interino, Michel Temer, acertou ao escolher Henrique Meirelles para comandar a economia. “É uma ótima escolha para ministro da Fazenda. Acho que é uma pessoa com experiência e muita capacidade de montar bons times”, destacou Castelar que também é membro do conselho superior de economia da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).

O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, considera que Meirelles tem habilidades políticas e experiência, por já ter sido presidente do BC, para fazer ajustes na economia do país. “Meirelles é um nome que eu entendo como bastante positivo porque ele é um pouco meio do campo. Tanto que o [ex-presidente] Lula quando ia assumir a Casa Civil [no governo Dilma Rousseff] estava querendo que o Meirelles viesse. Ele tem essa ambivalência, esse meio de campo entre diversas correntes”, disse.

Entretanto, Perfeito avalia que não será possível fazer todos os ajustes necessários para a economia de uma vez. “Agora eu não sei se tem espaço para fazer esses ajustes todos. Propostas como a reforça da previdência é um tema explosivo no meio de uma crise econômica, política, social e em ano eleitoral [nos municípios]. Eles vão terque deixar claro quais são os principais pontos. Se forem atacar tudo de uma vez, acho que não vão conseguir”, disse Perfeito.

Carreira política

De vida pessoal discreta, Henrique Meirelles é casado com a psiquiatra Eva Missine, desde 2000.

Meirelles foi membro do conselho da Harvard Kennedy School of Government, da Sloan School of Management do MIT (Massachusetts Institut e of Technology), da Carroll School of Management do Boston College, bem como membro do conselho do Conservatório de Música da Nova Inglaterra e do Instituto de Arte Contemporânea de Boston.

Natural de Anápolis (GO), foi eleito deputado federal pelo PSDB de Goiás em 2002. Com 183 mil votos, foi o deputado mais votado no estado, mas não chegou a assumir o mandato porque aceitou a Presidência do BC. Na época, Meirelles deixou o PSDB, partido de oposição ao governo Lula.

Em 2011, filiou-se ao Partido Social Democrático (PSD) e houve rumores de que seria candidato à prefeitura de São Paulo, mas isso não se confirmou.

Atualmente, preside o Conselho de Administração da J&F, dona do Banco Original, JBS, Vigor. Também membro do Conselho de Administração da Azul Linhas Aéreas.

*Matéria alterada às 9h15 do dia 13/05 para corrigir informação. No quarto parágrafo, os juros estavam em 10,75% ao ano, no final de 2010, e não de 2011, como escrito anteriormente. No penúltimo parágrafo, os rumores eram de que Meireles concorreria à prefeitura de São Paulo, e não ao governo de Goiás, como escrito inicialmente.

Edição: Lílian Beraldo

Últimas notícias