Enquanto tragédia em Brumadinho completa seu primeiro ano, atingidos de Mariana ainda estão sem casa

Atingidos pela lama da Vale em Mariana ainda estão sem casa

Publicado em 24/01/2020 19:53 Por Gracielly Bittencourt - Brasília

As mineiras Sandra das Coxinhas e Sandra Maria tem mais que o nome em comum. Desde o dia 05 de novembro de 2015, elas também compartilham uma história parecida. As duas perderam suas casas por causa do rompimento da Barragem do Fundão e até hoje vivem em moradias alugadas pela Fundação Renova. 

“Eu não tinha uma casa assim, com essas coisas, mas eu tinha uma casa ‘simplesinha’ que eu era feliz”.

Sair do lugar onde criava galinhas, pescava, colhia frutas e verduras no quintal e passar a viver no centro da cidade de Barra Longa foi mais que uma mudança de endereço. Sandra Maria lembra que a família teve dificuldade para se adaptar à nova vizinhança ao novo modo de vida.

“Eu morei em uma casa lá em cima, e a mulher me xingava, falava que eu estava aproveitando da Samarco. ‘Você não foi atingida, você tá é aproveitando, sua sem vergonha. Vocês são um bando de favelados’. Você está sempre ouvindo alguma coisa assim”.

Sandra levou nossa equipe até a casa onde morava antes do rompimento da barragem. A cor da água do rio, as marcas na parede, tudo faz lembrar o desastre que teve início há quatros anos e ainda não tem previsão para acabar.

A 60 km dali, Sandra das Coxinhas também vive à espera do recomeço. Depois que seu restaurante e sua casa em Bento Rodrigues foram destruídos pela lama, ela passou a vender os famosos salgados na feira de Mariana.

“O pior da espera é você estar esperando e não estar vendo nada progredindo, sabe? Porque eu passo sempre lá no assentamento e vejo tudo a mesma coisa, não estou vendo as coisas andarem. Então, ainda existe um medo. Será que eu vou?”.

O lugar onde será construída a casa de Sandra das Coxinhas e de mais de 250 famílias está sendo chamado de Novo Bento.

O Gerente de obras da Fundação Renova explica que o prazo de entrega das casas vai ser adiado mais uma vez.

“O prazo oficial que nós temos, definido pela ACP, que é a ação civil pública, 27 de agosto de 2020. E estamos trabalhando pra que fique pronto até o final do ano. Isso está sendo negociado com a Justiça, porque há algumas interveniências que vão impactar um pouco no prazo, pra que seja dilatado no fim de 2020”.

O promotor do Ministério Público de Minas Gerais, Guilherme de Sá Meneghin, critica a conduta da Fundação.

“A Fundação Renova foi uma estratégia das empresas para desvincular o nome delas do crime. Então, elas criam - a Vale a BHP - essa megaestrutura que não funciona de forma adequada e é muito por causa da Renova e da forma como ela é manipulada pelas empresas que as coisas não funcionam bem e a gente tem que entrar com várias ações na Justiça”.

A Fundação Renova encaminhou uma nota para esclarecer que é uma organização autônoma, criada para implementar os programas de reparação e compensação dos impactos causados pelo rompimento da barragem.

A empresa destacou que um Termo de Transação e Ajustamento de Conduta foi assinado em 2 de março de 2016 pela Samarco, Vale e BHP, além dos governos de Minas Gerais, do Espírito Santo e Governo Federal.

A Fundação Renova informou ainda que já investiu mais de R$ 7 bilhões nas ações de reparação, mas casos como o das duas Sandras mostram que a população ainda sofre as consequências de um dos maiores desastres socioambientais da história do país.

*Essa é a terceira reportagem de uma série especial para marcar um ano do rompimento da barragem 1 da mina Córrego do Feijão, operada pela mineradora Vale, em Brumadinho (MG). A tragédia ocorreu no dia 25 de janeiro de 2019. A cada dia um novo conteúdo será liberado, até sábado.

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