Backer: com 31 notificações de intoxicação e 9 mortes, vítimas reclamam de falta de assistência

Com nove mortes, vítimas reclamam de falta de assistência

Publicado em 16/03/2020 19:28 Por Gésio Passos - Brasília

Esta é uma história que se mostra de gosto amargo. Feita de desassistência e demora. Já se passaram mais de 2 meses da investigação da Polícia Civil de Minas Gerais sobre os casos de intoxicação por dietilenoglicol. A suspeita continua sobre a empresa Backer, que seria responsável pela contaminação em suas bebidas, principalmente da cerveja Belorizontina. Após esse período, as famílias das vítimas de intoxicação viram-se em meio a um pesadelo. As pessoas reclamam que a cervejaria não tem prestado assistência para quem precisa de cuidados médicos.

A Polícia Civil divulgou, na última semana, a inclusão de mais dois casos de vítimas que morreram com sintomas de intoxicação pelo dietilenoglicol. Agora, já são 9 mortes por intoxicação, todas sob investigação. O inquérito policial investiga a contaminação de 42 pessoas que teriam consumido as cervejas da Backer. No último boletim, divulgado em 9 de março, a Secretaria de Saúde de Minas Gerais registrou 31 notificações de pessoas contaminadas.  Dessas, 7 morreram.

O Ministério da Agricultura divulgou que, até o momento, o laboratório de defesa agropecuária analisou 221 lotes de cervejas da Backer. Em  53 amostras foi confirmada a contaminação pelo dietilenoglicol, que é uma substância proibida. O órgão também encontrou a substância na água utilizada para produção das cervejas.

A partir dos resultados dos testes, a Justiça de Minas Gerais decidiu inclusive ordenar o recolhimento de todas as cervejas produzidas pela empresa.

Carolina Melo é filha do aposentado e microempresário Humberto Fernandes Melo, de 64 anos. Ela conta que o pai tomou diversas vezes a cerveja Belorizontina nas festas de final de ano. Humberto foi internado e começou a diálise. Teve paralisia facial e em outras partes do corpo, sintoma recorrente nas vítimas da intoxicação por dietileno-glicol. Ele ficou 27 dias no CTI e teve alta em 15 de fevereiro. Mas, depois disso, teve que retornar ao hospital por causa de uma infecção. O custeio do tratamento de desintoxicação é o desafio para todas as famílias.

Paula Soares é ex-esposa e amiga de uma das vítimas, Erico Lucke, representante comercial, de 50 anos, que hoje necessita de cuidador 24 horas. Paula conta que, logo após a internação, em 22 de dezembro, Erico relatou que consumiu a cerveja Belorizontina. Inclusive, os amigos acharam várias garrafas da bebida em seu apartamento.

Os parentes das vítimas afirmam que a cervejaria nunca prestou assistência as famílias. Mesmo após a intermediação do Ministério Público, no final janeiro, a Backer se recusava a assumir responsabilidade pelos tratamentos das vítimas. O Ministério Público então ajuizou uma ação, conjuntamente com as vítimas, para que a empresa assumisse a responsabilizasse pelo custo do atendimento hospitalar.

Em primeira instância, a justiça ordenou o bloqueio de 100 milhões de recursos da Backer. Na última semana, em segunda instância, a justiça decidiu por diminuir os bloqueios da empresa para 5 milhões de reais. Mas, segundo a defesa das famílias, só foi encontrado 12 mil reais nas suas contas. Carolina Melo afirma que tem indícios de que a empresa está tendo condutas fraudulenta  para blindar os proprietários.

Paula Soares afirma que as vítimas ainda aguardam que a Backer assuma a responsabilidade de custear os tratamentos dos pacientes. A Backer só respondeu a reportagem por notas. Na primeira, afirma que, com o desbloqueio parcial dos bens pela Justiça, vai permitir que a empresa dará suporte ao tratamento médico dos clientes.

A cervejaria também afirmou que a Justiça condicionou os pagamentos das despesas médicas e medicamentos à apresentação de exame toxicológico, ou outro documento, que comprove, de forma idônea, que os danos causados às vítimas são decorreram da substância encontrada nas cervejas da Backer. Credores da cervejaria inclusive requereram falência da empresa na última semana alegando não pagamento de dívidas. As famílias decidiram recorrer da decisão que diminuiu o bloqueio dos recursos da Backer. Enquanto isso aguardam que a empresa minimize a dor da perda de parentes, e que as investigações encontrem os responsáveis.

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