Na Trilha da História: Impacto da Revolução Industrial é comparado ao da descoberta do fogo
Na Trilha da História
Publicado em 01/02/2017 - 12:00 Por Apresentação Isabela Azevedo - Brasília
Olá! Eu sou a Isabela Azevedo, e está começando o Na Trilha da História. Hoje, o nosso tema é a Revolução Industrial, que marca a chegada das máquinas, dos produtos feitos em escala e de uma nova classe trabalhadora: os operários das fábricas. O nosso convidado é o historiador Guilherme Barbosa, mestre em História Social pela Universidade de Brasília. Ele dá uma ideia do impacto da transição de um mundo essencialmente agrário para uma economia industrial.
Sonora:"A Revolução Industrial foi, sem dúvida, a mais importante transformação que o mundo da transição da idade moderna para idade contemporânea experimentou. Eu costumo dizer para os meus alunos que a Revolução Industrial tem um impacto tão marcante que talvez só se compare à descoberta do fogo e do anticoncepcional."
Mas Guilherme, conta mais detalhes dessa transformação...
Sonora: "A Revolução Industrial marca o colapso definitivo do mundo feudal. Ou seja, do mundo essencialmente baseado na vida rural, na atividade agrícola de subsistência... Do ponto de vista cultural, a influência da Igreja Católica era muito grande... E de fato, a Revolução Industrial é o elemento que põe fim a esse conjunto de características que marcou a História do Ocidente, especialmente do Ocidente Europeu."
A Inglaterra é o berço dessa industrialização. Tudo começou entre 1760 e 1780, na fabricação de tecido. As produções artesanais perderam espaço, ao longo das décadas seguintes, para as pequenas fábricas têxteis. Isso foi possível a partir das inovações tecnológicas que foram surgindo ao longo do século 18.
"Amplia-se o desenvolvimento da própria ciência, dos estudos relativos à razão, o empirismo, e isso inevitavelmente leva à ampliação das novidades tecnológicas. Quer dizer, a Revolução Industrial, embora um elemento de natureza econômica, só acontece em função também dessa alteração no campo das ideias."
Com o passar das décadas, outros setores econômicos foram afetados pela Revolução Industrial. Em meados do século 19, por exemplo, foi a vez do ferro, do carvão, do aço. A época era de forte expansão do transporte ferroviário e de multiplicação da necessidade de consumo. O avanço tecnológicos acelerava e o historiador Guilherme Barbosa destaca o aprimoramento de máquinas que conseguiam executar vários tipos de tarefas. É o caso da máquina à vapor, que utiliza o vapor da água para iniciar um movimento.
"Talvez o exemplo da máquina a vapor, que é o mais fascinante elemento que dá início à Revolução Industrial. Você imagina primeiro uma máquina a vapor tecendo numa indústria têxtil. Aí você consegue imaginar uma máquina a vapor sendo uma força motriz de uma locomotiva, depois uma máquina dessa movendo grandes embarcações, grandes navios... Quer dizer, é uma máquina utilizada inicialmente para uma tarefa, que transcende depois essa função e ganha outras tantas."
A industrialização não foi uma empreitada barata. Mas a Inglaterra tinha dinheiro e bens valiosos que poderiam ser investidos na criação de fábricas. Esse capital, esses valores, foram sendo acumulados a partir das trocas comerciais com outros países. Até o Brasil entra nesse jogo.
Sonora: "Há uma relação íntima entre o trabalho escravo na América, em especial no Brasil, o tráfico negreiro e os altos lucros que dele era gerado com a acumulação de capital que tornou possível à burguesia inglesa realizar sua Revolução Industrial”.
Isso aconteceu porque muitos escravos foram levados da África para a América em navios ingleses, gerando lucro às transportadoras. Além disso, há uma relação indireta. O Brasil comprava escravos para trabalhar nos engenhos de açúcar e nas plantações de café. Com o dinheiro ganho a partir da venda dessa produção era possível comprar, por exemplo, produtos industrializados vindos da Inglaterra. Enquanto os escravos trabalhavam duro, mesmo sem saber, para o sucesso da Revolução Industrial, os operários ingleses também não tinham vida fácil.
Sonora: "A vida do trabalhador operário, em especial, das mulheres e das crianças operárias, é marcada por muita exploração. São altísssimas jornadas de trabalho, que chegavam a 16, 18 horas por dia...."
Mas os trabalhadores começaram a lutar por direitos.
Sonora: "Toda ação equivale a uma reação também. É nesse início da Revolução Industrial, em especial no século XIX, que vão nascer os grandes movimentos sociais, os movimentos trabalhistas."
O historiador Guilherme Barbosa falou muito sobre os séculos 18 e 19, mas alerta: até hoje estamos em plena Revolução Industrial. E a palavra de ordem é tecnologia.
Sonora:: O elemento mais marcante que hoje é retrato da influência da Revolução industrial, sem dúvida nenhuma, é o desenvolvimento da tecnologia e da velocidade dos meios de comunicação
Então você, ouvinte, quando resolver trocar seu celular por um modelo mais moderno, pode ter certeza de que está sendo influenciado assim por centenas de anos de revolução tecnológica e industrial.
Exatamente! E o fato é que só dá para comprar o celular porque ele é produzido em escala industrial. Não fosse assim, seu valor seria muito elevado!
Esta foi a versão reduzida do Na Trilha da História. O episódio completo tem 55 minutos e traz, além da entrevista com o historiador Guilherme Barbosa, músicas que têm tudo a ver com a Revolução Industrial. Para ouvir, acesse: radios.ebc.com.br/natrilhadahistoria.
Para enviar sugestões de temas para o programa, envie um e-mails paraculturaearte@ebc.com.br.
Até semana que vem, pessoal!
*Na Trilha da História: Apresenta temas da história do Brasil e do mundo de forma descontraída, privilegiando a participação de pesquisadores e testemunhas de importantes acontecimentos. Os episódios são marcados por curiosidades raramente ensinadas em sala de aula. Tem periodicidade semanal. Acesse aqui as edições anteriores.