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Cultura

Bienal do Livro no Rio fica marcada pela tentativa de proibição de livros pela prefeitura

Rio de Janeiro
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Cynthia Cruz, com informações de Tâmara Freire
09/09/2019 - 18:55
Rio de Janeiro

A 19ª edição da Bienal Internacional do Livro superou a marca de 600 mil visitantes e 4 milhões de livros vendidos.

 

Mas o destaque do evento que terminou neste domingo, no Rio de Janeiro, acabou sendo a tentativa da prefeitura de recolher uma história em quadrinhos, por causa de uma ilustração de dois homens se beijando.

 

Após uma guerra jurídica, a organização do evento acabou vencendo, ao obter uma liminar do Supremo Tribunal Federal impedindo o recolhimento.

 

Em meio a diversas reações contra a medida, escritores que participaram da bienal assinaram um manifesto em que classificam o episódio como uma insistente tentativa de censura.

 

Um dos assinantes foi Laurentino Gomes, premiado autor de diversos livros sobre história do Brasil, e que lançou uma obra sobre a escravidão durante a bienal.

 

“A história mostra que a velocidade com que esse tipo de ideia se impõe é muito rápida. Eu tenho 42 anos de profissão. Comecei no jornalismo lutando contra a censura do regime militar, e nunca imaginei que no Brasil da democracia nós fôssemos testemunhar uma cena como essa. E como a gente reage a isso em uma democracia? Juntando forças, protestando, impedindo que esse tipo de atitude se consolide”.

 

Já o escritor Fabrício Carpinejar afirmou que a tentativa de impedir a circulação livre de uma publicação ameaça a própria liberdade de escrita.

 

“Eu não quero escrever um livro com medo daquilo que pode ser censurado. Eu não quero ter uma autocensura. Eu não estou fazendo nada de errado. E não acho que amor é um item a ser proibido”.

 

O público da bienal também se manifestou contra a tentativa de censura. No último dia de bienal, dezenas de pessoas marcharam pelos pavilhões do Riocentro com livros de temática LGBT nas mãos. Além disso, uma multidão compareceu ao evento, no sábado, para receber um dos 14 mil exemplares de livros LGBT comprados pelo youtuber Felipe Neto para distribuição gratuita.

 

Em nota, a prefeitura disse que irá ao Supremo Tribunal Federal pedir esclarecimentos sobre a decisão que impediu a proibição. No recurso, a Procuradora-Geral do município afirma que a medida não examina o fundamento da medida ao fiscalizar a bienal. Esclarece o comunicado que a ação teve como base o Estatuto da Criança e do Adolescente. Nele, segue a nota, há determinação de que revistas e publicações contento material impróprio ou inadequado para menores devem ser comercializadas em embalagem lacrada, com advertência sobre o seu conteúdo.

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