MP denuncia padre Amaro por extorsão; defesa do religioso entra com pedido de liberdade
O Ministério Público do Pará (MP-PA) denunciou o padre José Amaro Lopes de Sousa por crimes como extorsão e lavagem de dinheiro. O religioso é ligado à Comissão Pastoral da Terra (CPT) e deu continuidade ao trabalho desenvolvido pela missionária Dorothy Stang, assassinada há 13 anos no município de Anapu.
Padre Amaro está preso preventivamente desde o último dia 27 de março, após conclusão de inquérito policial que acusa o religioso de diversos crimes, como o de incentivar a ocupação de terras.
Na última sexta-feira (20), a defesa de Padre Amaro informou que entrou com um pedido de liberdade. Para o advogado José Batista Afonso, desde que irmã Dorothy foi assassinada, o padre Amaro virou referência na luta dos camponeses pelo direito à terra.
Sonora: “O inquérito é uma peça com um componente político muito forte. E não reúne provas suficientes para condenar o Amaro nos crimes que são imputados a ele. Nós temos certeza absoluta que, na instrução desse processo, nós conseguiremos provar que as acusações feitas contra Amaro no inquérito não vão persistir. Nós conseguiremos com tranquilidade a absolvição dele em relação aos crimes ali apontados.”
O delegado Rubens Matoso afirmou que o inquérito apresenta provas. Para ele, a extorsão foi o que mais chamou a atenção dos investigadores.
Sonora: “Algumas pessoas, para não perder sua propriedade, depositavam esse dinheiro na conta dele e da irmã dele pra que pudesse continuar na posse daquela terra. A gente conseguiu coletar esses comprovantes de depósito na conta tanto do padre, no nome dele, como no da irmã dele. Ao longo da investigação tomou muito cuidado para saber se era, ou não, fruto de extorsão. Todas as vítimas afirmaram que tinham medo de perder a terra, então, por isso realizava esses depósitos.”
Sobre a denúncia do Ministério Público, a defesa do padre Amaro informou que ainda não foi notificada.
A denúncia aponta a prática de lavagem de dinheiro, extorsão e esbulho possessório - que faz referência à invasão com violência ou grave ameaça terras alheias.
No que se refere a outros crimes, como o de assédio sexual a um homem, apontados no inquérito policial, o Ministério Público entendeu não haver elementos suficientes para incriminar o padre e pediu arquivamento da denúncia.
Anapu fica no sudoeste paraense e está situada na Amazônia, onde boa parte das terras pertence à União. Sem regularização fundiária, a região é palco de conflitos agrários.
Silvério Fernandes, presidente do Sindicato Rural de Anapu, prestou queixa ano passado contra o padre Amaro, por tentativa de ocupação de sua fazenda.
Sonora: “Desde 2014, nós começamos a ser vítimas de invasão. Invasão assim de forma de intimidação. A nossa sede foi queimada três vezes, as pastagens, cercas, demarcação, crime ambiental.”
Em 2016, entrevistado pelo programa Caminhos da Reportagem, da TV Brasil, padre Amaro relatou ameaças.
Sonora: “Pra eu me cuidar. Tava indo longe demais. Se eu não tinha família. Se eu sentia prazer de mandar gente ocupar a terra dos outros. Eu digo, a gente não manda ocupar. A CPT [Comissão Pastoral da Terra] não manda ninguém ocupar. A gente apoia as ocupações, a gente dá assessoria. Para mim, a Dorothy não morreu. Teve vezes, emboscada que chegou pra gente, de pessoas que chegaram pra gente: 'de amanhã tu não passa'. A gente intercede a Deus e a ela. E até agora a gente vem segurando.”
O pedido do MP será analisado pelo juiz Esdras Murta Bispo. Se a denúncia for acatada, padre Amaro se tornará réu.




