Aumento da população em situação de rua leva prefeitura de São Paulo a antecipar censo

São Paulo

Publicado em 04/08/2018 - 08:07 Por Eliane Gonçalves - São Paulo

A prefeitura de São Paulo vai antecipar censo da população em situação de rua. O levantamento estava previsto para 2020. 

 

A justificativa para antecipar o censo é porque cresceu muito o número de pessoas vivendo nas ruas da capital paulista.

 

A expectativa da prefeitura é que 20 mil pessoas estejam nessa situação. Número equivalente à população inteira da cidade de Itaparica, no litoral baiano. Em 2015, quando foi feito o último censo, eram 16 mil pessoas.

 

Os cálculos oficiais são ainda menores que as estimativas de quem conhece as ruas de São Paulo de perto.

 

Robson Mendonça, presidente do Movimento Estadual da População de Rua de São Paulo, vem há anos questionando a metodologia do censo e aposta em um número muito maior.

 

Sonora:  ''Quando eles falavam em 16 mil, a gente já falava em 22 mil. e agora, nós acreditamos que temos na cidade cerca de 32 mil pessoas em situação de rua. Porque se ela aumentava antes mil pessoas por ano, agora tá aumentando 1,5 mil pessoas por ano.''

 

Não é possível confirmar o levantamento do ativista e ex-morador de rua, mas ele lembra que uma boa medida é olhar para a lotação dos abrigos e centros de acolhida.

 

Quem precisa, sabe que as vagas são disputadas e que nem sempre dá pra juntar os bicos que garantem o sustento com a garantia de abrigo.

 

Sonora: "Quem tá em abrigo perde até a vaga porque a gente sai daqui, 8 horas da Mooca aí vai no caso São Bernardo... sai de lá 8 horas, chega aqui 10 horas, 9 e 40 não entra mais em abrigo."

 

A crise econômica é a principal explicação para o problema.

 

Há 10 anos, Francisco Marques, de 32 anos, trabalhava na construção civil no interior de São Paulo. Mas, desde o começo do ano, não consegue mais nada. Veio para capital tentar trabalho, mas, desde que chegou, não tem onde morar.

 

Sonora: "- eu vim a procura de emprego e uma vida melhor....

- E o que você encontrou?

- Só tragédia. 'Tô' desempregado, não 'tô' conseguindo arrumar emprego. Fiquei uma noite na rua, quase fui roubado aí eu fui pra assistente social lá no Tietê, pedi ajuda eles me botaram pro albergue, mas quero ir pra casa não 'tô' aguentando. 'Tô' há um mês nessa vida, não 'tô' aguentando.

- Como que foi a noite que você dormiu na rua?

- Ah, foi a pior vida, hein? Nunca tinha passado por isso não. Tinha ficado na casa de amigo, tinha ficado de favor na casa das pessoas, mas na rua foi a primeira vez, é horrível."

 

Francisco foi pra rua sozinho, mas o padre Júlio Lancelloti, uma das principais referências para a população de rua no país, diz que a crise diversificou o perfil de quem passou viver na rua.

 

Sonora:  "Aumenta o número de mulheres num universo que era mais masculino, aumenta o número de mulheres com crianças, então aumentam muito esse conglomerados de grupos familiares. aumenta também as pessoas que são dependentes de drogas e de álcool, aumenta os jovens, mas também aumenta os idosos. É o desemprego, mas a gente não pode esquecer a intolerância dos grupos sociais. dos grupos familiares que expulsam as pessoas. Com a crise, as relações ficam muitos desgastadas. A crise econômica não atinge só as relações econômicas, ela atinge também as relações sociais."

 

A promessa é que com, o censo, além de conhecer melhor quem são essas pessoas, a prefeitura vai poder tomar medidas para melhorar a cobertura dada a quem está na rua.

 

Apesar de confirmar que o censo vai ser antecipado, a Secretaria de Desenvolvimento e Assistência Social não definiu um prazo para começar o levantamento, e a atividade não está prevista no orçamento aprovado pela Câmara de Vereadores.

 

Sobre a estrutura de acolhimento, a secretaria lembra que a cidade conta com a maior rede de atendimento da América Latina e que, desde o ano passado, oferece 18 mil vagas em abrigos.

 

Segundo a pasta, em junho, a ocupação média foi de 15,4 mil vagas.

 

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