Até 2050, quase metade do PIB global pode ser produzido em áreas com alto risco hídrico. Atualmente, 10% da soma de todos os bens e serviços já vêm dessas áreas que sofrem com a crise da água. A previsão, divulgada nesta semana pela ONG internacional WWF, leva em conta o crescimento populacional e econômico combinado com a má gestão da água e a destruição dos ecossistemas de água doce. Dois terços dos maiores rios do mundo não estão mais fluindo livremente, e as áreas úmidas são perdidas três vezes mais rápido que as florestas.
De acordo com a organização não governamental, a degradação de rios, lagos e aquíferos, já ameaça US$ 58 trilhões, o equivalente a 60% do PIB global. O estudo se baseia nos benefícios econômicos diretos trazidos pela água, como o consumo por residências, agricultura e indústrias, além do transporte e da geração de energia, que chegam a pelo menos US$ 7,5 trilhões anuais. Mas o recurso hídrico também traz benefícios sete vezes maiores, porém, mais difíceis de serem percebidos. Por exemplo, na melhoria do solo, no armazenamento de carbono, proteção de comunidades, além da manutenção da biodiversidade, tanto na terra quanto na água.
No Brasil, por exemplo, a seca na Amazônia seria o mais recente exemplo da gravidade da crise hídrica, conforme explica Helga Corrêa, especialista em Conservação do WWF.
Nos últimos dez anos, a floresta amazônica já perdeu um milhão de hectares de superfície de água, o equivalente a seis vezes a área da cidade de São Paulo. A água que sobra ainda é comprometida pelo uso do mercúrio usado ilegalmente para a mineração. Um estudo recente mostrou que um em cada cinco peixes, vendidos em seis estados e 17 municípios da Amazônia brasileira, tinham níveis inseguros de mercúrio, que pode causar problemas neurológicos, gástricos, renais e até levar à morte.
Para Helga Corrêa, especialista em conservação, o problema deve ser encarado coletivamente.
A organização responsável pelo estudo apoia iniciativas internacionais, por exemplo, como o Desafio da Água Doce, no qual países latino-americanos e africanos se comprometeram a restaurar 300 mil km de rios e 350 milhões de hectares de áreas úmidas degradadas, até 2030.