"Antes do canabidiol ele tinha uma média de 10 crises por dia. Depois do canabidiol, já diminuiu muito. Hoje a gente já convive com vários dias sem crise."
Essa é a história do mineiro Valdir Vaz, pai de Lorenzo de 9 anos. Desde pequeno, o garoto sofre de um tipo de epilepsia de difícil controle. O pai soube do canabidiol – substância derivada da maconha – e começou a usar no tratamento do filho. Mas o produto era considerado ilegal no Brasil e então o pai criou uma campanha na internet para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária liberar o uso controlado do canabidiol. A iniciativa obteve o apoio de 75 mil pessoas.
O apelo de pais como Valdir e de entidades sociais ajudaram a Anvisa a retirar, nesta quarta-feira, o produto da lista de proibidos, passando para a categoria de medicamento controlado.
Com a medida, a substância não será mais considerada ilegal no país e, no futuro, a importação deve ficar mais fácil. Outra consequência esperada é o aumento de estudos sobre o tema no Brasil. Segundo os diretores da Agência, a iniciativa auxilia famílias que usam o canabidiol no tratamento de doenças, como a epilepsia grave.
De acordo com a conclusão da Anvisa, pesquisas internacionais apontam que não há indícios de dependência no uso do produto. Segundo o diretor-presidente, Jaime Oliveira, é preciso diferenciar o uso terapêutico do canabidiol do uso recreativo da cannabis sativa, de onde é feita a maconha.
Mas ele explica que, mesmo com a decisão, a importação do medicamento ainda precisará de autorização individual da agência a partir da prescrição médica.
"Não muda nada em relação à importação. Só pode ser em caráter individual, pra uso próprio, mediante prescrição médica. Essa reclassificação não muda. Os produtos que hoje são importados não contém apenas canabidiol, eles contém outros canabinóides, entre les o THC, que continua sendo um produto proscrito porque gera efeitos psicotrópicos, diferentemente do canabidiol."
Para Valdir, pai do pequeno Lorenzo, é preciso comemorar:
"É um dia histórico, emocionante para todos nós que convivemos com epilepsia em nossa família ou outras doenças que são tratadas com canabidiol."
Como o canabidiol ainda não tem registro nem é vendido no Brasil, é necessária uma autorização de importação. O procedimento tramita na Anvisa e demora cerca de 4 dias, mas em breve o órgão vai editar uma resolução com novas normas para importar a substância, o que deve agilizar o processo.