Qual a relação entre a crise hídrica no Sudeste e o cerrado brasileiro, onde está localizada a capital federal?

Para especialistas em meio ambiente, a relação é direta, já que o cerrado é considerado o berço das nascentes que alimentam oito das 12 grandes regiões hidrográficas do país.
Em outras palavras, o cerrado é o responsável pelo abastecimento de reservatórios. É o que explica o pesquisador da área de hidrologia da Embrapa Cerrados- Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Jorge Werneck.
SONORA: “Para se ter ideia, em torno de 90% da água que sai da Foz do São Francisco e 70% da Foz do Tocantins, vêm do bioma cerrado. Além disso, a região abastece a bacia do Paraná e é responsável por 50% da água que passa na usina de Itaipu. É também fundamental para o Pantanal'
E o cerrado, que ocupa um quarto do território brasileiro, está em risco, e, com ele, os recursos hídricos da região e também de diversas partes do país.
Segundo o professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás e diretor do Instituto do Trópico Subúmido, Altair Sales Barbosa, cerca de dez rios desaparecem na região anualmente.
SONORA: “O que temos constatado é que as nascentes menores começaram a desaparecer ou migrar das partes mais altas para as partes mais baixas. A cada ano que passa, pelo menos dez rios desaparecem e a vazão dos maiores vai diminuindo, assim como os reservatórios usados para gerar energia e abastecer os pólos urbanos”
O desmatamento é o principal vilão causador do desaparecimento dos rios no cerrado. Mas, o que agrava ainda mais a questão é a seca, que nos últimos 20 anos tem sido mais longa na região. É o que explica o pesquisador Jorge Werneck.
SONORA: “Há um encurtamento no período de chuva e um alastramento no período de seca. A média pluviométrica em determinadas estações, caiu de 1,5 mil milímetros para 1,2. Isso muda bastante o ciclo hidrológico, faz com que nossos solos fiquem mais secos, os lençóis freáticos desçam, sejam rebaixados e isso afeta diretamente todo o regime de vazão dos nossos rios”.
Ainda não há consenso entre os pesquisadores quanto às mudanças no clima em decorrência da ocupação humana. Mas a ocupação sustentável é o caminho para preservação,como recomenda o coordenador do curso de engenharia ambiental e sanitária da Universidade Católica de Brasília, Marcelo Gonçalves Resende.
SONORA: “Para mim, o grande problema é a má gestão do uso e ocupação o solo, seja em áreas urbanas ou rurais. É possível que haja ocupação, desde que seja feita de forma sustentável, existem técnicas, claro que tem que ter agricultura, criatório de gado. Claro que tem que ter indústria, moradia. Mas isso tem que ser feito de forma sustentável. Existem técnicas, mas o ser humano esquece, pela ganancia, pela vontade de obter lucro fácil. O último ponto que leva em consideração é a questão ambiental”.
Segundo a ONG WWF-Brasil, o cerrado é a segunda maior formação natural da América do Sul e metade da vegetação nativa foi eliminada e menos de 3% está efetivamente protegida.