Governo de SP investe em abastecimento de água; especialistas ainda apontam desafios
Semana da Água
Publicado em 23/03/2017 - 09:16 Por Eliane Gonçalves - São Paulo
Nesta Semana da Água, a Rádio Nacional veicula uma série de cinco matérias sobre os recursos hídricos no país e no mundo.
Na reportagem de hoje (23), o tema é o desafio de manter a distribuição de água aos consumidores paulistas e evitar um novo racionamento como o de 2014/2015.
O governo de São Paulo comemorou o investimento na casa dos R$ 3 bilhões, em seis obras, com o objetivo de garantir a segurança hídrica do estado. A promessa do governador Geraldo Alckmim é inaugurar, em breve, a maior parte dessas obras.
O sistema Cantareira é um dos maiores sistemas de abastecimento de água do mundo e a principal reserva da Grande São Paulo. Cerca de 8 milhões de pessoas dependem das águas do Cantareira e foi esse sistema o mais afetado pela crise hídrica que atingiu São Paulo entre 2014 e 2015.
O volume de água chegou a 5% no período mais crítico e foi preciso tomar medidas drásticas. A Sabesp, a Companhia de Água e Esgoto de São Paulo, diminuiu o fornecimento reduzindo a vazão de água, consumidores que ultrapassaram a própria média de consumo pagaram multas e o governo financiou obras que permitiram acessar cerca de 300 bilhões de litros de água que integravam o chamado volume morto do Cantareira.
Com as chuvas, a crise ficou menos visível. Nessa quarta-feira (22), Dia Mundial da Água, o nível do sistema Cantareira estava em quase 66%, sem contar as águas da reserva técnica.
Mas para especialistas, como o professor da Escola Superior de Agricultura da Universidade de São Paulo (USP) Antonio Almeida o fantasma do desabastecimento continua rondando.
O professor aponta problemas que não foram resolvidos, como o desperdício de água pela própria Sabesp. Quase 32% de toda a água distribuída em São Paulo fica no meio do caminho. A maior parte se perde em vazamentos. O restante em furtos e desvios.
Segundo a Sabesp, desde 2014 foram investidos R$ 1 bilhão na prevenção de perdas do sistema. O valor é apenas um quinto do montante necessário para a substituição dos trechos mais velhos da tubulação.
Esse cálculo também é da Sabesp. Mas para Antônio Almeida os vazamentos são só parte do problema. Ele questiona o investimento apenas em grandes obras e lembra que matas ciliares e áreas de preservação, que ajudariam a manter o abastecimento de água desapareceram com a ajuda da especulação imobiliária.
Pesquisa da Fundação SOS Mata Atlântica ajuda a dar dimensão ao problema. Em outubro de 2014 restavam apenas 21% da mata nativa do sistema Cantareira. Hamilton Rocha, do Coletivo de Luta pela Água, afirma que a crise continua presente para a população mais pobre de São Paulo.
A reportagem visitou alguns desses lugares, como a Rua das Jabuticabeiras, em Barueri, e encontrou pessoas como a dona de casa Maria Dirce, que vive uma crise hídrica cotidiana.
Em nota, a Sabesp esclareceu que levando em consideração apenas as perdas de água por vazamentos, cerca de 21%, o índice é semelhante ao de outras cidades no mundo.
Sobre a falta de água em algumas regiões, a empresa explicou que isso se dá pela redução da vazão da água durante a noite e que cabe aos clientes terem caixa d'água adequada a quantidade de moradores do local, para garantir o abastecimento por no mínimo 24 horas.