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Saúde

Covid-19: mais da metade dos internados em UTI tem menos de 60 anos

Mediana de idade é registrada pela primeira vez no país, diz Fiocruz
Douglas Corrêa - Repórter da Agência Brasil
Publicada em 21/05/2021 - 21:34
Rio de Janeiro
Fundação Oswaldo Cruz, FIOCRUZ
© Erasmo Salomão/MS

As notificações por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) aumentaram, informa o Boletim Observatório Covid-19, divulgado nesta sexta-feira (21) pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Os casos de SRAG são responsáveis por incidências graves de doenças respiratórias, que demandam hospitalização ou levam a óbito. São atualmente, em grande parte, devido a infecções por Sars-CoV-2.

Conforme o boletim, outro dado preocupante é que, pela primeira vez no Brasil, a mediana da idade de internações em unidades de terapia intensiva (UTIs) de todo o país ficou abaixo de 60 anos.

O ano de 2021 vem, a cada semana, apresentando rejuvenescimento da pandemia, alertam os pesquisadores. “Diferentemente das últimas semanas, mais da metade dos casos de internação hospitalar e internação em UTI ocorreram entre pessoas não idosas. Em relação aos óbitos, embora a mediana ainda seja superior a 60 anos, ao longo deste ano, houve queda num patamar de 10 anos. Os valores de mediana de idade dos óbitos foram, respectivamente, 73 e 63 anos”, diz o boletim.

A análise comparou a Semana Epidemiológica 1 (3 a 9 de janeiro) e a 18 (2 a 8 de maio) de 2021 e verificou que a mediana da idade das internações hospitalares (idade que delimita a concentração de 50% dos casos) foi de 66 anos na SE 1 para 55 anos na SE 18. Já a mediana de idade de internações em UTI foi de 68 anos na SE 1 para 58 anos na SE 18.

Casos de SRAG aumentam

Os estados  da Região Sul, que tiveram redução da doença nas semanas anteriores, apresentaram tendência de reversão, ou mesmo um aumento no número de casos de SRAG na Semana Epidemiológica 18.

.De acordo com os pesquisadores, mesmo nos estados que mostram redução ou estabilidade, o número de casos ainda permanecia muito alto, demonstrando a forte pressão sobre o sistema de saúde. “É fundamental que haja redução sustentada de número de casos para a recomposição do sistema de saúde, inclusive [para] reduzir [a] taxa de ocupação de leitos”, avaliaram.

A comparação da incidência das semanas epidemiológicas 8 e 9 e 18 e 19 mostra que poucos estados estão em patamar significativamente menor, como: Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima e Amapá, sendo que Mato Grosso, Paraná e as capitais dos estados da região Sul apresentam sinais de aumento.  

Segundo os pesquisadores da Fiocruz, os demais estados estão em níveis próximos ao observado em meados de março, ou mesmo acima, como é o caso de Mato Grosso do Sul, Maranhão, Pernambuco, do Rio de Janeiro e Espírito Santo. “O aumento ou estabilidade em níveis muito altos e com taxas altas de ocupação são cenários altamente indesejados”, destacaram. 

Leitos de UTI

De acordo com os pesquisadores do Observatório Covid-19, as taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS) no dia 17 de maio de 2021 sinalizaram quebra na expectativa que vinha sendo desenhada de melhoria do indicador no país nas últimas semanas.

A análise reforça que é preciso ficar atento a este momento da pandemia. “Caso não seja mantida uma queda sustentável, a pandemia poderá retomar a sua expansão”.  

As taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no SUS, que vinham mantendo tendência de queda lenta, mas relativamente consistente em grande parte do país, apresentaram entre os dias 10 e 17 de maio pequenas elevações em muitos estados e capitais, interrompendo a impressão de melhoria do quadro geral.

Redução da mortalidade

Durante as duas últimas semanas epidemiológicas, houve uma ligeira redução das taxas de mortalidade no Brasil. No entanto, as taxas de incidência, que refletem os casos novos de covid-19, permanecem em um platô alto.

Segundo o estudo, esse novo padrão epidemiológico pode ser resultado de uma conjunção de fatores como a vacinação de populações de maior risco, uma pequena redução da ocupação de leitos hospitalares, bem como do processo de rejuvenescimento da pandemia. 

Os pesquisadores analisaram que “combinados, estes novos fatores podem estar contribuindo para a diminuição da letalidade da doença, sem, no entanto, reduzir a transmissão da doença, que permanece intensa, como demonstrado pela alta taxa de positividade dos testes de diagnóstico realizados nas últimas semanas”. 

Novas variantes

Para os pesquisadores, um dado considerado preocupante nesse novo cenário epidemiológico, quando considerado o ritmo ainda lento de vacinação no país, é a possibilidade de introdução de novas variantes do vírus Sars-CoV-2 no Brasil.

Além disso, enfatizam os pesquisadores do Boletim Covid-19, “a flexibilização precoce de medidas de isolamento pode causar uma retomada na transmissão, com a geração de casos graves e óbitos nas próximas semanas, pressionando os serviços de saúde ainda sobrecarregados e com limitações para reposição de estoques de medicamentos e insumos".