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Festival Latinidades: racismo persiste no Brasil, reforçam ativistas

Mariana Tokarnia – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 24/07/2014 - 08:48
Brasília
Abertura do Festival Latinidades 2014: Griôs da Diáspora Negra, o maior festival de mulheres negras da América Latina. Na foto, ao centro, a ministra da SEPPIR, Luiza Bairros (Valter Campanato/Agência Brasil)
© Valter Campanato/Agência Brasil

Mesmo com a conquista de direitos civis, o racismo persiste em diversos níveis da sociedade brasileira e dos Estados Unidos. A opinião é da ativista, professora e filósofa norte-americana Angela Davis: "mesmo que o Brasil tenha sido proclamado uma democracia racial, há problemas sérios [de racismo], que são relacionados à economia, à sociedade e à política", disse em coletiva de imprensa no Festival Latinidades 2014: Griôs da Diáspora Negra, que vai até o dia 28, em Brasília.

Na opinião de Angela, o mesmo fenômeno acontece nos Estados Unidos. "O tipo de racismo que se tem depois [da conquista de direitos civis] é mais difícil de combater que antes". Ela cita o sistema carcerário e a polícia que, em ambos os países, perpetuam a discriminação. "Como no Brasil, nos Estados Unidos a raça importa quando é para determinar quem vai para a prisão e quem vai para a universidade".

No Brasil, o Mapa da Violência 2014 mostra que as principais vítimas são jovens do sexo masculino e negros, eles representam 53,4% do total de homicídios do país. Nas universidades, há um contraste, o Censo da Educação Superior de 2012 mostra que, dos 7 milhões de estudantes, 187 mil são pretos e 746 mil pardos, o que representa 13,3% do total.

 Griôs da Diáspora Negra, o maior festival de mulheres negras da América Latina. Na foto, a escritora brasileira Ana Maria Gonçalves (Valter Campanato/Agência Brasil)

A escritora brasileira Ana Maria Gonçalves na abertura do Festival Latinidades 2014: Griôs da Diáspora Negra, o maior festival de mulheres negras da América Latina Valter Campanato/Agência Brasil

"É preciso haver uma mudança em todas as instituições racistas que temos, que nesse caso do genocídio da população negra, é a polícia", disse a escritora brasileira mineira Ana Maria Gonçalves, também presente no evento. "O governo tem que criar uma polícia mais humanitária, tem que dar cursos sobre como se lida com o racismo dentro das instituições". Ana Maria é autora do premiado romance Um Defeito de Cor.

O racismo existe também entre as crianças, na escola. A escritora da Costa Rica, Shirley Campbell mora em um bairro nobre em Brasília, no Lago Sul. Quando se mudou para a cidade, ela matriculou a filha, de 4 anos, em uma escola perto de casa. "Ela me perguntou o que era ser preta. Fiquei asssustada. Mas respondi que era ser como nós. Ela me respondeu: 'Eu não quero ser preta, quero ser como todas as meninas da sala'".

A escritora se disse impressionada porque sabia que no Brasil, a maior parte da população é negra (50,7%), segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Onde estão os negros?", questiona Shirley, que logo responde: "Eu sei onde estão os negros do Lago Sul, estão nas paradas de ônibus, são os piscineiros, são os que trabalham nas casas".

O Festival Latinidades 2014: Griôs da Diáspora Negra começou ontem (23) e vai até o dia 28 de julho, em Brasília. Na programação estão previstos conferências, debates, feiras, saraus e shows, além de outras atividades. A programação completa pode ser acessada no site do evento.

 Griôs da Diáspora Negra, o maior festival de mulheres negras da América Latina. Na foto, ao centro, a ministra da Seppir, Luiza Bairros (Valter Campanato/Agência Brasil)

Abertura do Festival Latinidades 2014: Griôs da Diáspora Negra, o maior festival de mulheres negras da América Latina. Na foto, ao centro, a ministra da Seppir, Luiza BairrosValter Campanato/Agência Brasil