Exposição em São Paulo tem obras que podem ser tocadas pelo público

Conjuntos que podem ser desmontados pelos visitantes durante a

Publicado em 22/10/2016 - 09:03 Por Daniel Mello - Repórter da Agência Brasil - São Paulo

A exposição do escultor Rogério Ratão reúne 12 peças que podem ser vistas até o dia 29 de outubro no Memorial da Inclusão, zona oeste paulistana. Pelo menos a metade delas são rostos e bustos com feições nunca vistas pelo artista. As que fazem parte da série Devaneios surgiram a partir do exercício de modelagem no torno. “Eu estava, na verdade, criando seixos no torno, pedras de rio. E quando eu peguei isso na mão eu pensei: 'Nossa, poderiam ser cabeças?'”, disse Rogério sobre seu processo de trabalho.

 Duas esculturas de bustos masculino e feminino, chamadas Otávio e Eugênia , em bronze sobre um suporte de mármore, de perfil. Fazem parte da série Ilustres Desconhecidos

Duas esculturas de bustos masculino e feminino, chamadas “Otávio” e “Eugênia”, em bronze sobre um suporte de mármore, de perfil. Fazem parte da série “Ilustres Desconhecidos”Divulgação/Memorial da Inclusão

Os rostos ovais foram colocados sob pedestais que os deixam inclinados, com ar contemplativo. Conjuntos que podem ser desmontados pelos visitantes durante a apreciação dos trabalhos. Isso porque toda a exposição Impressões Táteis pode ser tocada pelo público. Os títulos da obra estão em letras grandes que facilitam a leitura para os que têm dificuldades de visão e texto em Braile para aqueles que não enxergam.

Essa é situação do próprio artista, que desde os 18 anos consegue perceber apenas algumas variações de luz. Rogério já tinha a visão de um dos olhos bastante prejudicada por problemas congênitos. Mas uma inflamação, no fim da adolescência, acabou atacando também o olho mais funcional do escultor.

Foi inicialmente como uma forma de reabilitação que, em 1992, Rogério foi estudar com o artista plástico Angel San Martin . O processo de aprendizado com a escultura foi parte de uma releitura do mundo. “Apesar de gostar de arte, querer ter feito arquitetura, eu não tinha experiência nenhuma com modelagem. Ainda mais, a partir de então, sem a visão. Eu tive mesmo que desenvolver muito o sentido tátil, não só da minha mão, mas do corpo inteiro”, disse.

Tocar nas obras

A experiência tátil, em outro sentido, foi uma novidade para as alunas de uma escola estadual de Sapobemba que visitaram a exposição. “A gente se aproxima da obra. Você consegue sentir os detalhes”, afirmou a estudante Mablyn Cristina, de 14 anos, que estava com as colegas com as quais fará um projeto ligado à acessibilidade na escola onde estudam.

“A gente consegue perceber o amor que ele teve para fazer as obras”, complementou, empolgada, Lívia Vieira (14 anos), outra participante do grupo que esteve no museu naquela tarde. A professora Iara Sobrinho, que acompanhava as estudantes, tentou resumir os sentimentos das jovens. “A visão dele é esse tato. Você consegue sentir o que ele quer passar, ver pela visão dele”.

Três esculturas em bronze sobre suporte de mármore. São três formas humanas, cada um tocando um instrumento diferente. Uma das esculturas está em pé, e outras duas sentadas. Faz parte da série Formas de um Choro .

Três esculturas em bronze sobre suporte de mármore. São três formas humanas, cada um tocando um instrumento diferente. Uma das esculturas está em pé, e outras duas sentadas. Faz parte da série “Formas de um Choro”.Divulgação/Memorial da Inclusão

A importância da descoberta do potencial dos sentidos está representada na exposição. Na primeira série, feita entre 1994 e 1995, um dos trabalhos é uma escultura de um par de mãos. Significativo do modo como Rogério foi descobrindo a usar seu corpo como medida do espaço e do material que modelava. “Eu tomo meu corpo como referência para criar uma relação de espaço”, disse.

A técnica aperfeiçoada foi usada para que o escultor traduzisse em bronze, assim como a maioria das peças da exposição, a afeição pela música clássica. “A minha segunda individual foi em cima do Choro de Câmara nº7 do Heitor Villa-Lobos. Eu fiz as musicistas que seriam necessárias para execução dessa obra”.

Em seguida, vem os bustos com nomes de gente comum. Ilustres Desconhecidos, segundo o título dado pelo artista. Retratos feitos com base na estética do início do século 20. “Sou apaixonado pela arte ocidental feita nas décadas de 1910, 20 e 30. Gosto muito da arte déco”.

O Memorial da Inclusão funciona, de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h, no complexo do Memorial da América Latina, zona oeste da capital paulista.

Edição: Aécio Amado

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