São Clemente homenageia Escola de Belas Artes da UFRJ

No enredo, o carnavalesco Jorge Silveira faz referência aos diversos

Publicado em 06/02/2018 - 08:56 Por Cristina Índio do Brasil - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

A São Clemente, do bairro de Botafogo, na zona sul do Rio, vai ser a segunda escola de samba a entrar na avenida no domingo (11) de carnaval, com o enredo Academicamente Popular, que saúda a história da Escola de Belas Artes (EBA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Esta reportagem é parte da série que a Agência Brasil publica, até o carnaval, sobre os preparativos para os desfiles das escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro.

O tema escolhido pela São Clemente tem muita ligação com o carnavalesco Jorge Silveira, que estudou na EBA entre 1999 e 2003 e se formou em Educação Artística.

Jorge Silveira estreia na São Clemente com enredo sobre a Escola de Belas Artes, onde se formou

Jorge Silveira estreia na São Clemente com enredo sobre a Escola de Belas Artes, onde se formouCristina Índio do Brasil/Agência Brasil

Jorge substituiu a carnavalesca Rosa Magalhães, também formada pela Escola de Belas Artes e que neste ano está na Portela. Como professor de Artes, Silveira já tinha desenvolvido pesquisa sobre a história da Escola da UFRJ e foi a partir do estudo, disponível na internet, que surgiu o convite da São Clemente.

“Foi iniciativa da escola, portanto, tornar este enredo uma homenagem aos 200 anos da Escola de Belas Artes realidade”, disse o carnavalesco, que elogiou o suporte da instituição para que ele pudesse desenvolver o enredo.

Os impactos provocados pela redução à metade dos recursos financeiros repassados pela prefeitura e pela interdição dos barracões pelo Ministério Público do Trabalho, nos meses de outubro e novembro, para garantir mais segurança nos profissionais do barracão, não impactaram de forma significativa o cronograma da São Clemente.

Jorge creditou isso à experiência que já tinha adquirido nos anos de serviços em escolas da Série A, até ser, no ano passado, carnavalesco da Viradouro. Essas agremiações têm uma realidade mais difícil de falta de estrutura e de dinheiro.“Estou acostumado a trabalhar com a dificuldade. Na Série A, a restrição é modus operandi. É normal ter dificuldade. Já estava espiritualmente calejado para um ano de dificuldade. Foi muito além do que a gente imaginava, mas a gente conseguiu resolver com planejamento”, contou.

Para driblar possíveis atrasos no desenvolvimento do enredo, o carnavalesco entrou no barracão com antecedência, no dia 3 de março. Isso permitiu ter acesso a profissionais especializados antes de serem contratados por outras escolas e a orçamentos mais baratos de materiais. O resultado é que em junho já tinha um carro alegórico de pé.

“Enquanto tinham escolas sem decidir o enredo que iam fazer, eu já estava construindo carro alegórico. Isso para mim foi uma enorme vantagem. Quando houve a interdição dos barracões, eu já tinha quatro alegorias em pé. A gente resolveu o problema com muito trabalho de antecedência e planejamento”, disse.

Ateliês no barracão da São Clemente, onde são preparados as fantasias e os adereços da escola

O trabalho nos ateliês do barracão da São Clemente começou cedo, logo depois do carnaval, o que permitiu à escola economizar recursos em um ano de cortes no orçamento Cristina Indio do Brasil/Agência Brasil

Relação entre academia e carnaval

Para o professor de arte e carnavalesco, a parceria entre as escolas de samba e o mundo acadêmico é perfeitamente possível. “É uma junção natural e não uma invenção minha. Eu termino meu carnaval prestando uma homenagem à geração de professores que saíram da Escola de Belas Artes e foram fazer carnaval nos barracões, nos anos de 50 e 60. Essa relação da escola de samba com a Escola de Belas Artes é de várias décadas que se passaram no carnaval, com muitos títulos e com grandes nomes. Com o conhecimento que eles transferiram da academia para o barracão, redimensionaram a escola de samba para transformá-la no maior espetáculo audiovisual do planeta”, avaliou.

Para Jorge, há uma ligação direta entre o que se faz nos barracões da Cidade do Samba e nos ateliês da Belas Artes. “O ateliê da Escola de Belas Artes é muito semelhante ao ateliê de um barracão. A gente tem escultura, pintura, resina, tecido, tudo o que existe na oficina de Belas Artes tem no barracão”, indicou, citando, ainda o conhecimento de materiais, técnicas construtivas, a paleta de cores, como parte dessa experiência incluída no trabalho dos barracões.

Nos ateliês das escolas na Cidade do Samba, que ficam no quarto andar, os artistas e costureiras fabricam fantasias e adereços que passarão na avenida durante os desfiles. Jorge acompanhou de perto o trabalho durante todo o desenvolvimento do enredo.

Setores do desfile

A primeira parte do desfile da Amarelo e Preto de Botafogo vai tratar da chegada da missão artística francesa ao Brasil, a pedido de dom João VI, para atuar na instituição desde sua construção. Depois passa pela influência de Debret, que retratou a vida cotidiana da cidade do Rio de Janeiro naquela época.

O terceiro setor vai mostrar a glória e esplendor dos salões da academia quando os alunos competiam por medalhas e premiações. O destaque no setor será o primeiro grupo de professores brasileiros que substituiu os franceses e se tornou elite da arte no Brasil.

O quarto setor trará a ruptura dentro da academia, que se deu quando alunos saíram do interior da escola para as ruas, para pintarem em contato com a natureza, se libertando dos paradigmas dos manuais franceses.

Em seguida, será apresentada a arte moderna genuinamente brasileira, com temáticas que representavam o homem comum: o caipira, o pescador, o dia a dia do brasileiro nativo.

No final, vem a homenagem aos carnavalescos vindos da Belas Artes. Além das escolas de samba, eles influenciaram a decoração da avenida Presidente Vargas e da avenida Rio Branco, ambas no centro, onde ocorriam os desfiles antes da construção do Sambódromo.

Edição: Lidia Neves

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