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Neguinho da Beija-Flor diz que resultado no Rio valorizou enredos críticos

Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 14/02/2018 - 19:03
Rio de Janeiro

O cantor Neguinho da Beija-Flor, intérprete da azul e branco de Nilópolis, disse que o resultado do campeonato da sua escola e da Paraíso do Tuiuti, que ficou em segundo, é consequência dos enredos que expressaram o pensamento da sociedade brasileira. “Ganharam duas escolas que falaram aquilo que o povo gostaria de falar, para os governantes, há muito tempo”, afirmou.

Neguinho completa 42 anos de desfile com a Beija-Flor

Neguinho da Beija-Flor disse que as escolas falaram "o que o povo gostaria de falar". Cristina Índio do Brasil/Agência Brasil

Para o intérprete da Beija-Flor o samba-enredo que recebeu nota máxima e era o quesito desempate, contribuiu para a conquista do título porque era um samba forte. “Veja o que aconteceu com a Tuiuti, também tinha um excelente samba. Os melhores sambas do carnaval, e olha as colocações das escolas. O samba é primordial. Na minha concepção, um bom samba é 70% de um bom desempenho”, contou.

O bailarino Marcelo Misailidis, coreógrafo da comissão de frente da Beija-Flor e autor do enredo com que a escola ganhou o título de campeã de 2018, disse que, com os trabalhos maravilhosos apresentados na Marquês de Sapucaí, o resultado da campeã sempre é uma incógnita. “Lamento que o carnaval seja uma competição às vezes tão dura entre obras artísticas de tanta qualidade, mas fico feliz por essa mensagem ter atingido o coração e despertado emoção em todas pessoas”, afirmou.

Após com o título, ele disse que a vitória maior foi da mensagem que a escola passou no desfile. “A vitória que fala sobre um enredo que acontece cotidianamente nessa cidade, acontece cotidianamente nesse país. É luta por uma dignidade maior, por uma cidade melhor, para que haja mais segurança melhor e mais controle com relação a qualidade da educação e da saúde. Então, o enfoque, acho que é a grande vitória desse processo e fico feliz por isso”, apontou.

Crise

Mas nem tudo é alegria no título da Beija Flor. Laíla, diretor de Carnaval da escola, saiu do Sambódromo reclamando das dificuldades que enfrentou na preparação do carnaval. Disse que precisou de muito empenho para impedir uma crise na agremiação e mandou um recado ao presidente de honra, Anísio Abraão David.

“Eu vou te pedir, Anísio, se eu não te sirvo me manda embora cara. Deixa eu ajudar o irmão que está necessitando, o Jayder [Jayder Soares, presidente de honra da Escola de Samba Acadêmicos do Grande Rio] está necessitado e ele é nosso irmão”, disse, dando o sinal de que pode se transferir para escola de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A escola foi uma das duas que caíram para o grupo da Série A. A outra foi o Império Serrano.

Tuiuti

Na Tuiuti, o diretor de carnaval Thiago Monteiro disse que a conquista do vice-campeonato foi o resultado do trabalho de um grupo. “Acabamos de mostrar que, com trabalho e dedicação, [a escola] pode ser competitiva. Parabéns para o grupo. Parabéns à Beija Flor, parabéns a Nilópolis, mas está aí a Tuiuti”, indicou.

Mangueira

O presidente da Mangueira, escola que ficou na quinta colocação, disse que não discute resultado da disputa, mas acrescentou que a escola fez o papel dela na avenida. “A Mangueira fez a parte dela e os jurados entenderam de outra forma, eu respeito”, disse. Ele pediu ainda que a comunidade da Mangueira continue confiando nele como sempre fez.

Imperatriz

Na Imperatriz Leopoldinense, que ficou em oitavo lugar com o enredo Uma Noite Real no Museu Nacional, que homenageava os 200 anos do Museu Nacional, o diretor de carnaval, Wagner Araújo, disse que algumas notas dadas pelos julgadores o surpreenderam, porque esperava receber avaliações melhores. Ele admitiu que a escola poderia ser punida no quesito alegorias e adereços.

Segundo o diretor, agora a direção da escola vai aguardar a divulgação pela Liga Independente das Escolas de Samba do Rio (Liesa) das justificativas dos jurados para corrigir o trabalho para o carnaval de 2019. “Sentar com calma, discutir e falar se tem que mudar alguma coisa. Se as ideias têm que ser diferenciadas. O momento é de bastante decepção”, contou.

Grande Rio

A Grande Rio, que desfilou com o enredo Vai para o Trono ou não vai?, em homenagem ao comunicador Abelardo Barbosa, o Chacrinha, ficou em 12º lugar e com isso caiu para o grupo da Série A. Nos últimos anos, a escola de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, sempre estava entre as seis mais bem classificadas e, por isso, voltava a desfilar no Sábado das Campeãs. Dessa vez a derrota pesou nos componentes.

O casal de mestre-sala e porta-bandeira Daniel Werneck e Verônica Lima recebeu três notas 10 e uma 9,9, que foi descartada conforme o sistema de contagem das notas. Mesmo garantindo os pontos máximos e terem recebido o Estandarte de Ouro, prêmio concedido pelos jornais O Globo e Extra, a tristeza bateu forte. “É um sentimento de muita dor, porque a Grande Rio foi julgada com muita cobrança e mão de ferro. A gente vê outras escolas errarem e não são penalizadas com tanto rigor. Isso é muito doloroso pra gente”, disse Verônica.

Portela

Para a Tia Surica, cantora e uma das figuras de destaque da Portela, o quarto lugar da escola não estava na expectativa, mas, ainda assim, considerou que o título conquistado pela Beija-Flor foi merecido. “Foi merecido. Ganha aquela que erra menos”, disse, sem, no entanto, achar que a Portela errou demais, apenas não conseguiu superar o desfile da escola de Nilópolis. “Não deu para gente, vamos lutar para o ano que vem”, completou.