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Cultura

CCBB-RJ: Clube de Leitura traz Rubens Paiva em memórias e investigação

Evento será nesta quarta-feira, às 17h30
Cristina Índio do Brasil - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 13/05/2025 - 08:05
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro (RJ) 12/05/2025 - Centro Cultural Banco do Brasil CCBB. Foto: CCBB/Divulgação
© CCBB/Divulgação

O escritor, dramaturgo e jornalista Marcelo Rubens Paiva e a também jornalista, escritora e apresentadora Juliana Dal Piva têm trabalhos que se entrelaçam pelas histórias abordadas. Essa ligação levou o Clube de Leitura do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro, no centro da cidade, a convidar os dois para a terceira edição deste ano. O encontro será nesta quarta-feira (14), às 17h30.

Rio de Janeiro (RJ) 12/05/2025 - Marcelo Rubens Paiva. Foto: Cia das Letras/Divulgação
Marcelo Rubens Paiva focou na vida de Eunice Paiva ao escrever o livro Ainda Estou Aqui - Cia das Letras/Divulgação

Enquanto Marcelo vai conversar com o público sobre as histórias do seu livro Ainda Estou Aqui, que baseou vencedor do Oscar de Filme Internacional em março deste ano, a participação de Juliana é sobre Crimes sem Castigo: Como os Militares Mataram Rubens Paiva, o livro documental que foca na investigação do desaparecimento do ex-deputado federal Marcelo Rubens Paiva durante a ditadura militar.

Em Ainda Estou Aqui, a personagem principal é Eunice Paiva, casada com o deputado Rubens Paiva, que esteve ao lado dele quando foi cassado e exilado, em 1964. Mãe de cinco filhos, entre eles Marcelo, teve que criá-los sozinha após o marido ter sido preso por agentes da ditadura, em janeiro de 1971, torturado e morto. Mesmo diante de tanto sofrimento resistiu, voltou a estudar, formou-se em direito e tornou-se defensora dos direitos indígenas. No livro, ao falar da doença de Alzheimer da mãe, Marcelo traz memórias da família, incluindo os momentos difíceis sem a presença do pai que foi levado sem explicações.

O engenheiro e ex-deputado federal Rubens Paiva nunca mais voltou para casa depois de ser levado, pelo grupo de militares, na presença da mulher e de filhos. Foram anos de tentativas de Eunice para saber o que tinha ocorrido na verdade com o marido e onde ele estava.

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Investigação

No livro Crime sem Castigo: Como os Militares Mataram Rubens Paiva, Juliana Dal Piva trata da investigação do caso e mostra como o processo, aberto em 26 maio de 2014, por homicídio e ocultação de cadáver do ex-deputado federal Rubens Paiva, deu um novo rumo no poder Judiciário brasileiro para a impunidade contra os crimes cometidos por militares durante a ditadura iniciada em 1964. Pela primeira vez, a ação de um juiz pedia a punição criminal de um assassinato cometido naquele período.

A tarefa de desvendar o caso não foi fácil e teve monitoramento da ditadura a cada passo dado no sentido de descobrir o que tinha ocorrido e impedir que a verdade aparecesse. Somente em 2014, foi possível que o grupo de Justiça de Transição do Ministério Público Federal no Rio de Janeiro (MPRJ) resolvesse o caso, o que resultou em cinco militares apontados pelo assassinato de Rubens Paiva.

Juliana Dal Piva disse que costuma conversar com Marcelo, inclusive decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) de retomar discussão sobre limites da Lei de Anistia para não atingir crimes contra a humanidade como é o caso de Rubens Paiva.

Rio de Janeiro (RJ) 12/05/2025 - Juliana Dal Piva. Foto: Custódio Coimbra/Clube de Leitura CCBB
Juliana Dal Piva se dedicou a investigar a vida de Rubens Paiva - Custódio Coimbra/Clube de Leitura

“O filme e sobretudo o trabalho do livro do Marcelo gerou isso. Eu fico feliz em me somar a isso e somar a esse trabalho. Para o Marcelo é a vida, a história, a biografia dele. Ele vai com este olhar de dentro da família e eu sou uma jornalista que faz investigação. Me dediquei a investigar o desaparecimento do pai dele. O meu livro reúne muito mais do que o meu trabalho em torno disso, mas todas as iniciativas que se fizeram de investigação sobre o assassinato e o desaparecimento de Rubens Paiva desde 1971”, analisou em entrevista à Agência Brasil.

O encontro será uma oportunidade de juntar a literatura da obra de Marcelo Rubens Paiva com o testemunho da história do país do livro de Juliana Dal Piva.

“Como o Marcelo não trata especificamente do crime com os detalhes, com tudo que eu trago como jornalista, acho que a gente consegue fazer uma conversa em que a literatura está no cenário dos dois modos, mas eu trago o jornalismo, a investigação e a luta por justiça por um lado e ele por outro", pontuou a escritora.

"Acho que o Oscar simbolizou uma vitória em algum sentido, alguma justiça para a família do Rubens Paiva, para o Marcelo e demais filhos. Para além da família Paiva, acho que o Oscar do filme Ainda Estou Aqui também faz justiça às demais vítimas da ditadura e seus familiares, porque fazer com que o mundo conheça quão brutal e monstruosa a ditadura brasileira foi, é uma vitória importante mesmo que ainda assim seja incompleta, mesmo que o desejo por justiça seja mais amplo”, concluiu.

Linguagem

A curadora e mediadora do Clube de Leitura, Suzana Vargas, disse que esta edição trará um mesmo fato à luz da literatura com a vivência de uma família dentro da ditadura, ao mesmo tempo em que trata da sua parte documental sobre o que aconteceu com o ex-deputado federal.

“Vamos poder pensar qual o sentido da literatura e o valor de um documento, como essas duas linguagens são importantes. Em um Clube de Literatura, que trabalha literatura, não existe nada melhor do que se conscientizar de que a literatura nos devolve a vida de uma forma mais humana. O livro Ainda Estou Aqui mostra esse fato por dentro como foi vivenciado pelas pessoas que fizeram parte desse acontecimento, como afetou as pessoas em volta, a família, amigos e principalmente a personagem principal do livro e do filme que é a Eunice Paiva”, disse à Agência Brasil.

“A Eunice surge com muito mais força na literatura. A literatura é que mostra a Eunice protagonizando, mas no livro da Juliana o protagonismo é do desaparecido, do Rubens Paiva”, acrescentou.

O poeta Ramon Nunes Mello, que será mediador da conversa com Suzana Vargas, revelou que está com uma expectativa muito grande, porque o encontro trata da memória do país e sobretudo do livro do Marcelo que inspirou o filme que ganhou o Oscar.

Para o mediador o relato do Marcelo neste livro é muito emocionante porque trata não somente da questão do desaparecimento do Rubens Paiva pela ditadura, mas também traz a mãe dele com um olhar muito humano e afetivo sobre a questão de uma mulher que lutou pela memória do marido e que perdeu a memória com a doença.

“Acompanhar este trajeto dela de luta política, não só pelo Rubens Paiva, mas pelos indígenas, e ver ela na sua intimidade perdendo memória e cuidada pelos filhos é muito forte. Quando vem o livro da Juliana Dal Piva em que ela pesquisa justamente o episódio do Rubens Paiva é um complemento grande porque é um trabalho primoroso de jornalismo investigativo político tratando de uma questão que é muito atual, política no sentido de se preservar a democracia e a luta dos direitos humanos. Vai ser uma conversa muito interessante”, adiantou à reportagem.
 

Evento

O Clube de Leitura CCBB, que tem patrocínio do Banco do Brasil, completa quatro anos e busca a interface da literatura com outras artes como a música, o teatro e o cinema. A participação de Marcelo será online, em tempo real, enquanto Juliana estará presente na companhia dos mediadores Suzana Vargas e Ramon Nunes Mello. A entrada é gratuita e os ingressos ficam disponíveis a partir das 9h do dia do evento.

Os eventos realizados no Salão de Leitura da Biblioteca Banco do Brasil, no quinto andar do CCBB Rio, são gravados e os vídeos ficam disponíveis, na íntegra, no canal do Banco do Brasil no YouTube, na semana seguinte ao evento. As edições de 2025 seguem até dezembro, sempre na segunda quarta-feira de cada mês. Nos 30 minutos finais o microfone é aberto para a plateia fazer perguntas.