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Direitos Humanos

Refugiados do Congo fazem ato em Copacabana para pedir paz em seu país

Akemi Nitahara – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 21/11/2016 - 06:42
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro - Refugiados do Congo caminham na Praia de Copacabana em ato contra a guerra civil, violações de direitos humanos e por garantia de eleições presidenciais em seu país  (Fernando Frazão/Agência Brasil)
© Fernando Frazão/Agência Brasil
Rio de Janeiro - Refugiados do Congo caminham na Praia de Copacabana em ato contra a guerra civil, violações de direitos humanos e por garantia de eleições presidenciais em seu país (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Refugiados  do  Congo  caminham  na  Praia  de  Copacabana  em  ato  contra  a  guerra  civil  e  as  violações  de direitos humanos  e  pela  garantia  de  eleições  presidenciais  em  seu  país     Fernando Frazão/Agência Brasil

O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, foi a data escolhida pela comunidade refugiada da República Democrática do Congo no Rio de Janeiro para pedir paz e democracia no país, que está em guerra há 20 anos. Cerca de 100 pessoas se reuniram na Avenida Atlântica, com cartazes pedindo paz e democracia, e cantaram músicas e o hino do país africano. Alguns integrantes do movimento explicavam às pessoas que passavam pelo local a situação do Congo. Depois, o grupo saiu em passeata cantando e dançando até o Forte de Copacabana, onde foi realizado um ato ecumênico.

Há oito anos no Brasil, o refugiado congolês Charly Kongo disse que o objetivo do ato foi sensibilizar o povo brasileiro para a situação vivida em seu país. “A gente resolveu fazer esse ato porque o dia tem um significado para o povo negro e para mostrar o desejo do povo congolês pela paz e na procura pela liberdade e a democracia. Nós fugimos da guerra e estamos só pedindo paz e democracia. A falta de democracia e a guerra é que fazem a gente fugir para o Brasil ou outros países.”

De acordo com Charly, a eleição prevista para dezembro foi desmarcada pelo presidente do Congo, Joseph Kabila, que está há 15 anos no poder. “Em dezembro não vai ter eleição, já está claro. Os políticos estão tentando fazer alguns acordos, m. Mas o desejo real do povo é a democracia, a alternância de poder lá”.

Os refugiados pedem ao governo brasileiro mais apoio para conseguir sair do país africano e se estabelecer aqui. Há há dois anos no Brasil, onde chegou grávida e com três filhos, Júlia Salú diz que, apesar de ter sido bem acolhida no país, o processo poderia ser mais humanizado e rápido.

“Estamos pedindo ajuda ao governo brasileiro para ajudar o povo, porque quando [o refugiado] chega não tem lugar para morar. É muito difícil, eu passei por isso, cheguei grávida e com três filhos, não conhecia ninguém e não tinha para onde ir. Fiquei na casa de outra congolesa que eu não conhecia, até me estabelecer. Se o governo tivesse um lugar para acolher os refugiados congoleses que chegam, ajudaria muito. E ver a questão de documentação também; eles dão, mas demora um tempo”.

Segundo o Ministério da Justiça, os congoleses são a quarta maior comunidade refugiada no Brasil – quase mil pessoas – atrás dos sírios, angolanos e colombianos. A agente de proteção legal no programa de refugiados da Cáritas Aryadne Bittencourt explicou que o ato, o primeiro organizado pelos refugiados, teve o objetivo de aproximar o brasileiro da realidade da República Democrática do Congo.

“O objetivo de trazer esse movimento para a praia é tentar aproximar uma realidade que parece distante, que está no meio da África, com décadas de violência e morte, por uma realidade aqui no Brasil. A diáspora congolesa está espalhada para o mundo inteiro. Os congoleses são a quarta principal nacionalidade de refugiados reconhecidos no Brasil e uma das principais nacionalidades que continuam chegando. Aqui no Rio, a comunidade mais forte e densa de refugiados é formada pelos que chegam da República Democrática do Congo”, disse Aryadne.

Ela ressaltou que a escolha da data do evento evidencia a "invisibilidade" dos problemas de países africanos na sociedade. “Parte da motivação da indignação dos refugiados sobre a falta de pauta de refugiados congoleses na mídia, nos estudos ou na sociedade civil se remete a um lugar social que os negros têm, tanto no Brasil quanto no mundo. Hoje, a principal mobilização sobre pessoas refugiadas no mundo se refere aos sírios. A gente não pode negar a tragédia humanitária que é a situação na Síria, mas tem cinco anos, enquanto os congoleses, nos últimos 20 anos, têm mais de 6 milhões de mortos e ninguém fala sobre isso. Então, fazer no dia 20 é poder relacionar o lugar racial nessa questão humanitária.”

República Democrática do Congo

Segundo maior país da África, a República Democrática do Congo, chamada de Zaire entre 1971 e 1997, fica na região central do continente e tem uma população de 70 milhões de habitantes. De colonização belga, conseguiu sua independência em 1960, e a língua oficial é o francês.

A guerra no país é considerada a mais sangrenta desde a 2ª Guerra Mundial, com mortos e desaparecidos estimados em 6 milhões de pessoas e envolvendo milícias e exércitos vizinhos e o controle de territórios ricos em diamante. Desde 2000, a Organização das Nações Unidas (ONU) mantém uma missão no país com o objetivo de contribuir para o processo de paz, chamada de Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo (Monusco).

Há 15 anos no poder, o presidente Joseph Kabila adiou para julho de 2017 a eleição que deveria ocorrer no dia 19 de dezembro, conforme previa a Constituição aprovada em 2006, com o argumento de que o país está realizando o censo eleitoral e não tem condições de organizar o pleito neste momento. Kabila assumiu o poder em 2001, após o assassinato do então presidente, Laurent-Désiré Kabila, seu pai, e venceu as eleições presidenciais em 2006 e em 2011.