Azevêdo: discussões para avanços após acordo de Bali já começaram
O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, disse hoje (27) que as discussões para avançar na Rodada Doha - após o acordo comercial de Bali, na Indonésia - já começaram. “Em Genebra, estamos conversando, aquecendo as turbinas. O Acordo de Bali não trata de todos os temas da Rodada Doha. Há todo um leque de assuntos que voltam para a mesa, inclusive os temas agrícolas”, declarou, em audiência pública conjunta, no Senado, das comissões de Assuntos Econômicos, Relações Exteriores e Agricultura, na qual respondeu a questionamentos dos senadores.
O diretor da OMC disse que visitou recentemente a Índia, Europa e os Estados Unidos, e sentiu que há “grande nível de apoio”, à continuidade das negociações. Ele ressaltou também que os subsídios agrícolas, incentivos concedidos pelos países para os produtores a fim de tornar os produtos mais competitivos, “muito provavelmente” estarão na pauta de uma nova rodada de discussões. “[Os subsídios] têm um potencial enorme de distorção, que pode prejudicar o comércio de outros países”, destacou. Os serviços e os produtos industriais também são parte da agenda da Rodada Doha.
Celebrado em dezembro de 2013, o Acordo de Bali foi a primeira negociação comercial global fechada pela OMC após um período de quase 20 anos sem avanços. “Sem dúvida [o Acordo de Bali] interessa muito ao Brasil, significa mais negócios para as empresas brasileiras. [Deve] reduzir os custos de comércio [internacional] em torno de 13% a 15%”, destacou Azevêdo.
Ele também comentou possíveis impactos de acordos regionais para negociações multilaterais, como as conduzidas pela OMC. “É importante lembrar que acordos preferenciais não são novidade, sempre existiram. A diferença é que, nos últimos anos, avançaram, e as negociações entre os 160 membros da OMC continuaram paralisadas. Eu não vejo nenhuma ameaça. Acho que são coisas que se complementam. As regras [do comércio internacional] preveem esses acordos e os disciplinam”.
Após a audiência no Senado, Azevêdo se encontrou com a presidenta Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, para tratar do assunto. Segundo ele, a presidenta dá “total apoio” aos esforços para que as negociações sejam retomadas. “[Ela] disse que o êxito da conferência ministerial de Bali deveria servir de inspiração para alcançarmos acordos comerciais ainda mais abrangentes e profundos num futuro próximo.”
De acordo com o diretor-geral, Dilma também expressou satisfação pelo fato de o Mercosul estar em condições de fazer sua oferta comercial aos parceiros europeus no âmbito das negociações com a União Europeia. Roberto Azevêdo disse que, na conversa, ele e a presidenta não trataram de nenhum tema específico sobre os contenciosos brasileiros, como o do algodão com os Estados Unidos.
O diretor-geral disse que, entre os assuntos que voltam à mesa, estão três pilares centrais da negociação: agricultura, bens industriais e serviços. “Há uma tentativa agora de examinar como acordar aqueles temas que levaram a impasse no passado, em 2008, 2009, 2010”, afirmou a jornalistas após a reunião com Dilma.
*Colaborou Paulo Victor Chagas
