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Economia

Após tragédia de 2011, Polo de Moda Íntima de Friburgo enfrenta nova crise

Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 26/07/2015 - 13:30
Rio de Janeiro
Enchente de 2011 em Nova Friburgo

Temporais de 2011 destroem em Nova FriburgoArquivo/Agência Brasil

As empresas integrantes do Polo de Moda Íntima de Nova Friburgo, responsável por mais de 25% da produção do mercado nacional, conseguiram se recuperar após a enchente que destruiu boa parte da região serrana do Rio de Janeiro, no início de 2011, e enfrentam agora a crise econômica brasileira. A cidade é reconhecida há alguns anos como a capital brasileira da moda íntima.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Vestuário de Nova Friburgo e Região (Sindvest), Marcelo Porto, disse à Agência Brasil que são duas situações adversas, mas encaradas de forma diferente. A tragédia de 2011 dependeu mais da solidariedade. “Foi uma situação pontual que levou a população a se mobilizar”, destacou.

Por ser um arranjo produtivo (aglomeração de empresas de um mesmo ramo), o polo reúne 1.324 empresas, a maioria micro e de pequeno porte, que empregam entre 24 mil e 26 mil pessoas. Segundo Marcelo Porto, essas empresas enfrentam situações distintas. Enquanto umas estão fechando devido à atual crise econômica, outras funcionam de madrugada para atender à demanda. “À medida que vem a crise, há uma adequação aos novos tempos. Algumas grandes empresas deixam de existir, criando oportunidade para o surgimento de pequenas células de produção.”

O presidente do Sindvest ressaltou que mais do que preço, o nível de criatividade e a percepção de valor do produto fabricado na região são fatores que determinam o sucesso do empreendimento. Para ele, inovação, design, estudo, tecnologia são pontos de destaque para uma empresa que quer superar com excelência a crise. A valorização do dólar também facilitou a volta de algumas empresas ao mercado exportador.

O diretor da pequena empresa Suspiro Íntimo, Carlos Eduardo de Lima, no mercado de lingerie há 25 anos, disse que durante a enchente de 2011, empresários e população se empenharam para enfrentar o caos em que a cidade se transformou. “A gente teve perdas de pessoas da confecção e de parentes de funcionários, ficamos cerca de 40 dias fechados, a própria equipe se mobilizou para retirar a lama que se acumulava. Agora, estamos em outra crise [econômica], para a qual estamos tirando novamente força de nós próprios”, disse.

Alguns empresários, assim como Lima, estão investindo na Feira de Moda Íntima (Fevest), voltada a compradores nacionais e estrangeiros, que ocorrerá na cidade entre os dias 2 e 4 de agosto próximo, para manter os empregos e continuar no mercado. Em 2011, a Suspiro Íntimo tinha 120 funcionários. Hoje, são 102 empregados. O forte da empresa são as vendas no mercado doméstico.

Já a diretora da confecção Molambo, especializada em moda para dormir, Patricia Ribeiro, também atuando há 25 anos, prefere esquecer a tragédia de 2011. Disse que a cidade se recuperou totalmente e que o trabalho empreendido acabou superando todo o trauma das perdas de vidas humanas. “Perdas não se recuperam, mas o resto já foi recuperado”. A pequena empresária acredita que o desafio para o setor agora é superar a atual crise econômica no país. A inovação é a ferramenta.

Com 20 empregados, a Molambo produz cerca de 12 mil peças por mês, distribuídas para o mercado nacional, com destaque para o Nordeste, além do Sul e Sudeste. Patricia pretende manter as vendas atuais, apesar da crise. “É hora de trabalhar com o pé no chão e não dar nenhum passo em falso.”

Enchente de 2011 em Nova Friburgo

Cidade de Nova Friburgo ficou arruinada pela forte chuva de 2011Arquivo/Agência Brasil

O subsecretário de Planejamento e Desenvolvimento Econômico de Nova Friburgo, Carlos Boueke, disse que após a enchente de janeiro de 2011, a prefeitura apoiou as confecções do Polo de Moda Íntima fomentando o retorno da Fevest, que havia sido interrompida em função de um ciclo econômico desfavorável, anterior à tragédia. Naquele mesmo ano, o governo local conseguiu realizar uma feira modesta, para que as indústrias pudessem ter já algum retorno financeiro. Graças ao apoio do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Rio de Janeiro (Sebrae-RJ) e do governo fluminense, a feira “voltou a ser a mais importante do país nesse segmento”, disse Carlos Boueke.

Em 2013, começou a construção do Centro de Referência da Moda (Senai Moda), iniciativa da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e prefeitura, hoje em funcionamento, onde ocorrem fóruns de discussão e treinamentos para o desenvolvimento do polo.

Um condomínio empresarial foi construído dentro do município também como apoio às indústrias afetadas pelo desastre climático, para instalar pequenas confecções em um local mais adequado e seguro. O cadastro da prefeitura lista 60 indústrias interessadas. Já estão instaladas no condomínio e produzindo três confecções, além de um grupo de quatro empresas em fase de instalação. Dentro do condomínio, será implantado um centro de convenções, cujo projeto foi aprovado pelo governo fluminense.

Para facilitar a rotina das empresas da região, a prefeitura vai abrir nos próximos dias a Sala do Empreendedor, que tornará mais ágil a emissão de alvarás, mudanças de atividade e de endereço dos empresários. “A gente pretende entregar no mesmo dia a empresa legalizada para o empreendedor, dependendo do grau de risco dele”, destacou o subsecretário. Convênio com a Junta Comercial do Estado (Jucerja) permitirá a abertura no local de uma delegacia do órgão, o que evitará que os empreendedores tenham que ir à capital fluminense tirar o registro das empresas.