BC: espaço para maior corte de juros é resultado de queda da inflação
O presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, disse hoje (7) que o espaço para fazer um corte de juros maior é resultado da melhora nas expectativas para a inflação.
“Esse espaço para intensificação da flexibilidade se ganha por ter capacidade de ancorar as expectativas. É como se fosse um investimento que foi muito importante e não pode ser perdido. É um investimento que nos permite ter juros mais baixos sustentáveis e por mais tempo”, disse em café da manhã com jornalistas, na sede do BC, em Brasília.
Ontem (6), o BC informou, na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que pode haver mais espaço para redução da taxa básica de juros, a Selic, do que o percebido anteriormente.
Na semana passada, o comitê deu continuidade ao processo de redução da Selic. A taxa foi reduzida em 0,25 ponto percentual, caindo para 13,75% ao ano. Esse foi o segundo corte de 0,25 ponto percentual.
Questionado sobre pressões para baixar os juros, Goldfajn disse que isso é recorrente no Brasil. Ele avaliou que o BC está fazendo o que é necessário, tem credibilidade e agora é “parte da solução”.
Recuperação gradual
Goldfajn disse que o BC achava que a partir de setembro haveria uma reversão mais forte da recessão econômica, mas isso não aconteceu. “[Isso] não significa que não vai ter recuperação. A gente vê uma recuperação gradual mais adiante. Temos projeção de crescimento para 2017 melhor que 2016 e 2018 melhor do que 2017.”
O presidente do BC acrescentou que o Banco Central é sensível ao nível de atividade mais fraca porque leva à redução das expectativas de inflação. Ele lembrou que, na reunião do Copom, discutiu-se a possibilidade de intensificar o corte de juros imediatamente porque a inflação vem caindo.
Entretanto, levou-se em consideração a resistência de alguns componentes do índice de preços. “Essa resistência, pode ser que daqui para frente venha a diminuir. Por duas razões: uma que a gente está vendo a inflação caindo e segundo porque a atividade está mais fraca do que a gente imaginava”, destacou.
Os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) também consideram avanços nas reformas propostas pelo governo. Entretanto, decidiu-se esperar até a reunião do Copom em janeiro. “No final, houve consenso de aguardar para fazer a decisão sobre a intensificação na próxima reunião”, afirmou.
Goldfajn também disse que o cenário externo é mais desafiador, com a decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia (Brexit) e a eleição de Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos. “O cenário é mais desafiador, mas não tem uma ligação mecânica entre o cenário externo e a política monetária [decisões sobre a Selic] porque tem que observar todos esses efeitos”, explicou aos jornalistas.
Questionado sobre pressões para reduzir os compulsórios (recursos que os bancos são obrigados a deixar depositados no BC), Goldfajn disse que são “rumores”.
Crise política
O presidente do Banco Central acrescentou que é preciso manter a serenidade diante das incertezas geradas pela crise política desta semana e olhar se as reformas serão implementadas. “Todo o resto, o ruído que forma, eu acho que a gente tem que passar um pouco por cima”, disse.
A crise a que ele se referiu foi gerada pela liminar que determinou o afastamento do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), do cargo. Hoje, à tarde, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) fará o julgamento definitivo da liminar concedida pelo ministro Marco Aurélio.
A decisão que afastou Renan foi proferida no início da noite de ontem (5), mas o senador continua no cargo porque a Mesa da Casa se recusou a cumprir a decisão. Os senadores decidiram esperar decisão definitiva do plenário do Supremo.