Tesouro volta a cancelar leilões de títulos por causa de instabilidade
A instabilidade no mercado financeiro fez o Tesouro Nacional voltar a cancelar os leilões de títulos programados para o próximo dia 7. Deixarão de ser vendidos papéis prefixados de longo prazo (NTN-F) e de curto prazo (LTN); além de papéis vinculados à Selic, juros básicos da economia (LFT).
O Tesouro também anunciou a continuidade dos leilões de recompra de títulos públicos. Na sexta-feira (1º), segunda-feira (4) e terça-feira (5), o órgão vai comprar NTN-F com vencimentos em janeiro de 2025, 2027 e 2029.
Os leilões de recompra têm como objetivo reduzir a volatilidade do mercado. Nesse tipo de operação, o Tesouro compra os papéis dos investidores que querem se desfazer das aplicações e embolsar o rendimento antes do prazo.
Estatísticas
O Tesouro divulgou hoje (30) a estatística dos leilões de recompra de NTN-F realizados nesta semana. Nos últimos três dias, o governo comprou R$ 2,131 bilhões em títulos, contra expectativa de R$ 3,25 bilhões do Tesouro.
Segundo o subsecretário da Dívida Pública, José Franco de Morais, não é possível afirmar por que os investidores ofereceram ao Tesouro menos que o volume esperado. Segundo ele, uma possível explicação está no feriado nos Estados Unidos na segunda-feira (28), que reduziu o volume de negócios. Ele destacou que a NTN-F é um papel muito demandado por investidores estrangeiros.
Morais explicou que o Tesouro cancelou os leilões para não assumir as taxas pedidas pelos investidores em momentos de instabilidade como o atual. Ele destacou que a NTN-F de dez anos chegou a atingir hoje 12,2% ao ano, contra uma taxa Selic atual de 6,5% ao ano. Os juros representam a medida de desconfiança dos investidores em relação ao emissor dos títulos. Quanto maior o receio, maior a taxa pedida.
Estratégia
O subsecretário anunciou ainda a mudança de estratégia nas emissões de títulos. Segundo Morais, o Tesouro lançará menos NTN-F no mercado depois que o papel voltar a ser emitido. Ele ressaltou que a equipe econômica não precisará mudar o Plano Anual de Financiamento (PAF), que estabelece metas para a dívida pública. Isso porque o volume de títulos prefixados continuará dentro do intervalo estabelecido no início do ano, entre 32% e 36% da Dívida Pública Federal (DPF).
Os leilões de recompra, enfatizou Morais, estão sendo realizados com o colchão da dívida pública, que somam R$ 575 bilhões e equivalem a sete meses de vencimento da DPF. O subsecretário explicou que a greve dos caminhoneiros não foi o único motivo para a realização dos leilões de recompra e o cancelamento dos leilões tradicionais e que fatores externos pesaram na decisão.
“Atravessamos um movimento global de reprecificação de ativos. Começou com expectativas sobre a política monetária norte-americana [aumento de juros nos Estados Unidos] e com fatores geopolíticos, como o Oriente Médio e a formação do governo na Itália. O Brasil não está imune porque tem próprias fontes de volatilidade”, disse.