Conservadorismo marca debate sobre cotas na pós-graduação, diz estudante
O debate sobre ações afirmativas em cursos de pós-graduação passa pelo conservadorismo presente nas universidades, avalia o vice-presidente regional do Centro-Oeste da Associação Nacional de Pós-graduandos, Gabriel Nascimento.
“Mesmo na graduação, a gente acompanha discussões conservadoras. Pessoas ditas progressistas se pautam em uma meritocracia que é falsa e que não se sustenta, porque não leva em conta os caminhos da assimetria no Brasil. A universidade não é pensada para que o negro entre na pós-graduação”, disse Nascimento, mestrando em linguística aplicada pela Universidade de Brasília (UnB).
Nascimento participou hoje (21) de uma mesa-redonda durante a 1ª Ocupação Negra da Faculdade de Direito da UnB. O objetivo do evento é ampliar os debates sobre a questão racial no âmbito universitário. Durante a manhã, o tema foi a adoção de ações afirmativas em cursos de pós-graduação.
A doutoranda em sociologia pela UnB Bruna Cristina Jaquetto diz que os negros são excluídos da academia. “Não somos vistos como sujeitos capazes de construir conhecimento. As pessoas, eventualmente, expressam surpresa quando descobrem que a gente é articulado”, disse.
Durante o encontro, o secretário de Política de Ações Afirmativas da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Ronaldo Crispim, avaliou que o sistema educacional no país, público e privado, é sempre subsidiado pelo Estado, porque grande parcela da população não negra se dedica a um “investimento sobrenatural” para que o filho chegue ao ensino superior público.
“Boa parte desse investimento é abatida no imposto de renda. É o Estado quem paga. O sistema agrava a desigualdade. Não há privilégio dado aos cotistas”, disse. “As ações afirmativas tendem a melhorar a qualidade porque agregam valor. Quando há uma diversidade, há uma possibilidade maior de riqueza de conhecimento”, destacou.