Alunos pedem desocupação de escolas do Rio de Janeiro para a volta das aulas

Publicado em 20/04/2016 - 23:30 Por Akemi Nitahara – Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

Rio de Janeiro - Estudantes participam de ato no Colégio Estadual Heitor Lira, na Penha, zona norte da cidade, pela desocupação de escolas (Tomaz Silva/Agência Brasil)

 Estudantes participam de ato no Colégio Estadual Heitor Lira, na Penha, zona norte da cidade, pela desocupação de escolas do Rio de JaneiroTomaz Silva/Agência Brasil

Um ato do movimento Desocupa Já, para defender a desocupação das escolas da cidade  pelos estudantes e retorno das aulas nas unidades, foi realizado hoje (20) por um grupo de alunos em frente ao Colégio Estadual Heitor Lira, na Penha, zona norte do Rio.  A ocupação das escolas começou no dia 31 de março, em apoio à greve dos professores da rede estadual, iniciada no dia 2 de março, e por melhorias na educação.

O chefe de gabinete da Secretaria de Estado de Educação (Seeduc), Caio Castro Lima, afirma que o movimento Desocupa Já é uma iniciativa dos estudantes descontentes.  Mas a  Seeduc divulgou o ato para a imprensa e no twitter e estava presente na hora marcada. Segundo Lima, a secretaria estava presente para explicar os avanços conseguidos e pedir que as escolas sejam desocupadas: “A secretaria, obviamente quer o retorno das aulas e entende que os alunos estão passando uma dificuldade de correr o risco de perder o ano letivo”

Ele afirma que não há disposição dos estudantes que ocupam escolas em dialogar: “A secretaria está aqui para pedir que os ocupantes saiam,  para que volte a escola volte à normalidade e a secretaria possa até fazer as correções necessárias para avançar ainda mais. Agora, eles não querem diálogo. Eu tentei entrar lá e não me deixaram.  Disseram que só conversariam comigo do lado de fora. Aproveitei uma brecha deles e entrei na escola, sentei, eles fizeram uma assembleia e disseram que não queriam dialogar comigo”.

Lima disse que se comprometeu a se reunir com os alunos de cada escola ocupada, uma vez por mês, para ouvir as reivindicações, “mas com as aulas acontecendo. Esse é um movimento para desgastar o governo, que já está desgastado. Então, o governo não está mais preocupado com o desgaste na imagem, mas com o fato de os alunos voltarem a ter aula e os pais deixarem de ter essa preocupação na vida”..

Favorável à desocupação, Evelin Barreto, de 19 anos, estuda de noite no Heitor Lira. Ela diz que a ocupação não respeitou a vontade da maioria dos estudantes do turno noturno. “Muitas pessoas da noite são contra e eles não fizeram uma votação digna de noite. Muitas dessas pessoas trabalham, querem terminar logo os estudos, precisam também para renda de casa. Tem muita gente saindo do estágio porque não está estudando. Está prejudicando muitas pessoas da noite”

Também do noturno e contrário à ocupação, Marcos Vinícius, lembra que as aulas já estavam reduzidas por causa da greve: “Já são dois meses sem aula. Estamos sendo prejudicados por causa disso. Parece que os professores agora não podem mais dar aula e nem a diretoria eles deixam entrar”.

Apesar de os estudantes que ocupam a escola afirmarem que estão ocorrendo aulas “mais dinâmicas”, Evelin afirma que a escola foi transformada numa “colônia de férias”. “Eles estão fazendo baderna. Deveriam estar com uniforme e não estão, afinal é uma escola. Eu não sou a favor disso. É uma colônia de férias ou uma escola? Aula de música, de baile, de fotografia? Cada dia, eu sou mais contra a ocupação”.

Integrante da comissão de comunicação da ocupação do Heitor Lira, Nathália Martins, 17 anos, diz que cerca de 60% dos professores da unidade aderiram à greve. Segundo ela, todos os estudantes podem participar das diversas atividades organizadas, inclusive aulas, com o apoio dos professores grevistas. Entre as revindicações gerais dos estudantes, estão o fim do currículo mínimo, a volta dos porteiros e dos PMs, informa Nathália.

De acordo com o chefe de gabinete da Seeduc, Caio Castro Lima, é preciso que “a sociedade entenda o que está acontecendo” e assuma a sua “corresponsabilidade no momento”. Segundo ele, os professores pedem 30% de aumento quando o estado não está conseguindo pagar os aposentados. Sobre outros pontos da chamada pauta pedagógica, ele diz que a Seeduc já aprovou o fim da meritocracia: “A secretaria acha um absurdo, mas se é o que a categoria quer, a secretaria já disse: acabou a meritocracia no estado e não há mais o pagamento do 14º ao professor que atingir as metas”.

O diretor do Sindicato dos Trabalhadores na Educação (Sepe) Diego Felipe, rebate as informações e diz que a Seeduc se recusa a negociar. Sobre o aumento, Diego afirma que a  luta maior é para os aposentados receberem seus pagamentos. Ele diz também que o estado já não estava pagando o 14º por falta de recursos. Pelo balanço da Seeduc, são 62 escolas ocupadas. No levantamento dos estudantes, já são 72.

Também hoje, na primeira escola ocupada, a Mendes de Moraes, na Ilha do Governador, zona norte do Rio de Janeiro, houve uma reunião entre os estudantes que ocupam o prédio e os que querem desocupá-lo com representantes da Seeduc, do Ministério Público (MP) e pais de alunos. Ficou acertado que os professores que quiserem dar aulas poderão fazê-lo e que o MP proporá reuniões nas outras escolas ocupadas.

Edição: Jorge Wamburg

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