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Educação

Em crise, Uerj faz vestibular com menos da metade dos candidatos do ano passado

Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 16/07/2017 - 16:15
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro - A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) realizou a primeira fase de seu vestibular 2018, foram 37.393 mil inscritos na edição deste ano (Tomaz Silva/Agência Brasil)
© Tomaz Silva/Agência Brasil
Rio de Janeiro - A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) realizou a primeira fase de seu vestibular 2018, foram 37.393 mil inscritos na edição deste ano (Tomaz Silva/Agência Brasil)

Em meio à pior crise da história, vestibular da Uerj registrou 37.393 inscrito, contra 80 mil na prova do ano passadoTomaz Silva/Agência Brasil

A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) realizou ontem (16) a primeira etapa do vestibular 2018. O segundo exame de qualificação está programado para 17 de setembro, com inscrições entre 21 de julho a 7 de agosto. A fase final do vestibular da Uerj é uma prova discursiva, que será aplicada no dia 3 de dezembro.

A crise financeira do estado reduziu a mais da metade o número de candidatos inscritos este ano. Foram 37.393, contra 80 mil no ano passado. O primeiro dia de exame registrou 10,38% de faltas, um pouco acima da média que oscila entre 8% e 9%.

O diretor do Departamento de Seleção Acadêmica (DSEA) da Uerj, Gustavo Krause, atribuiu o aumento de faltas não à crise, mas à saída da corporação dos bombeiros do vestibular perto do fim das inscrições. Com isso, muitas pessoas que só estavam se inscrevendo para cursar a Academia de Oficiais Bombeiros desistiram da prova.

Krause disse que mais que se concentrar nos candidatos que não compareceram, a preocupação tem de ser com as “milhares de pessoas que ainda acreditam na Uerj, na universidade pública, inclusiva, uma universidade de tradição, a despeito de toda crise do estado e do país”. “Ainda acreditam na gente”, destacou.

Aposta na Uerj

Marcela Dib é uma das candidatas que não desistiram de tentar entrar na Uerj apesar da crise. Em sua segunda tentativa, ela fez engenharia no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ) e pretende cursar medicina. “Acho que, quando a gente diz que não vai entrar para a universidade porque ela está em crise, a gente está deixando de lado aquela situação. Quando a gente entra como aluno para a luta, para que aquilo se mantenha, é um ato político que a gente está fazendo virando estudante da Uerj”, justificou.

O gesto de Marcela Dib emocionou o diretor Krause. ”É um gesto muito bonito de apostar nessa universidade inclusiva, de todas as cores. Os alunos que ficam aqui sentem uma experiência única porque convivem com várias classes, com toda a periferia do Rio de Janeiro. É algo que nos estimula muito”. Krause ressaltou que a Uerj foi pioneira no sistema de cotas “e aqui as cotas funcionaram”.

Tentando uma vaga no curso de engenharia civil, Eduardo de Souza Fernandes, de 19 anos diz que a Uerj mantém o prestígio mesmo com a atual crise. “Essa é uma instituição de excelência, muito conhecida, e todo mundo se interessa, apesar da situação em que está atualmente”, diz.

Ex-aluna da Uerj, formada em 1984, a médica Lumena Tereza Gandra acredita que a universidade vai sair da situação de penúria. “Esta é uma universidade de excelência, com excelentes professores, que já formou uma série de bons profissionais, e por tudo que ela oferece”, comenta.

Resistência

A esperança de Krause é que a situação atual melhore mais adiante. Os professores e demais funcionários da universidade estão com salários atrasados desde maio e ainda não receberam o décimo terceiro de 2016.

Segundo o diretor do DSEA, a instituição decidiu manter o vestibular apesar da crise porque o cancelamento das provas agravaria ainda mais a crise em vez de ajudar a resolvê-la. Ele diz que a Uerj necessita, de todas as maneiras, conseguir trabalhar e continuar a existir.

Para Krause, está havendo um ataque maciço contra as universidades estaduais, as escolas técnicas e a cultura, como o Theatro Municipal, que estão sofrendo mais. “Praticamente, todas as outras categorias do estado já receberam até o décimo terceiro de 2017 e nós recebemos [o salário de] abril na terça-feira e nem estamos com o décimo terceiro do ano passado. Há uma série de servidores com depressão, perdendo apartamento, sendo despejados e dormindo em sofás dentro da Uerj, porque não têm para onde ir”, relatou.

Apesar das dificuldades, disse Krause, a Uerj conseguiu encerrar o ano letivo de 2016 e em agosto, começará o ano letivo de 2017. Ele lamentou que o acordo fiscal do governo fluminense com o governo federal não tenha sido ainda concluído para resolver a situação dos servidores, que se “arrasta desde 2015 e só está piorando”.

A palavra de ordem, sustentou Krause, é resistir. “A gente precisa insistir em sobreviver”, destacou. “A gente está contente com os que vieram”, manifestou, referindo-se aos futuros alunos que fizeram a primeira prova do vestibular 2018 neste domingo. Professor da Uerj há 39 anos, Gustavo Krause disse que a crise não é só do estado do Rio de Janeiro, mas nacional, e também afeta outras universidades.



Uerj faz vestibular em meio à pior crise da história