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Especialistas defendem UPPs e pedem pactuação das polícias com as comunidades

Isabela Vieira- Repórter da Agência Brasil
Publicado em 21/03/2014 - 16:13
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro - Moradores da Favela do Mandela, onde contêineres da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) foram queimados ontem (20) à noite, acompanham o trabalho de limpeza do entorno (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Especialistas defendem pactuação de policiais de UPPs com a comunidadeTânia Rêgo/Agência Brasil

Poucas horas depois de ataques a unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que deixaram dois policiais militares feridos, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, especialistas em segurança pública e organizações de direitos humanos declararam apoio hoje (21) à política de pacificação em áreas conflagradas e cobraram participação das comunidades na política de segurança. Na avaliação dos especialistas, o reforço de tropas federais militares, solicitado pelo governador Sérgio Cabral à presidenta Dilma Rousseff, é um equívoco, e distanciará a população da polícia.

Ao participar do evento Diálogos de Segurança Cidadã, organizado pelo Instituto Igarapé, uma das coordenadoras do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) da Universidade Cândido Mendes, a cientista social Silvia Ramos avaliou que a polícia tem que buscar forças, um “esteio”,  nas comunidades para enfrentar os atentados criminosos e isolar traficantes de drogas.

"Está no momento de a polícia buscar forças dentro das comunidades, e não fora, para isolar os traficantes. É sentar todo mundo e falar a verdade, reconciliar. É [a polícia] dizer 'compreendemos que vocês nos odeiam. Mas nós também tememos porque toda vez que a gente aborda alguém nossa viatura é apedrejada'”, sugeriu Silvia. Para ela,  “não é que a comunidade prefira o bandido, é que detesta ser tratada como bandido, esculachada pela PM - como se fala na favela”.

Da organização não governamental Observatório de Favelas, Jaílson de Souza e Silva disse que não há outra saída para as UPPs que não seja a reconciliação. “As opções são: aprofundar a militarização, o que significará inevitavelmente a lógica da guerra, com mais violência e, consequentemente, o fracasso dessa política, ou a a lógica da UPP social, com a população no controle da ação da polícia e na regulação do espaço público ”.

Na avaliação de Jaílson, a polícia não pode substituir os criminosos na organização do território nas comunidades. “A população gosta da polícia. Prefere a polícia que o tráfico. O problema é que a polícia não se vê como polícia, como provedora de segurança pública. Se vê como exército de ocupação e vê a polução local como o exército do inimigo”, analisou. Os impasses com os moradores, nas comunidades, decorrem dessa lógica e impedem a pactuação, completou.

“Sem nenhuma mudança [na política], a polícia vai ficar sozinha no embate contra os traficantes e a população, do outro lado, sofrendo os efeitos dessa guerra”, reforçou o coordenador do Observatório de Favelas, que atua na complexo de favelas da Maré, na zona norte do Rio.

Diante dos ataques frequentes às UPPs, um dos maiores especialistas na política de combate ao tráfico, o sociólogo Michel Misse condenou o uso de tropas militares, que põe em risco a relação com a comunidade, e disse que os problemas são isolados. “Não há uma insurreição contra todas as UPPs. O programa das UPPs é bem sucedido, militarizar é um retrocesso”, disse Misse, que é diretor do Núcleo de Estudos em Cidadania, Conflito e Violência da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “O grande problema da UPP foi substituir o tráfico no controle do espaço público”.

O coronel Robson Rodrigues, ex-chefe do Estado Maior Administrativo da PM do estado do Rio, que participou da criação das unidades, concorda com Misse. Para o ex-policial, há mais acertos que erros nas UPPs. Para ele, uma das explicações para os atentados contra as bases em favelas é a ausência de políticas públicas para assegurar os direitos dos moradores. “Outros atores, além da polícia, precisam atuar, para que o sistema funcione. A polícia tem papel fundamental,  mas não funciona sozinha”, disse ele, que é formado em direito e mestre em antropologia.

 


Fonte: Especialistas defendem UPPs e pedem pactuação das polícias com as comunidades