Copa dos Refugiados reúne estrangeiros acolhidos no Brasil

Publicado em 28/06/2014 - 13:44 Por Camila Maciel – Repórter da Agência Brasil - São Paulo

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“Paquistão, Serra Leoa, Mali, Congo e Blangladesh são algumas das seleções escaladas para a Copa”. O anúncio pode parecer estranho, tendo em vista que esses países nunca estiveram em um campeonato mundial de futebol, mas nos dias 2 e 3 de agosto isto será possível, na capital paulista, durante a Copa dos Refugiados.

Jogadores de 16 países entrarão em campo em uma disputa que propõe o um encontro entre diferentes culturas e pretende dar visibilidade à presença de pessoas que foram acolhidas no Brasil. O sorteio dos times que irão se enfrentar foi feito hoje (28), no pátio da Missão Paz, no centro de São Paulo.

O professor sírio Abdul Ibrahim, 40 anos, não tem muita familiaridade com a bola, mas topou o desafio de participar dos jogos. “Até jogo, mas não muito. Vou participar pelo meu time”, declarou. Ele saiu da Síria há 18 meses e trabalha no Brasil dando aulas de inglês. “Eu vivia lá com minha ex-mulher e meus filhos. A todo momento tínhamos problemas, explosões, então decidi sair de lá”, contou. De acordo com a Organização das Nações Unidas ONU), mais de 100 mil pessoas foram mortas desde março de 2011 no país, quando começou o levante contra o presidente Bashar Al Assad.

Cada time terá dez jogadores, sendo que três ficarão na reserva. As partidas vão ocorrer no Centro Esportivo do Glicério, região já conhecida pelos imigrantes que são acolhidos pela Missão Paz, organização da Igreja Católica. A partida terá duração de 30 minutos e a grande final ocorre no domingo, dia 3 de agosto. O primeiro jogo será entre Camarões e Iraque. A Copa dos Refugiados, que é encabeçada pelos estrangeiros, conta com o apoio da organização Cáritas Brasileira e do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). Também participarão do torneio Costa do Marfim, Bukina Faso, Colômbia, Angola, Guiné Conarci, Cuba, Afeganistão e Nigéria.

O músico Uchen Henry, 21 anos, ficou à frente da organização dos jogos. “Primeiro, queremos unir os refugiados, fazer amizades. Depois mostrar para os brasileiros que nós existimos, que somos pessoas que saímos dos nossos países para salvar as nossas vidas”, relatou o jovem, que está no Brasil há oito meses. Ele veio escondido em um navio de carga, onde passou 14 dias. “Graças a Deus cheguei com saúde”, relembrou. Uchen conta que já considera o Brasil seu segundo país e, apesar de torcer pela classificação da Nigéria sobre a França nas oitavas de final da Copa do Mundo, hoje ele será Brasil. “Vou torcer muito”, disse, vestido com a camisa verde e amarela.

De acordo com Larissa Leite, coordenadora de Relações Exteriores da Cáritas, as seleções de refugiados foram formadas por integrantes dos países, mas talvez seja necessário fazer adaptações, pois algumas nacionalidades não têm muita aproximação com o esporte. “No Afeganistão, por exemplo, eles jogam mais o críquete. Até agora não foi preciso, mas talvez tenhamos que contar com um reforço em algum time”, apontou. Os afegãos enfrentam os cubanos no primeiro jogo. Hoje, durante o sorteio das partidas, mais dois países, Haiti e Palestina, pediram para participar da copa.

Outra adaptação necessária, considerando as culturas nacionais, foi a mudança da data do torneio. “Os jogos estavam previstos para o próximo final de semana, mas hoje começa o Ramadã, que é um mês sagrado de jejum e reflexão para os muçulmanos”, justificou Larissa. Ela destacou que 90% do público participante é muçulmano e por isso fizeram a opção de mudar. “Perdemos um pouco do fato de que é o mês da Copa do Mundo, mas é melhor garantir que todos possam participar”.

A coordenadora destacou ainda que os jogos serão uma oportunidade para apontar as políticas necessárias para acolhimento dessas populações no país. “O Brasil tem ajudado humanitariamente algumas nações, mas vemos um aumento de refugiados sem que haja aumento dos recursos disponíveis para esse atendimento”, avaliou. Entre as ações fundamentais para os refugiados, ela destaca a orientação profissional e o conhecimento da língua. Larissa apontou ainda novos desafios nesse acolhimento, com a frequente chegada de adolescentes desacompanhados ao país. “Trata-se de um grupo ainda mais vulnerável e que necessita de um olhar especial”, avaliou.

 

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Edição: Luana Lourenço

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