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Família de menino morto no Complexo do Alemão contesta versão da PM

Douglas Corrêa - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 23/06/2014 - 17:00
Rio de Janeiro

Parentes do jovem Lucas Gustavo da Silva Lourenço, de 15 anos, que morreu após ser atingido em um tiroteio na madrugada de hoje (23), entre criminosos e policiais militares (PMs) no Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro, contestam a versão da Polícia Militar e dizem que Lucas era inocente. A PM diz que com Lucas e com o outro morto, identificado como Gabriel Ferreira Carvalho, foram apreendidos um revólver e um carregador de pistola. No confronto, o soldado Fabio Gomes da Silva, de 30 anos, da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) também foi ferido, no rosto, e morreu na manhã de hoje, no Hospital Getúlio Vargas. O militar era lotado na UPP do Complexo do Alemão. Os corpos dos dois rapazes ainda estão no Instituto Médico-Legal (IML), sem previsão de liberação.

Segundo a PM, o soldado da UPP foi atingido no rosto e a bala ficou alojada na cabeça. O policial foi levado para o hospital e não resistiu aos ferimentos. A PM informou, em nota, que os policiais faziam patrulhamento na comunidade da Fazendinha, na noite de ontem (22), quando foram atacados pelos criminosos. No confronto, Lucas e Gabriel morreram  na comunidade do Areal, também no Complexo do Alemão.

De acordo com a família do menino Lucas, a vítima tinha ido jogar bola, e quando descia, policiais chegaram atirando em um traficante que passou correndo. Segundo relato de um primo da vítima, que não quis se identificar, com medo de sofrer alguma represália, Lucas correu para dentro de uma lanchonete e os policiais atiraram para dentro do comércio, atingindo o jovem no peito.

"A gente ficou sabendo que os policiais foram apurar uma denúncia, e falaram que um rapaz que tinha envolvimento com o tráfico de drogas passou correndo e os militares atiraram tentando acertar o rapaz. A rua [estava] cheia de gente inocente e, infelizmente, acertaram o meu primo. Ele correu para dentro da lanchonete que tem lá, os policiais deram tiro para dentro da lanchonete e um tiro acertou o peito do meu primo. Ele era inocente e nunca teve envolvimento com nada. Ele foi para a casa da minha tia, comer e tomar banho, e estava descendo para ir para casa. O Lucas não morava nem dentro da [comunidade] da Grota. Ele morava no asfalto", disse o primo.

O irmão de Lucas, que também não quis ser identificado, disse que o irmão quase não ia para a rua, e era um menino tranquilo, que gostava de brincar.

"Totalmente errado, ainda dizem que o moleque era traficante e armado. Meu irmão portando arma. É revoltante ouvir isso. Pelo que eu saiba, traficante fica na rua o tempo todo. O meu irmão nem ficava na rua. Ele passou a semana toda em casa, no computador e jogando videogame, quando ele foi jogar bola e estava descendo aconteceu essa tragédia. Garoto de 15 anos. Eu cuidei dele com o maior carinho. Nem viveu direito. Isso já aconteceu com muito conhecido nosso, mas a gente achou que nunca ia acontecer com a gente. Agora estamos vendo a cena na nossa cara. A minha mãe está lá em casa esperando a gente, e a ficha dela ainda não caiu. Ela ainda não acreditou que perdeu o filho. Meu irmão era tudo para ela. Filho caçula", disse.

Os dois parentes relataram e julgaram como desumana a forma que o corpo de Lucas foi retirado do local. Segundo eles, Lucas e Gabriel foram jogados na caçamba de uma viatura da PM. Ainda segundo eles, quando chegaram para reconhecer o corpo no Hospital Getúlio Vargas, na Penha, encontraram a vítima em uma sala suja e o corpo arranhado, com muito sangue.

"Falaram que saíram arrastando ele de qualquer jeito, como se fosse um animal, e eu acho que nem um animal era para fazer isso. Quando a gente chegou ao hospital, encontramos os corpos em uma sala suja e o corpo dele enrolado em um saco. O Lucas estava todo arranhado, todo sujo de sangue", avaliou.

O primo de Lucas criticou a formação dos policiais da UPP, e  considerou como despreparo a ação deles na comunidade.

"Infelizmente, esse é o despreparo da nossa polícia. Quem eles realmente têm que correr atrás, eles não correm. Eles sabem aonde tem bandido, só que eles não vão até lá, porque sabem que vão encontrar resistência, então eles chegam aonde não tem resistência e fazem o que fizeram com o meu primo e com o colega dele. Com seis meses de formação, ninguém vira policial em lugar nenhum. Essa formação é ridícula. Como um policial vai fazer incursão em favela cheia de morador, com seis meses de formação? Isso não existe", disse o primo de Lucas, acrescentando que o governo quer colocar policiais na rua, mas todos despreparados.

Em nota, a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), responsável pelo controle das UPPs, informou que as investigações da Polícia Civil poderão responder sobre o envolvimento da vítima. Quanto à avaliação da formação dos policiais, talvez o parente em questão não tenha as mesmas condições dos profissionais da área para fazer esse tipo de julgamento.

 


Fonte: Família de menino morto no Complexo do Alemão contesta versão da PM