Irreverência e clima de tranquilidade marcam sábado de carnaval em Brasília

A festa tem ganhado corpo nos últimos anos. Só neste primeiro dia,

Publicado em 14/02/2015 - 20:08 Por Pedro Peduzzi - Repórter da Agência Brasil - Brasília

 Terge Vasconcelos (Elza Fiúza/Agência Brasil)

Foliões se divertem em blocos de rua do Distrito Federal. Na Foto: Terge Vasconcelos (Elza Fiúza/Agência Brasil) Elza Fiúza/Agência Brasil

O carnaval de Brasília tem ganhado corpo nos últimos anos. Só neste sábado de carnaval, há 11 eventos na cidade, segundo a Polícia Militar (PM). Nos dois principais blocos de hoje (14) – o Babydoll de Nylon e o Galinho, que saem de dois pontos da cidade – o que se destaca é a irreverência e o ambiente familiar que, segundo os organizadores, são a marca do carnaval candango.

Fantasiado de Nêga Maluca, o fisioterapeuta Terge Vasconcelos, 36 anos, passou horas se preparando para manter este ano o nível das fantasias usadas nos últimos carnavais no Babydoll de Nylon. “Há dois anos, tento ter a fantasia mais ridícula do carnaval de Brasília”, disse ele, segurando uma bebida verde. “Isso aqui é licor de menta com vodca e água com gás. Fui eu que inventei”, disse, orgulhoso pela irreverência também na hora de escolher a bebida que ia tomar.

Carregando uma boneca inflável, o servidor público Plínio Pereira, 29 anos, justificou a escolha pela fantasia: “quero demonstrar que o amor transcende e não precisa ser apenas entre pessoas. Essa é a mensagem que eu e a Shirley [a boneca], minha mulher-objeto, queremos passar”, disse ele. “Curto muito o carnaval e daqui, sigo direto, fantasiado mesmo, para o aeroporto. Ainda hoje quero curtir um pouco do carnaval do Rio”, acrescentou.

O amor pelo carnaval fez com que ele contribuísse com R$ 100 para a "vaquinha" feita pelos organizadores, após serem informados de que, devido à crise financeira no governo do Distrito Federal, não receberiam recursos para a festa. Segundo Daniel Obregon, um dos organizadores do bloco, a "vaquinha" arrecadou R$ 27 mil para a festa. “Nossa meta era R$ 25 mil. Portanto, com a ajuda do público, conseguimos superar não só as dificuldades, mas também as metas que havíamos planejado”, disse.

De acordo com o capitão Da Silva, do 3º Batalhão da PM, pouco depois das 16h30 havia cerca de 7 mil pessoas no bloco. A expectativa dos organizadores é que, no auge da festa, esse número chegue a 20 mil. “O brasiliense sabe curtir o carnaval de forma muito pacífica. O ambiente aqui é sempre alegre e familiar, o que facilita nosso trabalho”, comentou.

A PM informou que o evento estava “absolutamente tranquilo”. No máximo, ocorreram pequenos problemas com alguns ambulantes, multados ao parar o carro em lugar proibido para desembarcar produtos. “Isso se deve ao fato de eles não terem chegado mais cedo, no horário que havia sido autorizado e informado por meio da imprensa”, explicou o capitão.

Um dos multados foi o ambulante Márcio Neville, 30 anos. Apesar da multa, ele disse estar empolgado com o movimento, já no começo da festa. “Dá para ficar otimista porque a venda está saindo. Imagino que até o fim do dia consiga vender cerca de R$ 800. O lucro será a metade disso”.

Grávida de sete meses, a alemã Anna Machado, 31 anos, não será uma das que ajudarão Márcio a aumentar seus ganhos. “Não posso beber”, disse ela, com a barriga em evidência e com um baby doll de nylon pregado, em homenagem ao bloco. “Mas estou adorando, porque há aqui uma alegria muito especial. Já pulei carnaval na Alemanha e, por três vezes, no Rio de Janeiro. O que percebo é que em Brasília o carnaval é mais alegre e familiar, além de ser menos tenso e sem cheiro de xixi”, disse Anna. Ela vive há cinco anos no Brasil, desde que se casou com um brasileiro. “Enquanto estou aqui, ele está em casa cuidando do nosso filho”.

Foliões se divertem em blocos de rua do Distrito Federal (Elza Fiúza/Agência Brasil)

Foliões se divertem em blocos de rua do Distrito Federal (Elza Fiúza/Agência Brasil)Elza Fiúza/Agência Brasil

A poucos quilômetros dali, cerca de 3 mil pessoas participavam de outro tradicional bloco de carnaval: o Galinho de Brasília. “Nosso bloco começou em 1992, após o ex-presidente Collor ter confiscado o dinheiro que havíamos economizado para participar do Galinho da Madrugada, no Recife”, explicou Sérgio Brasiel, um dos 11 diretores do bloco que, segundo ele, foi prejudicado pela falta de recursos do GDF.

“Arrecadamos apenas um terço do que precisamos. Com isso, diminuímos o número de carros, de sete para três, além de ter eliminado o trem que circulava com a banda. Isso é complicado porque calculamos que cerca de 80 mil pessoas passarão por aqui hoje”, disse. Em geral, é um público mais jovem que frequenta o Galinho. Só mais tarde, no começo da noite, é que predominam os adultos. Para fazer a segurança, cerca de 300 policiais militares foram destacados para o evento.

Segundo a tenente-coronel Sheyla, o Galinho é um bloco que não costuma causar maiores problemas para a PM. “Assim como os outros da cidade, este é um bloco bastante familiar. O brasiliense sabe curtir a festa. Nossa preocupação maior é com o grande número de adolescentes que tem ingerido bebida alcoólica”, disse a policial que há 23 anos atua nos carnavais de Brasília. “Dá para ver que ano a ano o carnaval daqui tem melhorado. Por isso, sempre temos de fazer um planejamento considerando o aumento do público”.

Um dos foliões mais empolgados estava trabalhando: a gari Rosita Batista, 48 anos. “Estou trabalhando, mas no clima, varrendo e dançando”, disse ela em meio a elogios ao público. “É a terceira vez que trabalho fazendo a limpeza de rua no carnaval. As pessoas estão realmente mais conscientes e não estão sujando tanto as ruas. Isso é bom porque me permite desfrutar mais”, disse ela com sua vestimenta estilizada para a festa.

Foliões se divertem em blocos de rua do Distrito Federal (Elza Fiúza/Agência Brasil)

Foliões se divertem em blocos de rua do Distrito Federal (Elza Fiúza/Agência Brasil)Elza Fiúza/Agência Brasil

Bem menos empolgada estava Júlia Nabuco, de 13 anos. “Aqui é legal porque tem gente da minha idade, e eu curto lugares mais cheios. Só não gosto de dançar carnaval”. Sereno Alves, 27 anos, vestiu-se de mulher com um objetivo: “quero arrumar uma parceira”, disse ele, vendo na fantasia a possibilidade de chamar a atenção das moças. “Fazendo elas rirem, fica mais fácil”, brincou.

Acompanhado de toda a família – esposa, mãe, netos e cinco irmãos –, Júlio Cesar Gonçalves, 48 anos, disse estar impressionado com a melhora da qualidade dos blocos brasilienses. “Estão bem policiados, com assistência aos foliões e também muita limpeza. As pessoas estão despejando menos lixo nas ruas, o que colabora para essa melhora sistemática que tenho percebido nas festas da cidade”.

A quem não conhece o carnaval de Brasília, ele faz o convite: “Venham porque é seguro, as pessoas são educadas, o ambiente é familiar, e o mais importante, é muito divertido”.

Edição: Graça Adjuto

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