População rural do Brasil é maior que a apurada pelo IBGE, diz pesquisa
Pesquisa apoiada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário calcula que 36% da população brasileira é rural, diferentemente dos cerca de 16% apontados pelo último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O percentual maior considera a aplicação de um conceito de rural defendido pelos pesquisadores. De acordo com o levantamento, como só existe o conceito de urbano na legislação, a ruralidade acaba sendo definida por exclusão.
A pesquisa é uma parceria entre o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura, o Ministério do Planejamento e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e foi apresentada hoje (9), na primeira edição do Diálogos sobre o Brasil Rural, evento destinado ao debate de temas relacionados ao setor. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, participou da abertura do evento, que terá outras edições.
Segundo a coordenadora da pesquisa Repensando o Conceito de Ruralidade no Brasil: Implicações para as Políticas Públicas, Tânia Bacelar, é essencial ter a compreensão certa do que é o mundo rural para o desenvolvimento adequado de políticas públicas para os moradores dessas regiões.
”Há uma carência de políticas públicas nos territórios rurais. Embora tenha tido uma melhora, ainda é insuficiente, e isso talvez se deva à ideia de que o rural está se extinguindo”, disse a pesquisadora.
Tânia explicou que a pesquisa tenta identificar o que é o Brasil rural de hoje e mostrar que, muitas vezes, as políticas públicas desenvolvidas para quem vive em cidades não são adequadas para quem vive no campo. “O Brasil do século 20 tentou ser mais urbano e ter uma economia industrial. Isso deu um certo exagero à dimensão urbana e uma desvalorização do Brasil da ruralidade.”
A pesquisadora ressaltou que 90% dos municípios brasileiros têm menos de 5 mil habitantes, e que, sociologicamente, deveriam ser considerados zonas rurais, e não urbanas. “O estilo de vida dessas pessoas é mais ligado à natureza, as relações sociais são diferentes. Com um conceito mais sociológico, a gente vê que as pessoas não querem sair daquela vida e, portanto, o Estado tem que chegar a estas pessoas de forma eficiente.”