Massacre em Realengo mudou trajetória escolar de amigos e parentes das vítimas

Publicado em 07/04/2015 - 15:31 Por Vinícius Lisboa - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

Eduardo Rocha e Mariana Rocha, irmão e mãe da vítima Mariana Rocha, que morreu na tragédia,cobraram mais seguranças nas escolas. (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Eduardo e Noeli, irmão e mãe da vítima Mariana Rocha, uma das vítimas do massacre   Tânia Rêgo/Agência Brasil

Quando os primeiros disparos começaram a ser ouvidos na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, Eduardo Rocha, que tinha 11 anos, pensou que fossem "bombinhas". Foi então que os professores chegaram correndo ao terceiro andar e pediram que os alunos se trancassem nas salas. No primeiro andar, sua irmã, Mariana Rocha, e mais 11 adolescentes foram assassinados por Wellington Menezes de Oliveira, em 7 de abril de 2011.

Além dos que se feriram ou morreram com os disparos, o crime atingiu também a vida escolar de parentes e amigos, que sofreram para conseguir retomar os estudos.

O trauma da tragédia fez com que o jovem Eduardo, hoje com 15 anos, ficasse dois anos fora da escola. "Não queria voltar. Não dava. Muita gente falando e até os outros amigos meus falam até hoje sobre isso, o que me incomoda", desabafa Eduardo, abraçado à mãe, Noeli da Silva Rocha, Segundo Noeli, eles dois são apontados na rua: "Aquele ali é o irmão da Mariana. Aquela ali é a mãe da Mariana. Isso nunca vai ser esquecido, não adianta."

Quando voltou a estudar, em 2013, ele foi para outra escola do mesmo bairro, e hoje sonha em cursar engenharia civil. Se não tivesse parado de estudar, ele já estaria a um ano do vestibular. Em vez disso, agora ainda precisa começar o ensino médio.

Alessandra Oliveira, hoje com 18 anos, não chegou a pensar que o barulho dos tiros era outra coisa, porque o assassino entrou em sua sala e matou três de suas colegas. Entre elas, Laryssa Martins, sua melhor amiga. Mais cinco colegas de turma foram feridos pelos disparos. "Fiquei em depressão, e isso me prejudica até hoje. Estudo à noite e tenho muito medo de ir para a escola", conta Alessandra, que tentou mudar de bairro e de escola, mas acabou sendo reprovada no primeiro ano do ensino médio.

"Eu estudava com a Laryssa desde pequena, desde a terceira série. Eu não tinha força para estudar. Tinha medo de que acontecesse a mesma coisa", lembra a estudante. Hoje, no segundo ano do ensino médio, ela diz que não tem vontade de continuar a estudar. "Voltei a estudar porque meu pai me obriga e porque, sem estudo, não sou nada. Mas minha vontade é não ir para a escola", desabafa.

Uma das vítimas na sala de Alessandra foi Géssica Guedes, irmã de Michelle Guedes, que hoje tem 22 anos. A jovem estudou até o nono ano na Tasso da Silveira e tinha concluído o ensino fundamental em 2010, meses antes da tragédia. "Fiquei dois anos sem querer estudar. Ia fazer medicina. Fui para direito", diz ela, que continuou a estudar por causa da pressão dos pais, e hoje está na faculdade. A troca de carreira, na visão dela, foi influenciada pela tragédia: "Hoje, eu procuro lutar por justiça, que não houve no nosso caso. Faço estágio e estou muito realizada na minha profissão."

A aluna Tainá Bispo, de 19 anos, assim como Alessandra e Michelle, também perdeu a vontade de ir para a escola depois do ataque. Sua irmã, Milena Bispo, foi uma das vítimas, mas Tainá insistiu em voltar porque sua outra irmã também estudava na Tasso da Silveira e pediu que ela não a deixasse sozinha. "Só que não conseguimos continuar por causa das fortes lembranças que tínhamos. Eu tinha 15 anos e estava no último ano."

Depois de um ano estudando em casa, Tainá foi para outro colégio, concluiu o ensino médio e sonha fazer medicina. "Comecei a trabalhar agora e a vida está caminhando. Estou tentando empurrar com a barriga."

Alan Mendes Ferreira, hoje com 17 anos, teve atuação decisiva no dia da tragédia: mesmo ferido, conseguiu chamar o policial militar Marcio Alves, que rendeu Wellington Menezes de Oliveira antes que ele fosse para os outros andares, onde poderia fazer mais vítimas. O adolescente continuou na Tasso da Silveira por mais dois anos, chegou ao ensino médio e agora está no terceiro ano. "Acho que voltar para lá me ajudou a superar as coisas", diz ele, lembrando que muitos colegas ficaram revoltados e passaram a culpar a escola pela tragédia. "Sempre tinha essa polêmica."

Apesar de estar perto de terminar o ensino médio, Alan não sabe o que vai fazer em seguida. Sua vontade era entrar para a Aeronáutica, mas isso não será possível porque o tiro que o feriu deixou fragmentos de bala alojados em seu ombro esquerdo e perto do coração. "Não posso fazer nada muito pesado. Os médicos não liberaram ainda. Ainda estou pensando no que vou fazer da vida. No ano que vem, vou ficar pensando um pouquinho."

 



Famílias das vítimas lembram massacre de Realengo

Edição: Valéria Aguiar

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