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Mata Atlântica: desmatamento cai 24% no período de 2013 a 2014

Bruno Bocchini – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 27/05/2015 - 20:42
São Paulo

Estudo da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostra que houve desmatamento de 18.267 hectares (ha), ou 183 quilômetros quadrados (km²), de remanescentes florestais nos 17 estados em que há presença de Mata Atlântica. O resultado representa uma queda de 24% em relação ao período anterior (2012-2013), em que foram desmatados 23.948 ha. De 2011 a 2012, a supressão de mata chegou a 21.977 ha e, no período de 2010 a 2011, de 14.090 ha.

O levantamento Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, divulgado hoje (27), foi feito com base em imagens de satélite obtidas no segundo semestre de 2014, comparadas a igual período do ano anterior.

O Piauí foi o estado onde mais se desmatou no período, com 5.626 ha (30,7% do total no país). Um único município piauiense, no sul do estado, Eliseu Martins, foi responsável por 23% (4.287 ha) do total dos desflorestamentos observados.

É o segundo ano consecutivo que o levantamento detecta esse padrão de desmatamento nos municípios ao sul do Piauí, região de fronteira agrícola e expansão de produção de grãos em áreas de transição de Mata Atlântica e Cerrado. No período anterior, de 2012 a 2013, foram desmatados 6.633 ha em municípios da mesma área, com destaque para Manoel Emídio (3.164 ha) e Alvorada do Gurguéia (2.460 ha).

O segundo município com maior registro de desmatamento no período é Baianópolis (BA), com 1.522 ha. Segundo o SOS Mata Atlântica, o motivo é semelhante ao dos desmatamentos observados no Piauí: fronteira agrícola e expansão de produção de grãos.

“Há sempre uma resistência por parte desse tipo de desenvolvimento [agrícola]. O pior é o desenvolvimento das commodities e dos produtos primários. Que coloca famílias dentro de fornos, crianças, que exclui, que não tem registro, que responde pelo trabalho escravo, que coloca o trator com correntão desmatando, todo tipo de coisa negativa atrelada à fronteira agrícola acaba acontecendo nesses estados”, destacou o diretor de Políticas Públicas do SOS Mata Atlântica, Mario Cesar Mantovani.

O SOS Mata Atlântica vai ingressar com pedido de moratória para os estados do Piauí e da Bahia. Caso aceito pelos governos estaduais, o pedido impede a concessão de licenças e autorizações para supressão de vegetação nativa no bioma. A ação, autorizada pelo governo de Minas Gerais, após solicitação da Fundação SOS Mata Atlântica e do Ministério Público Estadual, em 2013, foi responsável pela queda do desmatamento no estado.

Depois do Piauí, os estados que mais desmataram foram Minas Gerais (5.608 ha), Bahia (4.672 ha), Paraná (2.126) e Santa Catarina (672 ha). No entanto, Paraná e Santa Catarina apresentaram reduções significativas em relação ao período anterior: queda de 57% e 34%, respectivamente, no desmatamento.

Dos 17 estados da Mata Atlântica, nove apresentaram desmatamentos menores do que 100 ha, o equivalente a 1 km². São eles: São Paulo (61 ha), Rio Grande do Sul (40 ha), Pernambuco (32 ha), Goiás (25 ha), Espírito Santo (20 ha), Alagoas (14 ha), Rio de Janeiro (12 ha), Sergipe (10 ha) e Paraíba (6 ha).

“Temos boas notícias com relação à redução do desmatamento. Estamos falando, praticamente, do nível de desmatamento zero, porque são áreas menores do que 100 hectares. São Paulo e Rio de Janeiro são estados importantes, pois conseguiram finalmente reduzir o desmatamento nesse último ano. Todo o esforço agora é para promover um esforço para recuperar áreas, restaurar áreas”, disse a diretoria Executiva e Gestão do Conhecimento do SOS Mata Atlântica, Marcia Hirota.

De acordo com o levantamento, no período de 2013 a 2014 não foi identificada diminuição da vegetação de mangue. Na Mata Atlântica, as áreas de manguezais correspondem a 231.051 ha.

A supressão de vegetação de restinga chegou a 309 ha. O maior desmatamento ocorreu no Ceará, com 193 ha, seguido do Piauí (47 ha), Paraíba (29 ha), São Paulo (28 ha), Bahia (6 ha) e Paraná (6 ha). A vegetação de restinga na Mata Atlântica equivale a 641.284 ha. São Paulo possui a maior extensão (206.698 ha), seguido do Paraná (99.876 ha) e Santa Catarina (76.016 ha).

A Mata Atlântica está presente na costa atlântica do país e em áreas da Argentina e do Paraguai. O bioma abrangia originalmente 1.309.736 km² do território brasileiro. Seus limites originais contemplavam áreas em 17 estados: Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba, Sergipe, Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em que hoje vivem cerca de 72% da população brasileira.