Sindicato dos Comerciários do Rio mantém eleição após tumulto e depredação

Publicado em 17/06/2015 - 13:57 Por Vinícius Lisboa - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

Sede do sindicato dos empregados no comércio do RJ é depredada durante a madrugada. O objetivo do tumulto seria atrapalhar as eleições para a direção do sindicato previstas para hoje (Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Prejuízos  com  depredação  da  sede  do  sindicato  foram  estimados  em  R$ 3 milhões   Tânia Rêgo/Agência Brasil

A prisão de mais de 200 pessoas por depredações no Sindicato dos Empregados no Comércio do Rio de Janeiro não interrompeu as eleições de hoje (17) para escolha da nova diretoria. Os resultados devem ser divulgados nesta noite, logo após a chegada das urnas à sede do sindicato. 

Em outubro, a entidade sofreu intervenção da Justiça do Trabalho, depois que a diretoria foi afastada e teve os bens bloqueados por suspeita de crimes, entre eles improbidade administrativa e nepotismo.

O perito da Justiça do Trabalho José Carlos Nunes atua como interventor no sindicato, ao mesmo tempo em que conduz uma análise interna sobre os últimos 10 anos de administração. A auditoria deve ser finalizada até 30 de julho.

De acordo com a apuração referente ao período entre 2009 e 2014, os desvios chegam a R$ 100 milhões. Segundo o perito, a lista de crimes investigados inclui apropriação indébita, falsidade ideológica, fraudes contábeis, ameaças à integridade de funcionários e nepotismo.

Nunes disse que o grupo que invadiu e depredou a sede do sindicato no fim da madrugada de hoje não tinha interesse apenas no cancelamento da eleição, mas também na destruição de provas que incriminem a gestão afastada. "O objetivo dos meliantes, além de tentar melar a eleição, era destruir as provas que estão sendo colhidas para punir os responsáveis por desvios de mais de R$ 100 milhões."

A depredação gerou prejuídos de cerca de R$ 3 milhões ao sindicato, que teve seis consultórios médicos e três dentários destruídos, inclusive com prontuários e fichas rasgadas. Diversos andares do prédio foram invadidos e tiveram portas arrombadas.

Funcionários tentam identificar documentos destruídos e que podem ser recuperados. "Eles achavam que eram os documentos da auditoria. A orientação que eles receberam era rasgar os documentos que encontrassem", explicou o auditor. Segundo ele, as provas da investigação estão salvas.

Antes da intervenção, o presidente do sindicato era Otton Mata Roma, que havia assumido em 2006. Presidente por dois mandatos, Otton assumiu após a morte do pai, Luisant Mata Roma, que presidiu o sindicato durante 40 anos, de 1966 a 2006.

Nunes informou que o presidente do sindicato recebia mais de R$ 60 mil mensais de salário. Os demais membros da diretoria afastada recebiam mensalmente cerca de R$ 47 mil.

O advogado Fábio Curi, que defende Otton Mata Roma, nega que seu cliente tenha envolvimento com a depredação do sindicato, mas esclareceu que a eleição deve ser cancelada por parcialidade do interventor. "O interesse do meu cliente é que não haja essa eleição. Ele entende que ela é completamente viciada e passível de nulidade", afirmou Curi, que entrou com mandado de segurança para suspender a eleição.

Para a defesa, não houve desvio de dinheiro público no sindicato. Fábio Curi disse que a declaração de bens de Otton Mata Roma é menor do que tem sido apontado nas denúncias. O advogado informou que está tentando ter acesso aos documentos bloqueados pela Justiça. "São documentos que comprovam a gestão dos dirigentes afastados. Sem eles, não conseguiremos exibir toda a licitude nem rebater as acusações."

Equipes das polícias Civil e Polícia Militar, além de seguranças particulares vão acompanhar a apuração dos votos hoje à noite. O processo também está sendo acompanhado pelo Ministério Público do Trabalho.  Segundo o procurador José Carlos Teixeira, a eleição será bem-sucedida. "A eleição está ocorrendo. É evidente que houve um incidente desagradável para desestabilizá-la. Os comerciários têm de decidir a quem entregarão a direção do sindicasto."

Três chapas disputam o pleito. A posse da nova diretoria está  marcada para 28 de junho.

As pessoas detidas por suspeita de envolvimento na depredação foram levadas para a Cidade da Polícia, onde estão sendo identificados. A polícia acredita que o grupo tenha sido trazido de São Paulo para tumultuar a eleição no sindicato.

Edição: Armando Cardoso

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