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Surtos de caxumba podem evoluir para epidemia, alerta infectologista da UFRJ

Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 13/07/2015 - 19:42
Rio de Janeiro

Os surtos de caxumba registrados este ano no Rio de Janeiro poderão evoluir para uma epidemia, “porque tem muita gente infectada”, disse hoje (13) o infectologista e diretor-geral do Instituto de Pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Edimilson Migowski. Ele advertiu, porém, que as férias escolares de julho colaboram para deter essa ocorrência, que se caracteriza pelo aumento de casos em um local específico, diferentemente de epidemia, que é a incidência, em curto período de tempo, de muitos casos, em diferentes localidades e regiões.

Segundo Migowski, é muito comum o contágio no ambiente escolar. “No momento em que você diminui as aglomerações, acaba reduzindo a transmissibilidade e, com isso, consegue segurar um pouco a onda.” Ele admitiu, por outro lado, a possibilidade de que outros estados venham a apresentar casos de caxumba, porque a mesma vacina é feita no Rio de Janeiro e nos demais estados. Ele disse que a cobertura vacinal no Rio é muito boa, e se mesmo assim vêm ocorrendo casos, isso pode ser prenúncio de que o problema pode ocorrer no país inteiro.

O médico enfatizou que a população do Rio de Janeiro é bem vacinada e costuma participar das campanhas. De acordo com Migowski, no caso específico do Rio, o que se identificou foram surtos em escolas, que acometem prioritariamente adolescentes, em função do hábito de compartilhar copos, talheres, refeições e até beijos. Nesses casos, disse ele, “a transmissão do vírus se dá de forma mais eficiente do que em outros grupos”.

O período de incubação da caxumba vai de 14 a 21 dias, em média. O infectologista lembrou, entretanto, que até que os sinais da caxumba surjam – como o aumento da carótida –, a pessoa infectada, que até então mostra aparência saudável, pode eliminar o vírus pela saliva e contaminar outras pessoas. Isso torna complicado o isolamento de um paciente com caxumba. Por isso, é importante estar com a vacinação em dia, “porque é a forma mais eficiente de evitar a doença”, bem como evitar aglomerações e a cultura de compartilhar canudos, copos, talheres, neste momento. “É prudente esse rigor no contato com a saliva de outras pessoas”, salientou.

Migowski avaliou a probabilidade de os adolescentes detectados com caxumba não estarem com a vacinação em dia. Ou seja, não fizeram as duas doses da vacina contra sarampo e rubéola na ocasião indicada, só tomaram uma dose ou nenhuma. “Se eles tiverem as duas doses da vacina e mesmo assim estiverem adoecendo, deve-se cogitar a indicação de uma terceira dose." O especialista ressaltou, porém, que isso só deve ser feito se existir falha vacinal secundária e após o Ministério da Saúde constatar que não haverá desabastecimento para as crianças que devem tomar as duas primeiras doses.

Fazer vacina é muito mais artesanal do que fazer comprimidos e requer um tempo maior de produção, destacou. No caso de o Ministério da Saúde decidir dar a terceira dose, a decisão tem de tomar por base, segundo ele, "a não quebra do fornecimento do produto", principalmente para quem não tomou a primeira e a segunda doses.

A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro (Seap) confirmou, em nota, a ocorrência de três casos de caxumba no Instituto Penal Plácido Sá Carvalho, no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu. “Os três internos receberam a vacina tríplice viral e estão se recuperando.” A nota informa também que, de forma preventiva, 19 detentos permanecem em observação.

Também o Terceiro Comando Aéreo Regional (Comar) informou que 13 recrutas com suspeita de caxumba receberam dispensa médica de seis dias, a contar da última terça-feira (7). Os recrutas frequentavam o curso de formação de soldados no Batalhão de Infantaria da Aeronáutica e, tão logo retornem ao serviço, passarão por nova avaliação médica. Após a suspeita, todos os 304 recrutas que faziam o curso foram vacinados pela Secretaria Estadual de Saúde.

A Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro confirmou que deu resultado negativo para caxumba o exame sorológico da adolescente que morreu no Rio, na semana passada, após complicações supostamente oriundas de um quadro de caxumba.

De 1º de janeiro deste ano até o dia de hoje, a Secretaria Estadual de Saúde recebeu notificações de 68 surtos de caxumba nos municípios do Rio de Janeiro, Nova Iguaçu e Niterói. A secretaria esclareceu, em comunicado, que “o surto é caracterizado pelo aumento de casos, acima da média registrada, em um determinado período de tempo e local concentrado e fechado, tais como creche, escola, empresa, condomínio”.

De acordo com a secretaria, não há evidência, até o momento, de epidemia da doença no estado. Os casos suspeitos de caxumba no Rio de Janeiro totalizam 658 até esta segunda-feira (13), superando os 561 casos registrados no ano passado, em todo o estado.


Fonte: Surtos de caxumba podem evoluir para uma epidemia, alerta infectologista da UFRJ