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Brasil começa a corrigir atraso na área biofarmacêutica, diz especialista

Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 27/07/2015 - 20:43
Rio de Janeiro

O setor biofarmacêutico brasileiro está com cerca de 30 anos de atraso em relação aos países desenvolvidos, disse a professora de engenharia química Leda Castilho, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Segundo a professora, nos últimos anos, o governo federal detectou esse atraso e o seu impacto na balança comercial e começou a investir na área.

Leda salientou que há um déficit grande na área de saúde, em parte decorrente da necessidade de importar produtos biotecnológicos para o setor. De acordo com a professora, algumas empresas biofarmacêuticas foram criadas individualmente ou em consórcio com outras companhias no país, apoiadas por financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

As aprovações de empréstimos do BNDES entre 2004 e 2015 para esse segmento somam R$ 617 milhões, o que representa14% da carteira de aprovações totais do banco, relativas às três fases do Profarma, o programa de apoio ao setor. Os projetos em análise na área de biotecnologia equivalem a 52% do total e alcançam R$ 500 milhões.

Os investimentos permitiram que uma das empresas financiadas, a Recepta Biopharma, criasse um produto inovador (anticorpo monoclonal) que acaba de ser licenciado para os Estados Unidos, visando ao desenvolvimento de remédio para o tratamento de câncer. Segundo Leda, é a primeira vez que o Brasil não está comprando tecnologia do exterior. "Estamos vendendo para os Estados Unidos a tecnologia de um novo produto, moderno, para a saúde humana“.

As vendas do setor de biofármacos superaram US$ 160 bilhões no ano passado. “Hoje em dia, o setor biofarmacêutico já representa 20% das vendas da indústria como um todo. E é um percentual crescente”, afirmou a professora.

De acordo com Leda, dos 41 mil novos produtos para a saúde humana com testes clínicos em andamento no mundo, 40% são biotecnológicos. “O setor biofarmacêutico está se tornando cada vez mais importante”, disse ela, ressaltanto que o Brasil dá os primeiros passos para participar desse mercado mundial. “Está montando as primeiras fábricas para passar a produzir daqui a alguns anos.”

A produção de biofármacos em cultivos de células animais é o tema do sexto seminário internacional promovido pelo Programa de Engenharia Química da Coppe-UFRJ. O evento começou hoje (27) e se estenderá até sexta-feira (31) e reunirá especialistas de universidades e da indústria de 13 países.

Biofármacos são produtos biológicos usados para fins terapêuticos. Segundo a professora, existem medicamentos tradicionais, como aspirinas, por exemplo, que são produzidos por síntese química, e os produzidos por biotecnologia, que começaram a entrar no  mercado na década de 1980. São medicamentos em que a molécula é muito mais complexa e que, por isso, têm como ser produzidos pelas vias tradicionais, explicou. "Tem que usar biotecnologia na fabricação. Os biofármacos usam células que foram, um dia, isoladas a partir de animais. Essa ferramenta é utilizada para produzir os modernos medicamentos biotecnológicos", explicou.

Durante o seminário, serão discutidas todas as etapas para o desenvolvimento das biotecnologias e sua aplicação industrial. A manipulação genética da célula, visando à produção de uma cópia da proteína humana, para que possa ser injetada em um paciente e suprir alguma deficiência dele na produção de tal proteína, como ocorre com hemofilícos, será um dos temas em debate, adiantou Leda.

Os especialistas vão discutir desde a modificação genética da célula até a propagação de células com a cópia do gene humano, de modo que produzam grande quantidade da proteína humana. A professora informou que a purificação dessa proteína e aspectos regulatórios e de mercado, envolvendo a realização de testes em animais e testes clínicos (em humanos), também estarão na pauta do seminário. Os especialistas abordarão ainda outros produtos biológicos relevantes também fabricados a partir de células animais, como vacinas e terapias celulares.


Fonte: Brasil começa a corrigir atraso na área biofarmacêutica, avalia especialista