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Meio Ambiente

Aquecimento global ameaça deixar 1,75 bilhão sem água, diz ambientalista

Akemi Nitahara - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 10/12/2015 - 18:46
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro - A coordenadora da Aliança pela Água, Maru Whately, fala no debate Chapa Quente do Aquecimento Global, durante o Encontro global Emergências (Fernando Frazão/Agência Brasil)
© Fernando Frazão/Agência Brasil
Rio de Janeiro - A coordenadora da Aliança pela Água, Maru Whately, fala no debate Chapa Quente do Aquecimento Global, no encontro global Emergências (Fernando Frazão/Agência Brasil)

A coordenadora da Aliança das Águas, Maru Whately, grupo que reúne hoje cerca de 60 entidades de diferentes áreas, convocou todos, governo e sociedade, a repensarem sua relação com a águaFernando Frazão/Agência Brasil

Caso o aquecimento global chegue a 3 graus até o fim do século, 60 milhões de pessoas serão vítimas de inundações, 1,75 bilhões vão passar por estresse hídrico e 4,5 bilhões vão sofrer com ondas de calor. Os dados foram apresentados pela coordenadora da Aliança das Águas, Maru Whately, em uma mesa redonda – Chapa quente do aquecimento global – ocorrida na tarde de hoje (11), no encontro global Emergências, iniciativa do Ministério da Cultura que debate desde segunda-feira, no Rio de Janeiro, a cultura como ativadora de processos na conquista de direitos civis, políticos, sociais, econômicos e ambientais.

A arquiteta e urbanista, que integra o Instituto Socioambiental, disse que a Aliança das Águas se formou no ano passado, com a crise de abastecimento em São Paulo, e reúne hoje cerca de 60 entidades de diferentes áreas. O objetivo é contribuir para a segurança hídrica do estado. Segundo ela, apesar de cientistas não afirmarem que as mudanças no ciclo hídrico estão relacionadas com o desmatamento ou o aquecimento global, as mudanças são perceptíveis.

“Nós somos a Arábia Saudita da água e estamos ficando secas. Temos 12% da água doce do mundo, com o aquífero Guarani, o aquífero na Amazônia. E vimos as grandes cidades ficando sem água. Desde o surgimento da água e a formação do ciclo hidrológico, tudo o que acontece com o clima a gente vê através da água. A estiagem de 2014 foi um evento climático extremo e eles tendem a ser cada vez mais frequentes. Há questões climáticas em várias partes do mundo, na Califórnia, e parte da tensão hoje na Síria é por causa disso. A previsibilidade do clima que a gente tinha está mudando”.

Maru convocou todos, governo e sociedade, a repensarem sua relação com a água e, também, com o saneamento básico. “Precisamos de uma nova cultura para cuidar da água. Não ter acesso à água pode ser terrível, mas não ter acesso a saneamento é horrível também. Estamos vendo a questão da microcefalia e do zika vírus, boa parte disso relacionada à falta de cuidado das pessoas com a água parada. Questões do saneamento são importantes, também. Tem que tratar, é inadmissível que haja um rio como o Tietê. Água não é responsabilidade só de uma instância, isso é muito mais complexo. Se a gente quiser ter água, precisa cuidar das fontes, dos mananciais, das nascentes. É vergonhoso o que se tem de perda da água no sistema de distribuição. Precisamos rever o valor econômico da água e precisamos de participação e controle social nisso”.

Rio de Janeiro - O indígena Benki Ashaninka fala no debate Chapa Quente do Aquecimento Global, durante o Encontro global Emergências (Fernando Frazão/Agência Brasil)

O líder indígena Benki Ashaninka, do Acre, chamou a todos para mudar o olhar sobre a população indígena, sua cultura e relação com a naturezaFernando Frazão/Agência Brasil

O líder indígena Benki Ashaninka relatou sua experiência de formação dos jovens na cultura de seu povo e nos cuidados com a floresta, na região do município de Marechal Thalmaturgo, no interior do Acre. Ele disse que, ainda adolescente, após participar da Eco 92, no Rio de Janeiro, liderou um projeto de levantamento das tradições e conhecimentos do povo Ashaninka em seu território indígena.

“Chamei 60 jovens de 5 a 16 anos, o mais velho era eu, para saber da nossa história, nossos animais, frutos, medicina e a nossa língua, conversando com nossos anciões. Com isso, aprendi muito e plantei muita árvores, conseguimos reflorestar uma parte do território e é de onde a gente tira as frutas. Dos 25% que tinha desmatado, dentro dos 87 mil hectares, a gente hoje só tem 100 hectares desmatados para as famílias plantarem a macaxeira”.

Benki também chamou a todos para mudar seu olhar sobre a população indígena, sua cultura e relação com a natureza, consideradas por muitos como sinônimo de pobreza pela falta de eletrodomésticos.