Surto de febre amarela pode ter "desviado atenção" da vacinação contra gripe

Publicado em 20/05/2017 - 12:17 Por Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro

Brasília - O Ministério da Saúde promove o Dia D de Vacinação contra a gripe em postos de todo o país (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

A campanha de 2017 pretende imunizar cerca de 90% das 54,2 milhões de pessoas que estão no público-alvo Marcello Casal Jr/Agência Brasil

A campanha nacional de vacinação contra a gripe do Ministério da Saúde se encerra no próximo dia 26, mas a adesão é considerada baixa em todo o país. Do total de 54,2 milhões de pessoas esperadas, somente 28,7 milhões foram vacinadas, o que representa 53% do público-alvo. No estado do Rio de Janeiro, por exemplo, não foi alcançado nem 50% do público estimado.

A virologista Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratório e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), avalia que o pouco destaque que o vírus Influenza teve na mídia este ano e o recente surto de febre amarela contribuíram para desviar o foco da atenção das pessoas da campanha contra a gripe. Isso porque, em estados com registros de morte pela doença, como o RJ, a população se preocupou mais em correr aos postos para receber a imunização contra a febre amarela. A vacina contra a gripe está disponível nos postos de vacinação desde 17 de abril.

“Mas isso não tira de maneira nenhuma a importância de tomar a vacina contra a gripe”, adverte Marilda. A virologista explica que é importante tomar a dose anualmente uma vez que a vacina contra o vírus Influenza, causador da gripe, não oferece uma imunidade duradoura.  Outro fator importante é que o vírus pode apresentar mutações de um ano para outro em seu genoma e as vacinas são "atualizadas"  para garantir uma proteção mais ampla à população.  “Então, tem que tomar este ano, de novo”, diz.

A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro reafirmou que a baixa procura pelos postos de saúde é motivo de preocupação entre especialistas, uma vez que, até o início desta semana, seis em cada dez pessoas que fazem parte dos grupos prioritários ainda não se vacinaram.

“Vivemos um momento em que as medidas preventivas são fundamentais. A baixa adesão à campanha ainda nos preocupa e precisamos alertar a população. Sabemos que a gripe é uma doença aparentemente simples, mas que pode evoluir gravemente, principalmente entre os grupos mais vulneráveis. A vacina é segura e está disponível em todas as redes municipais de saúde. É preciso entender que a prevenção é a melhor forma de evitar a doença”, alertou o secretário de estado de Saúde, Luiz Antonio Teixeira Jr.

Inverno

A proximidade do início do inverno, em 21 de junho, reforça a necessidade de ampliar a imunização. “O vírus Influenza já está circulando em várias regiões e as pessoas têm que ficar atentas para se protegerem”, insiste a virologista. Ela lembra que, no ano passado, mais de 2 mil pessoas morreram por Influenza no Brasil. Grande parte dos óbitos foi de pessoas elegíveis para tomar a vacina, ou seja, maiores de 60 anos de idade, crianças menores de 4 anos e pessoas com problemas de imunodeficiência, respiratórios ou cardíacos crônicos, além de diabéticos.

Neste ano, além dos profissionais de saúde, a campanha de vacinação incluiu o grupo dos professores para tomar a vacina. “Porque nós sabemos que, em qualquer país do mundo, os grandes distribuidores que espalham o vírus Influenza, no primeiro momento, são crianças em idade escolar. Como estão em ambientes fechados, elas contribuem muito para o espalhamento do vírus porque uma passa para a outra, para a professora, para a casa, para os pais. Elas contribuem muito no primeiro momento, assim que se inicia uma pandemia”, explica Marilda.

Mitos

Marilda Siqueira descarta a possibilidade de uma pessoa tomar a vacina e ficar gripada. A fórmula da vacina, esclareceu, é o vírus inativado, isto é, morto. Além disso, as proteínas do vírus são separadas. “Não tem como ele se multiplicar dentro da gente”.

O que ocorre, esclarece, é que nesta época do ano há vários outros vírus respiratórios circulando em vários estados brasileiros, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, apresentando sintomas que se confundem com os da gripe. “Tem gente que já está infectado pelo vírus Influenza [quando toma a vacina], tem gente que está ou vai ficar infectado por outros vírus respiratórios e aí as pessoas, às vezes, apresentam um quadro respiratório e dizem que é da vacina quando, na verdade, não é”.

O vírus Influenza é facilmente transmitido por meio de secreções das vias respiratórias ao falar, tossir ou espirrar e por meio do contato de objetos contaminados com a boca, olhos e nariz.  Desde janeiro, nove casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave, provocados por vírus da gripe, foram registrados no estado do Rio, sendo seis óbitos. O subsecretário de Vigilância em Saúde, Alexandre Chieppe, destacou o aumento da circulação do vírus Influenza B nos últimos meses. Ele lembrou que a vacina demora cerca de 15 dias para garantir a imunização completa e, por isso, é essencial que as pessoas se antecipem à chegada das temperaturas mais baixas.

“A imunização pela vacina é importante tanto para a própria pessoa, ao reduzir a possibilidade de agravamento da doença, com internações e óbito, quanto para seus familiares. É preciso lembrar que a gripe, na grande maioria dos casos, não apresenta complicações, mas entre os grupos prioritários, pode evoluir para formas mais graves. A prevenção é fundamental”, salientou Chieppe.

Edição: Amanda Cieglinski

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