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Brasil concorre a prêmio internacional com programa de cisternas

Letycia Bond – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 24/07/2017 - 16:59
Brasília
Cisterna construída na região do semiárido, na Paraíba - Foto Camila Bohem/Agência Brasil

Cisterna construída na região do Semiárido

Camila Bohem/Arquivo/Agência Brasil

O programa governamental Cisternas, que garante o acesso da população rural do Semiárido à água é um dos seis projetos que concorrem este ano ao Prêmio Internacional de Política para o Futuro (Future Policy Award, em nome original). A World Future Council, em parceria com a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos das Secas (UNCCD), deu destaque a 27 iniciativas oriundas de 18 países.

Apesar de estar na 10ª edição, é a primeira vez que a organização alemã aborda as políticas de subsistência em áreas de condições severas ocasionadas pela seca ou por inundações. O anúncio da classificação dos três primeiros lugares ocorrerá em 22 de agosto e será seguido pela solenidade de entrega dos prêmios, marcada para setembro, em Ordos, na China. A cerimônia integra a 13ª sessão da Conferência das Partes da UNCCD.

Morador da Agrovila Nova Esperança, em Ouricuri (PE), Adão Jesus de Oliveira está rodeado, há quase uma década, pelos feitos alcançados com a instalação das estruturas de captação e armazenamento de água. Com os equipamentos, Oliveira diz que é capaz de enfrentar o baixo volume pluviométrico até o fim do ano. “Temos as tecnologias de água de beber desde quando eu cheguei à comunidade. Antes, era muito difícil, para nós, conseguir água para consumo. Tínhamos que andar 6 quilômetros. Pegava fila de madrugada. Não dava para todo mundo”, lembra Oliveira.

Tudo começou em 2008, quando os moradores da região aderiram ao projeto piloto. Atualmente, eles dispõem de sete reservatórios grandes, cada um com capacidade para 52 mil litros.

A melhora na qualidade da água é claramente perceptível, diz Oliveira. Hoje, ele produz hortaliças e cria animais. “Foi muito importante, porque, desde lá, enfrentamos essa grande estiagem, mas nunca mais é água desconhecida. Sabemos a procedência. Não é todo ano que vem enchendo, mas é mais por causa da estiagem. Graças a Deus, estamos usando água da cisterna, beneficiando a comunidade.”

Segundo a Articulação Semiárido Brasileiro, a região semiárida ocupa 18,2% do território brasileiro, abrangendo um quinto dos municípios e 11,84% da população do país. Com o projeto Cisternas, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome promove a democratização do acesso à água a partir de duas linhas: a de consumo básico, para suprir as necessidades rotineiras, e a de produção, que permite o desenvolvimento da agricultura familiar.

Coexistem nos dois contextos os programas Um Milhão de Cisternas e Uma Terra e Duas Águas. Em seu âmbito, foram distribuídas cerca de 604 mil cisternas e 95 mil tecnologias, entre as de uso familiar e as de uso coletivo. Além disso, 4.726 cisternas foram erguidas em escolas.

Capacitação

O programa Uma Terra e Duas Águas inclui cursos que disseminam ensinamentos sobre manejo de animais, cuidados com a horta e uso de inseticidas naturais. As famílias recebem orientações, ainda, sobre a edificação dos diferentes modelos de reservatórios, que se dividem, conforme o diâmetro e dimensões, em barraginha, cisterna-enxurrada, bomba d’água popular, barragem subterrânea, cisterna-calçadão e tanque de pedra ou caldeirão.

A Asa ressalta que outras estratégias para a autonomia e a segurança alimentar e nutricional na região são os bancos de sementes, a estocagem de alimentos para os animais e a agrofloresta, aliada para a sustentabilidade ambiental. De acordo com a rede, é a partir do espírito de emancipação que agricultores-experimentadores se tornam agricultores-promotores.