Mães com doenças infecciosas podem manter amamentação durante tratamento
Nem todas as mães com doenças infecciosas devem interromper a amamentação de seus filhos, principalmente nos seis primeiros meses de vida. A contraindicação do aleitamento materno para mães com doenças transmissíveis, como tuberculose, hanseníase, influenza, entre outras, é desnecessária em muitos casos por falta de conhecimento, alerta a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Aproveitando as campanhas de agosto, considerado o mês “dourado” para a amamentação, a Sociedade atualizou o guia de orientação sobre a relação entre doenças infecciosas e o aleitamento materno. O argumento dos pediatras é de que a amamentação oferece muito mais benefícios do que riscos à vida da criança.
O guia classifica os diferentes tipos de infecção causadas por bactérias, parasitas ou vírus e orienta sobre a conduta que deve ser tomada em cada caso. “As doenças infecciosas precisam sempre ser atualizadas, porque novas pesquisas científicas são feitas e condutas anteriores, consideradas adequadas, podem mudar ao longo do tempo”, explica Graciete Vieira, uma das pediatras responsáveis pelo guia.
O documento foi elaborado pelo Departamento Científico de Aleitamento Materno da SBP, com o objetivo de orientar pediatras e profissionais de saúde na tomada da decisão pela interrupção ou manutenção do aleitamento, nos casos em que a mãe está infectada por alguma doença transmissível.
De acordo com o guia, o profissional de saúde deve se esforçar para que não seja feita a interrupção desnecessária do aleitamento materno. "Existe muita contraindicação desnecessária, então, de posse do conhecimento, é possível manter a amamentação, mesmo no caso de a mãe ser portadora de alguma doença infecciosa. Há um número muito limitado de doenças em que a amamentação está contraindicada” esclareceu a pediatra.
Segundo a médica, no Brasil, somente as mulheres portadoras do HIV (vírus da imunodeficiência humana) e do HTLV (vírus T-linfotrópico humano) têm contraindicação para amamentar os filhos. A restrição para essas doenças, no entanto, não é obrigatória em todos os países, que adotam a recomendação geral da Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Em outras partes do mundo, mesmo a mãe com HIV pode amamentar, e é recomendável amamentar com leite materno exclusivo. Ou seja, sem chá, água ou outro alimento, porque se você usar leite materno com outro alimento, pode determinar um processo inflamatório digestivo e favorecer a aquisição do vírus. Por outro lado, o leite materno exclusivo dará anticorpos e fatores de proteção contra doenças”, acrescentou Graciete.
Cuidados
Doenças como rubéola, caxumba, varicela ou catapora, influenza do tipo 1, estafilococos, streptococos, coqueluche, diarreia e até a tuberculose, entre outras, não apresentam o agente infeccioso no leite humano. Muitas são transmitidas pelo contato da criança com secreções nasais e da pele da mãe. Nesses casos, a mãe pode tomar alguns cuidados para não interromper a alimentação da criança com o leite materno.
“Por exemplo, no caso da tuberculose, ela é transmitida por gotículas respiratórias, o bacilo vai estar presente nas gotículas de espirro ou de tosse. Não está presente no leite materno, mas é preciso alguns cuidados. Se a mãe está fazendo uso de medicamentos contra tuberculose e já faz uso há duas semanas, ela pode amamentar sem problemas. Mas, se for antes dessas duas semanas, ela tem que fazer isolamento respiratório, pode amamentar com máscaras para evitar que essa criança se infeccione”, orienta a médica.
Ela acrescenta que, durante o isolamento da tuberculose ou de qualquer outra doença que demande tratamento específico, como a hanseníase, a mãe pode retirar o leite e oferecê-lo na forma crua, sem o processo de pasteurização, para o recém-nascido. A retirada deve ser feita de sete a oito vezes por dia para que a mãe mantenha a lactação e não cesse a produção de leite depois que estiver curada.
A SBP alerta que mesmo no caso das doenças em que o vírus se aloja no leite, há a possibilidade de manter o aleitamento. É o caso da zika, chicungunya, dengue e febre amarela, por exemplo.
“A presença de partículas virais no leite não significa que a doença vai ser transmitida para a criança. Ela vai ingerir essas partículas junto com o leite materno, elas vão passar pelo estômago, sofrer a ação do próprio suco gástrico e enzimas, e assim, perdem o poder de infecção”, lembrou Graciete Vieira.
Outros tipos de condutas que podem ser adotados por mães lactantes e garantir a amamentação com segurança são o uso da imunoglobulina, a vacinação da criança logo após o nascimento no caso de pacientes com hepatite B, o uso de máscaras e a lavagem constante das mãos.
Mais informações a respeito das doenças e das contraindicações para o aleitamento podem ser vistas diretamente no documento, disponível no site da SBP.